Retardo mental: causas e sintomas

O retardo mental supõe uma deficiência nos níveis cognitivo, comportamental e sensorial, que reduz a habilidade de adaptação social. Examinaremos especificamente o que é o retardo mental e por que ele ocorre.
Retardo mental: causas e sintomas
Bernardo Peña

Escrito e verificado por el psicólogo Bernardo Peña.

Última atualização: 19 julho, 2021

As definições de retardo mental geralmente seguem dois critérios:

  • Psicométrico-estatístico, baseado na possibilidade oferecida pelos testes de inteligência para avaliar o funcionamento intelectual de forma confiável e preditiva.
  • Comportamento adaptativo, baseado na capacidade de adaptação ao ambiente, que não necessariamente se correlaciona com as pontuações em testes de inteligência.

O que é retardo mental?

A APA ou Associação Americana de Psiquiatria , nos DSMs, define os sintomas essenciais deste transtorno como:

  • Capacidade intelectual geral bem abaixo da média: QI igual ou inferior a 70.
  • Déficit significativo ou deterioração da capacidade adaptativa: depende da eficiência demonstrada pela pessoa em determinadas áreas de seu comportamento, tais como:
    • Habilidades sociais.
    • Comunicação.
    • Habilidade para resolver problemas cotidianos.
    • Independência pessoal.
    • Responsabilidade social em relação à sua idade e grupo cultural.
  • Início antes dos 18 anos: Quando um quadro clínico semelhante aparece pela primeira vez após os 18 anos, este constitui demência ou alteração irreversível das funções intelectuais previamente adquiridas, e não retardo mental.

Os sintomas comportamentais mais comuns incluem:

  • Passividade.
  • Dependência.
  • Baixa autoestima, principalmente em crianças com retardo leve.
  • Baixa tolerância à frustração.
  • Agressividade.
  • Dificuldade em controlar impulsos.
  • Comportamentos estereotipados, automutilantes e autoestimulantes.

O desenvolvimento do retardo mental ocorre em função dos fatores biológicos subjacentes que o causaram, e também dos aspectos ambientais. Esses últimos referem-se às oportunidades educacionais, estímulo ambiental, planejamento e execução do tratamento dispensado, etc.

Desta forma, com uma influência ambiental otimizada o desempenho do indivíduo pode melhorar. No entanto, com influência ambiental prejudicial, pode se deteriorar.

Síndrome de Down.

Complicações do retardo mental

Em termos de complicações, os indivíduos com retardo mental são mais propensos a transtornos generalizados de desenvolvimento (autismo), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, estereotipias, reações de adaptação e principalmente epilepsia, sendo a probabilidade de início desta última mais elevada com uma maior gravidade do retardo mental.

Dependendo da gravidade, quatro tipos de retardo mental são distinguidos:

  • Leve ou ‘educável’ (QI de 50-55 a 70), ocorrem em 85% das pessoas afetadas. A maioria dos casos não possui etiologia somática conhecida, sendo este tipo considerado como relacionado a fatores sociofamiliares e culturais.
  • Moderado ou ‘treinável’ (IQ 35-40 a 50-55), constitui 10% das pessoas afetadas.
  • Em seguida, sério ou ‘imbecilidade’ (IQ 20-25 a 35-40).
  • Por último, profundo ou ‘idiotia’ (QI abaixo de 20-25).

Uma faixa de QI entre 71 e 84 é considerada uma capacidade intelectual limítrofe.

Causas do retardo mental

O retardo mental é um fenômeno de etiologia multifatorial, com diversos fatores orgânicos e ambientais que podem causar o transtorno, sem esquecer que muitas vezes ele pode ser consequência dos efeitos combinados de diversos elementos. Os fatores etiológicos (causas) mais frequentes são os seguintes:

Fatores genéticos

Os fatores genéticos explicam aproximadamente 50% dos casos em que é possível isolar uma etiologia. As alterações mais frequentes estão listadas abaixo:

  • Aberrações cromossômicas. A mais comum é a síndrome de Down, causada pela presença de um grupo acessório de genes no cromossomo 21. Outros exemplos, são as síndromes de Klinefelter ou a síndrome de Turner.
  • Anormalidades genéticas específicas. As mais comuns envolvem uma quantidade insuficiente de uma determinada enzima. São, portanto, distúrbios do metabolismo, incluindo galactosemia, fenilcetonúria ou síndromes associadas a distúrbios no armazenamento de lipídios, por exemplo.

Causas culturais e familiares

Para classificar um indivíduo como deficiente cultural-familiar, é necessário que:

  • O retardo seja moderado.
  • Não hajam evidências de patologia cerebral.
  • Devem haver evidências de mau funcionamento intelectual em pelo menos um dos pais e um ou mais irmãos, caso eles existam.

Existem duas explicações para este atraso cultural-familiar :

  • A primeira é a genética. A inteligência é distribuída na população em geral de acordo com a curva normal. Se o pai de uma criança está na extremidade inferior da curva, há uma probabilidade maior de que a inteligência de sua prole esteja abaixo do normal. Se ambos os pais estiverem neste extremo, essa probabilidade aumentará.
  • A segunda explicação é baseada no ambiente. Os irmãos de uma determinada família podem enfrentar adversidades sociais e ambientais, como pobreza, desnutrição, privação ambiental, privação verbal, cuidados médicos precários, baixas expectativas de sucesso, etc.

A maioria das pessoas com retardo mental moderado vem de famílias de renda muito baixa, com desvantagens socioambientais e educativas. Conforme essa explicação, haveria um potencial anatômico fisiológico adequado e utilizável, mas não é possível desenvolvê-lo por razões socioculturais.

Atualmente, acredita-se que o comportamento da criança seja determinado por uma interação de influências ambientais e genéticas.

Fatores Ambientais

Estes podem ser classificados nos que ocorrem antes do parto (pré-natal), durante o parto (perinatal) e após o nascimento (pós-natal):

Feto no útero, placenta.

Fatores pré-natais

As primeiras oito semanas de desenvolvimento são de vital importância. A exposição do embrião a certos agentes durante este período crítico de desenvolvimento pode causar malformações graves e retardo mental. Alguns dos fatores pré-natais mais estudados são:

  • Baixo peso ao nascer: foi claramente estabelecida uma relação entre o baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg) e um risco aumentado de comprometimento das funções mentais. Alguns dos fatores que causam baixo peso ao nascer são:
    • Desnutrição.
    • Tabaco.
    • Álcool.
    • Partos múltiplos.
    • Idade da mãe: menos de 16 ou mais de 40 anos.
    • Número de partos anteriores da mãe.
    • Ganho de peso da mãe.
    • Estresse materno.
  • Diabetes: embora filhos de mães diabéticas não sofram de baixo peso ao nascer, já que apresentam um evidente sobrepeso, eles manifestam um alto risco de déficits neurológicos e intelectuais, além de outros problemas.
  • Infecções maternas: as infecções maternas que ocorrem durante o período pré-natal podem causar retardo mental, pois podem afetar o desenvolvimento do SNC. Por exemplo:
    • Rubéola.
    • Sífilis.
    • Citomegalovírus.
    • Toxoplasmose.
    • Toxemia.
  • Sensibilização Rh a partir da segunda gravidez.

Fatores perinatais

  • Anóxia ou hipóxia: é um estado em que uma quantidade insuficiente de oxigênio chega aos tecidos, podendo afetar o SNC.
  • Trauma mecânico: se o bebê estiver em uma posição desfavorável no momento do nascimento, os instrumentos ou técnicas usados para o parto podem causar traumas físicos que podem levar a danos cerebrais. Para evitar isso, as cesarianas são cada vez mais realizadas.
  • Prematuridade: bebês nascidos com menos de 37 semanas ou 2,5 kg de peso são considerados de alto risco porque apresentam taxas de mortalidade mais elevadas e são mais suscetíveis a lesões no SNC.
  • Infecção: por exemplo a herpes transmitida por via vaginal durante o parto, meningite bacteriana, etc.

Fatores pós-natais

Os mais notáveis são:

  • Desnutrição.
  • Infecções, como meningite, rubéola, encefalite, etc.
  • Venenos: envenenamento por chumbo e mercúrio são duas das causas mais comuns de lesão cerebral.
  • Traumas físicos: as duas causas mais comuns são abusos físicos e acidentes de carro.

Por último, alguns fatores ambientais de cunho psicológico-educacional podem ser citados, como a falta de meios e materiais em casa para promover a aprendizagem, baixas expectativas de sucesso, falta de estimulo à criança durante o seu desenvolvimento, etc.

Conclusões sobre o retardo mental

Em conclusão, o retardo mental implica numa deficiência cognitiva e sensorial que acarreta uma dificuldade de adaptação social. Suas causas são múltiplas, e cada vez mais as investigações mostram informações interessantes.

Por fim, cabe observar que o retardo mental deve ser tratado o mais rápido possível. Dessa forma,  terapias psicoeducacionais podem ajudar a estimular essas crianças.



  • Artigas-Pallarés, J. (2003). Perfiles cognitivos de la inteligencia límite. Fronteras del retraso mental. Rev Neurol36(1), 161-167.
  • Basile, H. (2008). Retraso mental y genética Síndrome de Down. Revista argentina de clínica neuropsiquiátrica15(1), 9-23.
  • Horjales, I., & Lorente, A. P. (1993). Impacto y consecuencias psicopatológicas del retraso mental en la familia. Revista complutense de educación4(2), 67-96.

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