Retardo mental: causas e sintomas
As definições de retardo mental geralmente seguem dois critérios:
- Psicométrico-estatístico, baseado na possibilidade oferecida pelos testes de inteligência para avaliar o funcionamento intelectual de forma confiável e preditiva.
- Comportamento adaptativo, baseado na capacidade de adaptação ao ambiente, que não necessariamente se correlaciona com as pontuações em testes de inteligência.
O que é retardo mental?
A APA ou Associação Americana de Psiquiatria , nos DSMs, define os sintomas essenciais deste transtorno como:
- Capacidade intelectual geral bem abaixo da média: QI igual ou inferior a 70.
- Déficit significativo ou deterioração da capacidade adaptativa: depende da eficiência demonstrada pela pessoa em determinadas áreas de seu comportamento, tais como:
- Habilidades sociais.
- Comunicação.
- Habilidade para resolver problemas cotidianos.
- Independência pessoal.
- Responsabilidade social em relação à sua idade e grupo cultural.
- Início antes dos 18 anos: Quando um quadro clínico semelhante aparece pela primeira vez após os 18 anos, este constitui demência ou alteração irreversível das funções intelectuais previamente adquiridas, e não retardo mental.
Os sintomas comportamentais mais comuns incluem:
- Passividade.
- Dependência.
- Baixa autoestima, principalmente em crianças com retardo leve.
- Baixa tolerância à frustração.
- Agressividade.
- Dificuldade em controlar impulsos.
- Comportamentos estereotipados, automutilantes e autoestimulantes.
O desenvolvimento do retardo mental ocorre em função dos fatores biológicos subjacentes que o causaram, e também dos aspectos ambientais. Esses últimos referem-se às oportunidades educacionais, estímulo ambiental, planejamento e execução do tratamento dispensado, etc.
Desta forma, com uma influência ambiental otimizada o desempenho do indivíduo pode melhorar. No entanto, com influência ambiental prejudicial, pode se deteriorar.
Complicações do retardo mental
Em termos de complicações, os indivíduos com retardo mental são mais propensos a transtornos generalizados de desenvolvimento (autismo), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, estereotipias, reações de adaptação e principalmente epilepsia, sendo a probabilidade de início desta última mais elevada com uma maior gravidade do retardo mental.
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Dependendo da gravidade, quatro tipos de retardo mental são distinguidos:
- Leve ou ‘educável’ (QI de 50-55 a 70), ocorrem em 85% das pessoas afetadas. A maioria dos casos não possui etiologia somática conhecida, sendo este tipo considerado como relacionado a fatores sociofamiliares e culturais.
- Moderado ou ‘treinável’ (IQ 35-40 a 50-55), constitui 10% das pessoas afetadas.
- Em seguida, sério ou ‘imbecilidade’ (IQ 20-25 a 35-40).
- Por último, profundo ou ‘idiotia’ (QI abaixo de 20-25).
Uma faixa de QI entre 71 e 84 é considerada uma capacidade intelectual limítrofe.
Causas do retardo mental
O retardo mental é um fenômeno de etiologia multifatorial, com diversos fatores orgânicos e ambientais que podem causar o transtorno, sem esquecer que muitas vezes ele pode ser consequência dos efeitos combinados de diversos elementos. Os fatores etiológicos (causas) mais frequentes são os seguintes:
Fatores genéticos
Os fatores genéticos explicam aproximadamente 50% dos casos em que é possível isolar uma etiologia. As alterações mais frequentes estão listadas abaixo:
- Aberrações cromossômicas. A mais comum é a síndrome de Down, causada pela presença de um grupo acessório de genes no cromossomo 21. Outros exemplos, são as síndromes de Klinefelter ou a síndrome de Turner.
- Anormalidades genéticas específicas. As mais comuns envolvem uma quantidade insuficiente de uma determinada enzima. São, portanto, distúrbios do metabolismo, incluindo galactosemia, fenilcetonúria ou síndromes associadas a distúrbios no armazenamento de lipídios, por exemplo.
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Causas culturais e familiares
Para classificar um indivíduo como deficiente cultural-familiar, é necessário que:
- O retardo seja moderado.
- Não hajam evidências de patologia cerebral.
- Devem haver evidências de mau funcionamento intelectual em pelo menos um dos pais e um ou mais irmãos, caso eles existam.
Existem duas explicações para este atraso cultural-familiar :
- A primeira é a genética. A inteligência é distribuída na população em geral de acordo com a curva normal. Se o pai de uma criança está na extremidade inferior da curva, há uma probabilidade maior de que a inteligência de sua prole esteja abaixo do normal. Se ambos os pais estiverem neste extremo, essa probabilidade aumentará.
- A segunda explicação é baseada no ambiente. Os irmãos de uma determinada família podem enfrentar adversidades sociais e ambientais, como pobreza, desnutrição, privação ambiental, privação verbal, cuidados médicos precários, baixas expectativas de sucesso, etc.
A maioria das pessoas com retardo mental moderado vem de famílias de renda muito baixa, com desvantagens socioambientais e educativas. Conforme essa explicação, haveria um potencial anatômico fisiológico adequado e utilizável, mas não é possível desenvolvê-lo por razões socioculturais.
Atualmente, acredita-se que o comportamento da criança seja determinado por uma interação de influências ambientais e genéticas.
Fatores Ambientais
Estes podem ser classificados nos que ocorrem antes do parto (pré-natal), durante o parto (perinatal) e após o nascimento (pós-natal):
Fatores pré-natais
As primeiras oito semanas de desenvolvimento são de vital importância. A exposição do embrião a certos agentes durante este período crítico de desenvolvimento pode causar malformações graves e retardo mental. Alguns dos fatores pré-natais mais estudados são:
- Baixo peso ao nascer: foi claramente estabelecida uma relação entre o baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg) e um risco aumentado de comprometimento das funções mentais. Alguns dos fatores que causam baixo peso ao nascer são:
- Desnutrição.
- Tabaco.
- Álcool.
- Partos múltiplos.
- Idade da mãe: menos de 16 ou mais de 40 anos.
- Número de partos anteriores da mãe.
- Ganho de peso da mãe.
- Estresse materno.
- Diabetes: embora filhos de mães diabéticas não sofram de baixo peso ao nascer, já que apresentam um evidente sobrepeso, eles manifestam um alto risco de déficits neurológicos e intelectuais, além de outros problemas.
- Infecções maternas: as infecções maternas que ocorrem durante o período pré-natal podem causar retardo mental, pois podem afetar o desenvolvimento do SNC. Por exemplo:
- Rubéola.
- Sífilis.
- Citomegalovírus.
- Toxoplasmose.
- Toxemia.
- Sensibilização Rh a partir da segunda gravidez.
Fatores perinatais
- Anóxia ou hipóxia: é um estado em que uma quantidade insuficiente de oxigênio chega aos tecidos, podendo afetar o SNC.
- Trauma mecânico: se o bebê estiver em uma posição desfavorável no momento do nascimento, os instrumentos ou técnicas usados para o parto podem causar traumas físicos que podem levar a danos cerebrais. Para evitar isso, as cesarianas são cada vez mais realizadas.
- Prematuridade: bebês nascidos com menos de 37 semanas ou 2,5 kg de peso são considerados de alto risco porque apresentam taxas de mortalidade mais elevadas e são mais suscetíveis a lesões no SNC.
- Infecção: por exemplo a herpes transmitida por via vaginal durante o parto, meningite bacteriana, etc.
Fatores pós-natais
Os mais notáveis são:
- Desnutrição.
- Infecções, como meningite, rubéola, encefalite, etc.
- Venenos: envenenamento por chumbo e mercúrio são duas das causas mais comuns de lesão cerebral.
- Traumas físicos: as duas causas mais comuns são abusos físicos e acidentes de carro.
Por último, alguns fatores ambientais de cunho psicológico-educacional podem ser citados, como a falta de meios e materiais em casa para promover a aprendizagem, baixas expectativas de sucesso, falta de estimulo à criança durante o seu desenvolvimento, etc.
Conclusões sobre o retardo mental
Em conclusão, o retardo mental implica numa deficiência cognitiva e sensorial que acarreta uma dificuldade de adaptação social. Suas causas são múltiplas, e cada vez mais as investigações mostram informações interessantes.
Por fim, cabe observar que o retardo mental deve ser tratado o mais rápido possível. Dessa forma, terapias psicoeducacionais podem ajudar a estimular essas crianças.
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