Depressão: principais sintomas e características

Talvez você conheça pessoas que sofreram de depressão, ou outras que sofrem sem saber. Essa doença apresenta uma série de sintomas e características muito distantes do que supõe a sabedoria popular. Vejamos quais são esses sintomas.
Depressão: principais sintomas e características
Bernardo Peña

Escrito e verificado por el psicólogo Bernardo Peña.

Última atualização: 21 agosto, 2021

O estado de ânimo deprimido é uma das condições psicopatológicas mais comuns. No entanto, sentir-se triste ou desanimado não é suficiente para diagnosticar depressão, pois existem outros critérios que também são importantes, como anedonia ou desinteresse, além de uma visão de mundo carregada de negatividade ou pessimismo. A verdade é que os sintomas podem ser muito variados, dependendo de cada pessoa.

Por outro lado, é importante diferenciar a depressão como sintoma (presente na maioria dos quadros psicopatológicos e outras condições médicas), da depressão como transtorno. A seguir nos aprofundaremos nesse assunto.

Mulher com depressão na cama.

Sintomas da depressão

A depressão é uma realidade muito complexa que pode se manifestar por meio dos seguintes sintomas:

Sintomas emocionais

A tristeza é um dos sintomas mais frequentes, embora sentimentos de frustração e irritabilidade também constumem aparecer. Nos casos mais graves, a pessoa nega que seja esse o fato, mas ao mesmo tempo afirma que não consegue sentir nada.

Outro sintoma emocional característico é a sensação de vazio e perda de sentido na vida. Nada preenche ou satisfaz.

Sintomas motivacionais

Pessoas com depressão costumam se encontrar em um estado de inibição em que predominam sintomas como apatia, indiferença, falta de interesse ou motivação, entre outros. Elas deixaram de desfrutar de atividades que antes eram agradáveis, perdendo o interesse por tudo. Para elas, fazer coisas simples como sair da cama são tarefas impossíveis.

Por isso, é comum que elas abandonem a escola, o trabalho ou tenham sérias dificuldades para tomar decisões. Com níveis de energia tão baixos (catecolaminas e serotonina), o custo por unidade de esforço é tão alto que custa muito realizar qualquer atividade.

Sintomas cognitivos

A avaliação que a pessoa deprimida faz de si mesma e de seu entorno é negativa, devido à presença de vieses cognitivos negativos para interpretar a realidade. Dessa forma, a autoestima delas também é afetada.

A desesperança (visão pessimista do futuro) está sempre presente, o que pode levar a ideias suicidas em alguns casos. Paradoxalmente, o maior risco de suicídio não ocorre durante o momento mais grave da crise depressiva, mas sim alguns meses após a remissão dos sintomas.

Sintomas físicos

São muito comuns e costumam ser um dos principais motivos para a procura de ajuda profissional.

Entre os mais comuns estão a insônia (principalmente terminal), hipersonia (sonolência excessiva), fadiga ou perda de peso e apetite. Também pode ocorrer uma diminuição da libido e alterações na resposta sexual, como impotência em homens ou anorgasmia em mulheres, entre outras.

Queixas difusas como dores de cabeça, constipação ou náusea são bastante comuns na depressão. Esses sintomas significam que, em muitas ocasiões, o clínico geral é o primeiro profissional a receber esses pacientes.

Aparentemente o padrão de sintomas das pessoas que consultam um especialista é diferente daquelas que não o fazem. Assim, embora o estado de ânimo nos dois grupos seja semelhante, os que procuram um profissional de saúde apresentam maiores sintomas somáticos. Por isso, a presença desse tipo de sintomas pode ser considerada como a linha divisória entre a depressão “normal” e a depressão “clínica”.

Muitos profissionais, especialmente psiquiatras, argumentam que aproximadamente metade dos transtornos depressivos podem se apresentar de forma mascarada, na forma de uma doença somática. No entanto, o conceito de depressão mascarada é confuso e difícil de provar empiricamente.

Sintomas psicomotores

A depressão geralmente é acompanhada por uma diminuição da atividade geral. As formas graves geralmente são acompanhadas de retardo psicomotor. Trata-se de uma desaceleração generalizada nas respostas motoras, fala, gestos, etc. Em alguns casos, os estados de mutismo ou inatividade quase total (estupor depressivo) podem parecer semelhantes aos estados catatônicos da esquizofrenia. Mas também podem aparecer estados de agitação e inquietação.

Descubra: Fluoxetina

Outros sintomas

A ansiedade pode aparecer como um sintoma na depressão, o que em alguns casos torna difícil diferenciar se o paciente apresenta um transtorno de ansiedade ou de humor, uma vez que os sintomas se sobrepõem e ambos respondem aos mesmos medicamentos (SSRIs).

Portanto, pode ser difícil fazer um diagnóstico diferencial entre ambos. Além disso, a condição psicopatológica mais comum no ambiente comunitário é o transtorno ansioso-depressivo misto, incluído no CID da OMS.

Vieses de atenção e memória

A ansiedade e a depressão diferem nos padrões cognitivos e de ativação cortical.

Na ansiedade prevalecem os problemas atencionais, e na depressão os de memória. Especificamente, pessoas com ansiedade apresentam uma grande facilidade de associar sinais neutros ou ambíguos a reações de medo e alarme. Isso se deve em parte à sua hipervigilância atencional e sensibilidade ao perigo.

Pessoas com ansiedade apresentam um viés atencional que opera automaticamente no processamento das informações. Na verdade, elas têm um melhor desempenho em testes de atenção (vigilância, seleção, etc.).

Na depressão, a pessoa tende a lembrar e interpretar a realidade nos termos de seu estado de ânimo negativo, portanto, está mais relacionada a problemas de memória. Por outro lado, a falta de afeto positivo típica da depressão tem seu correlato cerebral no déficit de ativação frontal esquerdo.

Até agora, a diferenciação entre ansiedade e depressão é problemática, mas vejamos o que acontece nas áreas cerebrais posteriores: a depressão suprime a função do hemisfério direito parietotemporal, que é ativado em estados de processamento emocional (por exemplo, no processamento de expressões faciais), enquanto a ansiedade aumenta a ativação desta área.

Mulher chorando.

Funcionamento interpessoal

As relações interpessoais e sociais são prejudicadas. A depressão está associada à rejeição de outras pessoas e à piora no comportamento social.

Algumas pessoas com depressão apresentam déficits anteriores nessa área e, para outras, a eficácia interpessoal diminui como resultado desse transtorno. Essa baixa habilidade social torna as interações insatisfatórias para os outros, estando associada a respostas negativas por parte deles.

Se levarmos em conta a perspectiva que afirma que as relações interpessoais são e se mantém por uma troca de elementos reforçadores entre elas, no caso das pessoas com depressão, as demais perdem a motivação em interagir porque elas contribuem com um número mínimo ou nulo de reforçadores. Isso provoca a diminuição do comportamento social e a permanência em um círculo vicioso que piora os relacionamentos e favorece comportamentos de rejeição.

Um aspecto importante é que o funcionamento interpessoal inadequado é considerado um preditor de uma pior evolução da depressão.

Comentários finais sobre a depressão

A depressão está associada a um risco aumentado de morbidade e mortalidade (em alguns estudos até quatro vezes maior) por várias doenças, levando a um maior número de mortes precoces.

O risco de suicídio é 21 vezes maior em pessoas com depressão. Especificamente, na Europa ela representa mais de 7% da mortalidade prematura, além de ser considerada a principal causa de incapacidade no mundo pela OMS.



  • Gálvez, A. L. B., Erazo, L. R., González, M. C. B., & Carrillo, M. I. O. (2017). Activación conductual para el control de la depresión en pacientes oncológicos: una revisión. Psicooncología: investigación y clínica biopsicosocial en oncología14(2), 203-216.
  • Llanes Torres, H. M., Sepúlveda, Y. L., Vázquez Aguilar, J. L., & Hernández Pérez, R. (2015). Factores psicosociales que inciden en la depresión del adulto mayor. Medimay21(1), 65-74.
  • Segal, Z., Williams, M., & Teasdale, J. (2015). Terapia cognitiva basada en el mindfulness para la depresión. Editorial Kairós.

Este texto se ofrece únicamente con propósitos informativos y no reemplaza la consulta con un profesional. Ante dudas, consulta a tu especialista.