Demências: tipos, características e sintomas
As demências são uma deterioração adquirida, crônica e generalizada das funções cognitivas, que afeta duas ou mais das seguintes áreas: memória, capacidade de resolver problemas, realização de atividades perceptivo-motoras, uso de habilidades cotidianas e controle emocional.
O problema é causado por lesões cerebrais, sem que inicialmente seja percebida uma perturbação a nível de consciência. A gravidade do déficit cognitivo na demência interfere no funcionamento familiar, social e ocupacional normal do indivíduo.
Características das demências
As demências têm suas próprias características particulares, a saber:
- Existe uma alteração global das capacidades cognitivas adquiridas. Por exemplo a deterioração do pensamento, memória, raciocínio, linguagem, cálculo, orientação, atenção, etc.
- O declínio cognitivo é progressivo. Cada vez mais, percebe-se um maior número de funções afetadas e um maior grau de deterioração.
- A perda de memória costuma ser o sintoma mais característico, especialmente nos estágios iniciais.
- Elas são acompanhadas por afasia, agnosia ou apraxia.
- A alteração de uma função mental de forma isolada não é considerada como demência.
- Elas são de natureza crônica, com duração superior a 6 meses.
- Não há deterioração do nível de consciência.
- Elas interferem na autonomia e na qualidade de vida do indivíduo.
- No início do quadro, a pessoa tem consciência da sua doença.
- Trata-se de um processo irreversível.
- Elas envolvem hemisférios e grandes áreas do cérebro.
Todas as funções sensoperceptivas, cognitivas, motoras e comportamentais podem ser afetadas nos quadros de demência. O Alzheimer é a demência mais frequente, correspondendo a 3/4 dos casos; em seguida estão a demência vascular e doença de Parkinson.
O aumento da expectativa de vida transformou as demências em um problema de saúde pública, à medida em que mais e mais pessoas chegam à terceira idade. Os neuropsicólogos estimam que 1/4 dos idosos com mais de 85 anos têm algum tipo de demência.
Manifestações clínicas da demência
Existem vários sintomas comuns a todas as demências. Nós os agruparemos de acordo com a capacidade ou habilidade afetada, para facilitar a compreensão:
- Memória: os problemas de memória costumam ser o primeiro sintoma da demência. A memória recente é especialmente afetada, e são melhor preservadas as memórias de longo prazo e implícita.
- Linguagem: é observado um acentuado empobrecimento da linguagem, bem como da iniciativa comunicativa. Em muitos casos, esses sintomas podem ser confundidos com depressão. No entanto, a incompetência linguística é resultante dos danos cerebrais difusos.
- Aparecimento de apraxias ou incapacidade de realizar habilidades previamente aprendidas: nas demências, as apraxias geralmente ocorrem nos estágios finais da doença. Desta forma, as pessoas se esquecem de como se vestir, comer, tomar banho, etc.
- Presença de agnosia ou incapacidade de reconhecer os estímulos que chegam através dos sentidos. Por exemplo, eles não são mais capazes de reconhecer rostos familiares (prosopagnosia), ou são incapazes de se orientar no tempo e no espaço (agnosia temporal e espacial).
- Problemas de cálculo ou acalculia.
- Alteração das funções executivas: manifesta-se na incapacidade de planejar ou autorregular o comportamento de acordo com o espaço e o momento presente. Existe uma falha no estabelecimento de metas e uma dificuldade de raciocínio.
- Transtornos psicológicos: os mais frequentes são alucinações, paranoia, tendência a fugir e vagar, mutismo, pseudo depressão, passividade, egocentrismo, ansiedade e depressão.
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Como distinguir depressão de demência
Nos transtornos depressivos ocorre uma aparente perda das funções intelectuais. Dessa forma, eles receberam a denominação de pseudo demências. Muitas vezes, existe uma dificuldade no diagnóstico diferencial entre depressão e demência. Além disso, alguns sintomas se sobrepõem nas duas condições :
Depressão | Demência | |
Início | Justificada por acontecimentos passados ou presentes. Histórico de depressão. | Não existem antecedentes que justifiquem o aparecimento da doença. |
Começo e progressão | Rápido ou agudo. | Lento e oculto (insidioso). |
Duração | Menos de 6 meses. | Mais de 6 meses. |
Temporalidade | A depressão é anterior ao declínio cognitivo e funcional. | A deterioração cognitiva e funcional precede a depressão. |
Conscientização sobre a doença | Existe consciência. | Não existe consciência. |
Culpabilidade | A pessoa se culpa e se preocupa com os sintomas. | A pessoa culpa os outros e não se preocupa com seus sintomas. |
Queixas | A pessoa reclama. | A pessoa não faz reclamações, ou estas são muito raras. |
Deficiência cognitiva | Problemas gerais de memória. | Déficits na memória recente e piora progressiva. |
Afasias e agnosias | Inexistente. | Presente. |
Tipos de demências
As demências podem ser classificadas de acordo com os danos que elas causam ou onde esses danos estão presentes. A classificação mais utilizada é a que se refere à localização das lesões, o que permite dividi-las em demências corticais, subcorticais e axiais.
Demências corticais
Esse tipo de demência ocorre, sobretudo, por lesões na área temporoparietooccipital e no lobo frontal associativo. Elas geralmente se manifestam como transtornos neuropsiquiátricos que se iniciam com problemas de memória, e, progressivamente, são manifestados distúrbios como afasias, apraxias e agnosias. Além disso, podem aparecer alterações psicológicas.
Finalmente, a deterioração cognitiva é devastadora, embora inicialmente possa ser mascarada porque a evolução é progressiva e os sintomas aparecem lentamente. Entre essas demências encontramos o Alzheimer. É muito comum que o indivíduo não tenha conhecimento das deficiências que apresenta depois que a doença tenha progredido para além dos estágios iniciais
Demências subcorticais
Como o próprio nome sugere, nessas demências, o dano ocorre abaixo do córtex; mais especificamente, em estruturas como os gânglios da base, o tálamo ou o tronco cerebral. Inicialmente, não ocorrem manifestações afásicas, apráxicas ou agnósticas, mas sim uma falta de espontaneidade e fluência psicomotora e cognitiva. Ela é acompanhada por transtornos extrapiramidais como tremores, discinesia ou acatisia.
Mais tarde, é comum a manifestação de entorpecimento e desaceleração dos processos cognitivos. A doença também está associada a problemas de humor e estado de ânimo, bem como à incapacidade de realizar atividades ou pensamentos complexos. Esses tipos de manifestações clínicas são características de demências como o Parkinson.
Demências axiais
Segundo Portellano, elas são causadas por lesões a estruturas localizadas no eixo médio do encéfalo, como hipocampo, hipotálamo, fórnix ou corpos mamilares. Eles provocam a perda da memória de fixação, perda de iniciativa e falta de preocupação com o entorno.
O paradigma das demências axiais é a encefalopatia de Wernicke-Korsakoff. O aspecto do indivíduo com este tipo de demência é aparentemente normal, embora seja observada uma perda progressiva da iniciativa.
Geralmente, ela é causada pelo consumo abusivo de álcool, desenvolvendo-se depois de 15-20 anos de consumo contínuo. Ela se manifesta por uma alteração frontal, com perda de motivação, dificuldade de julgamento, distúrbios de atenção e memória recente, etc.
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Conclusões sobre as demências
Em conclusão, as demências são distúrbios neuropsicológicos caracterizados por um declínio global dos processos cognitivos. Além disso, seu início é insidioso, progressivo e irreversível, na maioria dos casos. Elas geralmente ocorrem em idades mais avançadas, após os 65 anos de idade; no entanto, estão sendo relatados casos cada vez mais precoces.
Infelizmente, não existe um tratamento que possa reverter o processo de demência. No entanto, a estimulação cognitiva, a reabilitação neuropsicológica e a psicoterapia podem diminuir o impacto subjetivo da doença e retardar a progressão da mesma.
- Beteta, E. (2004). Neuropatología de las demencias. Revista de neuro-psiquiatría, 67, 80-105.
- Lasprilla, J. C. A., Guinea, S. F., & Ardila, A. (2003). Las demencias: aspectos clínicos, neuropsicológicos y tratamiento. El Manual Moderno.
- Portellano, J. (2005). Introducción a la neuropsicología. Madrid, ed: McGraw Hill.