Transtornos de sexualidade: características principais

Os transtornos sexuais podem alterar significativamente a nossa saúde física ou emocional, além de serem muito limitantes. Descubra quais são os principais tipos a seguir.
Transtornos de sexualidade: características principais
Bernardo Peña

Escrito e verificado por el psicólogo Bernardo Peña.

Última atualização: 19 julho, 2021

Os transtornos de sexualidade são aqueles que têm a ver com uma disfunção na resposta sexual (excitação, orgasmo…), ou com um desvio do objeto sexual (pedofilia, fetichismo…).

Desta forma, estão reunidos todos os transtornos derivados da identidade sexual da pessoa. Neste artigo veremos os principais transtornos de sexualidade, suas características, sintomas e possíveis causas.

Tipos de transtornos de sexualidade

Existem vários tipos de trastornos de sexualidade. Entre eles encontramos:

  1. Disforia de gênero: ocorre quando o indivíduo manifesta ser de um sexo diferente do biológico.
  2. Parafilias: atividade sexual dirigida a objetos e/ou situações incomuns.
  3. Disfunções sexuais: inibições do desejo e outros distúrbios do ciclo de resposta sexual.

Transtornos de sexualidade: disforia de gênero

Disforia, sexualidade de gênero.

Antigamente era denominada como Transtorno da Identidade Sexual. É definida como a discordância de um indivíduo em relação ao seu sexo biológico, pelo fato de haver uma identificação persistente ou por assumir que pertence ao sexo oposto. Essa psicopatologia vem acompanhada de uma profunda insatisfação com o sexo atribuído, bem como repúdio ou desconforto em relação às características, tanto primárias quanto secundárias, próprias de cada sexo.

Por exemplo: um homem (cromossomos XY) que se identifica como mulher tem tendência a rejeitar seu pênis. Subjetivamente, ela se identificará como mulher; é a isso que o gênero se refere. Ou, por exemplo, o caso de uma mulher (cromossomos XX) que se identifica como homem, rejeitará seus seios e vulva.

Esse desconforto geralmente é acompanhado pelo desejo de querer mudar essas características físicas e viver como uma pessoa do sexo oposto. Abrange aspectos psicológicos, sexuais, culturais, sociais, físicos e emocionais.

Por isso, muitas vezes as pessoas recorrem a alterações hormonais, anatômicas e genitais, como é o caso das operações de redesignação sexual. A causa deste tipo de alterações não está comprovada, embora elas pareçam estar associadas a questões sociais e culturais.

Disforia de gênero: critérios diagnósticos

Sexualidade, disforia, gênero fluido, transtorno.

Os critérios diagnósticos do DSM-5 para este distúrbio incluem:

  • Forte incongruência entre o sexo que a pessoa tem e expressa e seu sexo original.
  • Desejo forte de abandonar as características sexuais primárias e secundárias do seu sexo.
  • Desejo de possuir as características sexuais primárias e secundárias do sexo oposto.
  • Desejo de ser tratado como um membro do outro sexo.
  • Convicção de que se tem os sentimentos e reações do outro sexo.

Transtornos de sexualidade: disfunções sexuais

As disfunções sexuais são produzidas pela alteração em alguma das fases da resposta sexual, que são:

  • Desejo: aparecem fantasias sexuais, mudanças hormonais e o desejo da atividade sexual.
  • Excitação. Aumenta a tensão muscular, respiratória e cardíaca. Nos homens, a vasodilatação mediada pela liberação de óxido nítrico faz com que o pênis fique ereto. Nas mulheres, a dilatação da vagina e sua lubrificação.
  • Platô: Consiste na manutenção da fase de excitação, com preparação para o orgasmo.
  • Orgasmo: Ocorrem contrações musculares involuntárias, a respiração e os batimentos cardíacos atingem seus máximos. É gerada uma forte sensação de prazer, cuja intensidade varia de acordo com o nível de excitação do indivíduo.
  • Resolução: A tensão muscular é liberada e o corpo relaxa.
Desordens de sexualidade.

Diante da disfunção sexual, é necessário saber se a resposta sexual sempre foi assim ou se foi adquirida (a pessoa não a tinha e em determinado momento ela apareceu).

Além disso, deve-se considerar se a disfunção é generalizada (ocorre sempre) ou é situacional (só aparece em algumas circunstâncias). E se são produzidas exclusivamente por fatores psicológicos ou orgânicos.

Disfunções sexuais: distúrbios no desejo sexual

Entre os transtornos no desejo sexual encontramos: hipossexualidade, hipersexualidade e transtorno de aversão sexual.

Hipossexualidade

É caracterizada por uma diminuição acentuada no apetite sexual, com poucas fantasias. A principal etiologia são problemas emocionais.

Biologicamente falando, ela pode ser causada por problemas neurológicos.  Também pode ocorrer em comorbidade com epilepsia e depressão. Ou ainda devido a danos ao sistema límbico, desequilíbrio endócrino ou induzida por medicamentos.

Hipersexualidade
Sexualidade, hipersexualidade, sexo, casal.

É o aumento da libido e da atividade sexual, sendo esta última uma característica muito relevante. A etiologia desta patologia pode ser mania, esquizofrenia, distúrbios neurológicos e histeria.

Além disso, ela pode ser causada por lesões no diencéfalo ou danos nesta área devido a uma inflamação ou tumor. A síndrome de Klüver-Bucy manifesta hipersexualidade. Outras possíveis causas desse transtorno são as alterações hormonais geradas pelo hipercorticismo, hipertireoidismo e hiperandrogenismo.

A hipersexualidade faz com que as pessoas se estimulem sexualmente repetidamente, através de estímulos visuais ou pensamentos. Geralmente ocorre em pessoas que foram sexualmente reprimidas durante os primeiros estágios de desenvolvimento (infância e adolescência).

Essa patologia ocorre com muita frequência em pessoas com transtorno de personalidade ou outras alterações mentais, como satiríase (exclusiva em homens) ou ninfomania (exclusiva em mulheres). Ambas conhecidas popularmente como “vício em sexo”.

De fato, elas são caracterizados por um aumento na libido e no desejo sexual, o que faz com que as atividades sexuais aumentem.

Disfunções sexuais: transtornos de excitação sexual

Nos homens encontramos a disfunção erétil e nas mulheres o transtorno da excitação sexual.

Transtorno erétil em homens

Também chamada de disfunção erétil, é definida como a incapacidade de atingir ou manter uma ereção, seja de forma persistente ou recorrente (quando ocorre sempre). Essa patologia impede o início ou a manutenção das relações sexuais, uma vez que a penetração não pode ser consumada, o que por sua vez gera uma deterioração nas relações interpessoais do casal.

Esse distúrbio ocorre em aproximadamente 18% dos homens entre 50 e 59 anos e, posteriormente, esse número aumenta conforme o avanço da idade, devido aos problemas no funcionamento cardiovascular e arteriosclerótico típicos da velhice, pois é sabido que a irrigação sanguínea no pênis é a base para as ereções.

Transtorno de excitação sexual em mulheres

Essa patologia é definida como a incapacidade de manter a resposta de lubrificação vaginal típica da fase de excitação. Como no caso do transtorno erétil em homens, ela pode ser recorrente ou persistente. Da mesma forma, pode causar desconforto e deterioração no relacionamento do casal.

Em ambos casos (transtorno erétil nos homens e distúrbio da excitação sexual nas mulheres) o diagnóstico será positivo desde que o problema não seja causado pelo uso de psicofármacos, doenças médicas ou outros transtornos psicopatológicos que não sejam de natureza sexual.

Disfunções sexuais: transtornos orgásmicos

São patologias que impedem um orgasmo adequado. Por exemplo, a ejaculação precoce, ejaculação retardada ou distúrbio orgásmico feminino.

Ejaculação precoce
Disfunção erétil de ejaculação precoce.

É a perda de controle sobre os reflexos ejaculatórios, que geram uma ejaculação quase imediata em resposta a um leve estímulo sexual (antes, durante ou mesmo logo após a relação sexual).

Esse transtorno gera desconforto e problemas no relacionamento interpessoal. A ejaculação precoce está presente em cerca de 30% da população masculina, o que a torna o distúrbio sexual mais comum entre os homens. Pode ser adquirida ou congênita, generalizada ou situacional.

Além disso, três níveis podem ser diferenciados:

  1. Leve, que ocorre quando o estímulo sexual causa a resposta ejaculatória em um intervalo de 30 a 60 segundos.
  2. Moderada, quando a resposta ejaculatória ocorre entre 15 e 30 segundos após a presença do estímulo.
  3. Grave, quando a ejaculação ocorre em menos de 15 segundos.

Apesar dessa diferenciação de níveis, o critério diagnóstico que determina o transtorno de ejaculação precoce é que ela ocorra antes que a pessoa queira, e esse problema seja recorrente por pelo menos seis meses.

Ejaculação retardada

Ausência de ejaculação (anejaculação) ou a presença desta de forma retardada (30-45 minutos) após a penetração ou qualquer atividade sexual.

Esse transtorno geralmente é de natureza psicológica. Embora também possa ocorrer como consequência de alterações orgânicas causadas pelo consumo de drogas, principalmente antidepressivos, e danos neurológicos, como traumas nos nervos pélvicos ou medula espinhal.

Dentre as etiologias psicológicas temos o desinteresse pelo parceiro sexual, condicionamento por masturbação e eventos traumáticos, como ter sido descoberto em relações sexuais “ilícitas”.

Transtorno orgásmico feminino
Anorgasmia, disfunção sexual feminina.

É definido como a incapacidade ou demora em atingir o orgasmo, bem como a diminuição acentuada na sua intensidade. O diagnóstico desse transtorno inclui sua prevalência por um período de seis meses e em pelo menos 75% das relações sexuais.

Disfunções sexuais: transtornos de dor sexual

Dentre essas disfunções, temos a dispareunia e o vaginismo.

Dispareunia

Ocorre em aproximadamente 5% dos homens e 15% das mulheres. A pessoa sente dor (na região genital ou em outro lugar) no momento da resposta sexual. A disfunção é descartada caso seja causada por uma doença médica.

Vaginismo

Não deve ser confundida com vaginite. É caracterizada por espasmos involuntários na parte externa da vagina. Se for feita uma tentativa de penetração, a mulher sente dor. Ela aparece mais em mulheres jovens e em níveis culturais baixos.

Transtornos de sexualidade: parafilias

Parafilia.

Antigamente elas eram chamas de desvios sexuais. Estão relacionadas a uma atividade sexual na qual o objeto, a pessoa ou as práticas não são adequadas. Existem muitas parafilias, mas não há alteração na resposta sexual, elas têm todas as fases.

Tipos:

  • Pedofilia (crianças).
  • Incesto (parentes).
  • Zoofilia (animais).
  • Coprofilia (fezes).
  • Urofilia (urina).
  • Klismafilia (enemas).
  • Fetichismo (objetos inanimados).

Práticas:

  • Frotteurismo: esfregar os órgãos genitais em outra pessoa sem o consentimento dela.
  • Estupro: com violência, sem que a outra pessoa queira.
  • Voyeurismo: excitação sexual ao observar outras pessoas no ato sexual.
  • Exibicionismo: mostrar a genitália aos outros sem que eles esperem.
  • Sadismo: sentir prazer quando o outro é ferido e humilhado.
  • Masoquismo: sentir prazer em ser ferido e humilhado.

Para diagnosticar parafilias :

  • Qualquer uma dessas características deve aparecer por pelo menos 6 meses.
  • Deve causar desconforto no próprio indivíduo ou nos outros.
  • Podem ser fantasias ou pensamentos. É o ato de ficar excitado com eles.

Fetichismo

Qualquer objeto pode ser um fetiche, embora roupas íntimas e sapatos se destaquem. Além disso, pode ser uma parte do corpo (parcialismo). Existem três tipos:

  • A excitação é produzida por estimulação tátil.
  • Aqueles em que é o objeto que produz a excitação.
  • Fetichismo travesti: a pessoa se excita com roupas do outro sexo.

Voyeurismo e exibicionismo

Voyeurismo, parafilia, voiyeur.

Não é incomum que estes dois tipos apareçam na mesma pessoa. Ela fica entusiasmada com o fato de poderem pegá-la espiando outras pessoas durante uma relação sexual, ou mostrar seu próprio corpo para aqueles que não o esperam.

Sadismo e masoquismo sexual

O sádico fere o outro e o humilha, obtendo prazer sexual disso. O masoquista obtém prazer sexual ao ser ferido e humilhado por outra pessoa.

Pedofilia e incesto

parafilia pedofilia
  • Incesto: relações mantidas entre parentes (pai – filha; tio – sobrinha). Há quem não considere as relações entre irmãos como incestuosas; embora também seja geralmente aceito rotulá-las como incesto.
  • Pedofilia: pessoas que ficam excitadas com crianças em geral.

Pessoas incestuosas tendem a ficar excitadas por mulheres adultas, pedófilos não. Ambos podem abusar fisicamente de crianças buscando truques para enganá-las, confundi-las ou até mesmo fazê-las pensar que essa é a coisa certa a fazer.

Isso traz consequências muito negativas para a vítima, porque ela pode desenvolver muitos sentimentos de culpa.

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Transtornos de sexualidade: comentários finais

Em conclusão, ao longo deste artigo vimos os principais transtornos de sexualidade; além disso, em alguns casos, a causa possível. Cabe destacar que os transtornos de sexualidade afetam milhões de pessoas no mundo, de todas as idades, sexo, raça, religião e situação econômica.

No entanto, existem tratamentos médicos e psicológicos adequados para tratá-los. Nesse caso, sempre recomendamos buscar um especialista para o diagnóstico e tratamento adequados.



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