Anorexia: características, sintomas e tratamento

A anorexia é um transtorno alimentar grave que envolve uma percepção distorcida de imagem e peso pelo indivíduo, além de um medo irracional de engordar.
Anorexia: características, sintomas e tratamento
Bernardo Peña

Escrito e verificado por el psicólogo Bernardo Peña.

Última atualização: 20 julho, 2021

A anorexia é um alteração na qual existe uma percepção distorcida da imagem corporal. Ela faz com que o indivíduo acredite estar gordo, mesmo quando é extremamente magro (Associação Americana de Psicologia, 2011).

Ela é caracterizada pela restrição de alimentos, principalmente se eles tiverem um alto teor calórico. Na verdade, a dieta é limitada a certos alimentos. Além disso, em alguns casos são praticados exercícios físicos em excesso, com o único objetivo de perder peso. A perda de peso também pode ser gradual, dessa forma, o corpo se adapta ao novo estado de desnutrição.

Anorexia: generalidades

É provável que a anorexia comece entre as idades 13 e 18 anos. No entanto, a idade média para o seu início está diminuindo, o que é preocupante. De fato, casos de pacientes com 9 e 10 anos de idade estão começando a aparecer. A perda de peso corporal é negada em sua totalidade, por isso é entendida como falta de consciência em relação à doença.

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Em geral, a evolução do transtorno costuma ser variável. Ou seja, em alguns pacientes o desenvolvimento da doença é apenas parcial e pode ser resolvido sem comprometer a esfera física e mental. Ao contrário, em outros casos o problema se torna crônico, com grande risco de vida.

A anorexia, profissionalmente chamada de anorexia nervosa, é subdividida em dois tipos:

  • Anorexia restritiva: Os anoréxicos restritivos se destacam pela resistência à sensação de fome. Eles não costumam fazer uso de substâncias como diuréticos ou laxantes, além de não recorrerem à compulsão alimentar ou purgação.
  • Anorexia purgativa: Esse tipo tem uma certa semelhança com a bulimia. Há um intercâmbio de períodos que vão desde a compulsão alimentar até vômitos ou abuso de substâncias purgativas. Frequentemente a compulsão alimentar é usada como forma de diminuir a sensação de fome.

Anorexia: causas do transtorno

A gênese da anorexia se dá por meio de vários fatores, entre os quais está a insatisfação com a imagem corporal, aliada a dificuldades pessoais ou sociais. Segundo os pesquisadores Méndez, Vázquez-Velazquez, & García-García (2008), existem quatro fatores essenciais para o desencadeamento ou predisposição à anorexia:

  • O fator biológico ou genético, que carrega metade da responsabilidade no desenvolvimento de um comportamento alimentar inadequado.

A hereditariedade afeta oito vezes mais as pessoas que têm um membro da família com esse transtorno ou que têm metabolismo mais rápido do que outras.

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O índice de massa corporal também é hereditário. Por fim, outros fatores genéticos que contribuem para a evolução da anorexia são os transtornos de personalidade, tendência à obesidade, vulnerabilidade emocional ou o transtorno obsessivo-compulsivo.

  • Fator social: a mídia divulga continuamente a magreza como um componente associado ao sucesso.

Sabe-se que as profissões com maior pressão pelos ideais de beleza são aquelas em que a imagem é o que mais vende. Por exemplo, modelos, dançarinas, empresárias, etc.

Há um novo padrão de beleza promovido e divulgado em todo o mundo, levando a um aumento progressivo de comportamentos alimentares inadequados.

  • Fator familiar: muitas vezes os problemas familiares estão intimamente relacionados ao desenvolvimento de transtornos alimentares.

A dinâmica familiar desempenha um papel fundamental na anorexia. De fato, um vínculo que não oferece segurança pode desencadear seu início. Falta de comunicação, de suporte emocional, insegurança na autonomia, baixa autoestima… São situações que ocorrem no núcleo familiar e suscitam problemas de comportamento alimentar.

  • Fator psicológico: originado a partir de pensamentos ou ideias recorrentes sobre a percepção da imagem física, que leva a uma ideia de estar gordo(a), produzindo um pensamento obsessivo sobre o conceito de magreza.

Anorexia: sintomas clínicos

Os principais sintomas clínicos da anorexia são os seguintes:

  • Nas mulheres, a amenorreia, é a principal característica de um transtorno alimentar.
  • A nível cardiovascular, a possível existência de insuficiência cardíaca devido à diminuição da pressão e frequência cardíaca.
  • Queda de cabelo, unhas fracas.
  • Fadiga que gera um cansaço constante.
  • Anemia.
  • Atraso na puberdade.
  • Ausência de interesse sexual.
  • Fraqueza e perda e muscular.
  • Dano cerebral.
  • Desidratação.
  • Falência renal.
  • Problemas metabólicos.
  • Infertilidade.
A anorexia apresenta alguns sintomas.

Por outro lado, existem as consequências a nível psicológico que comumente são acompanhadas por sintomas de ansiedade que incluem a fobia social e a tendência ao isolamento. Além disso, nesses casos, geralmente são evitados os eventos sociais em que haja a probabilidade de comer.

Podem ocorrer depressão, distúrbios do sono, baixa autoestima e insegurança. Além disso, sentimentos de culpa, frustração ou inutilidade, diminuição da concentração e tendência ao perfeccionismo são mecanismos frequentes para exigir um maior controle sobre si mesmos.

Anorexia: critérios diagnósticos

A Associação Americana de Psiquiatria(APA), através do seu manual de diagnóstico DSM-5, apresenta os seguintes critérios de diagnóstico para a anorexia:

  • Restrição de ingestão, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto da idade, sexo, trajetória de desenvolvimento e saúde física. Significativamente, o baixo peso é definido como um peso inferior ao mínimo normal ou, para crianças e adolescentes, inferior ao mínimo esperado.
  • Um medo intenso de ganhar peso ou ficar obeso(a). Esse medo é persistente e interfere no possível ganho de peso, mesmo quando este já é significativamente baixo.
  • Uma alteração na percepção de peso, tamanho ou silhueta corporal. Uma autoavaliação inadequada do próprio peso e falta de reconhecimento da gravidade do baixo peso atual.
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O subtipo deve ser especificado :

  • Restritivo: durante os últimos três meses, não aconteceram episódios recorrentes de compulsão alimentar ou purgação (ou seja, vômito autoinduzido ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).
  • Purgativo: durante os últimos três meses, aconteceram episódios recorrentes de compulsão alimentar ou purgação (ou seja, vômito autoinduzido ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).

Tratamento da anorexia

A seguir examinaremos em detalhes em que consiste o tratamento da anorexia. Para facilitar a compreensão, vamos dividi-lo em seções:

1. Generalidades do tratamento da anorexia

Antes de começarmos a falar sobre o tratamento da anorexia, deve-se notar que essa é uma doença grave e potencialmente fatal. Portanto, é necessário criar uma aliança terapêutica sólida com o paciente, baseada na empatia, no cuidado positivo e no apoio em todos os níveis.

No entanto, pode ser muito complexo e frustrante para os novos terapeutas trabalhar com pessoas que não reconhecem a própria doença e têm recaídas constantes. Por isso, habilidades específicas são necessárias para o tratamento desses casos, além de uma longa experiência para poder fazê-lo corretamente.

2. Objetivos gerais do tratamento da anorexia

Tratamento para o transtorno alimentar da anorexia.

Por ser um transtorno complexo, é necessário o trabalho em equipe entre médicos, psiquiatras e psicoterapeutas. De acordo com o guia para o tratamento de pacientes com distúrbios alimentares (American Psychiatric Association, 2006), a ordem de tratamento da anorexia é a seguinte:

  1. Reestabelecimento de um peso saudável. Nas mulheres, isso implica no reinício da menstruação e da ovulação; nos homens, no reinício do desejo sexual e no reestabelecimento dos níveis hormonais normais.
  2. Tratamento das complicações físicas. Estas incluem sintomas relacionados à fome, bem como reações fisiológicas durante a realimentação.
  3. Incremento na motivação para participar do programa de tratamento.
  4. Educação psicológica sobre hábitos alimentares saudáveis e nutrição.
  5. Identificação de atitudes, pensamentos e crenças disfuncionais, conflitos e sentimentos que sustentam o transtorno alimentar.
  6. Uso da psicoterapia para tratar distúrbios emocionais relacionados à alimentação.
  7. Mobilização de apoio familiar e uso de terapia familiar, caso necessário.
  8. Prevenção de recaídas.

3. Tratamento da anorexia: o processo de realimentação

Devido à inanição, o objetivo inicial é restaurar o peso do paciente. Durante o processo de realimentação, os sentimentos de apatia do paciente podem começar a desaparecer.

Em geral, o paciente com anorexia fica apavorado com a ideia de ganhar peso, por isso é necessário trabalhar as emoções dele. Na fase de restauração de peso, novos alimentos com calorias e necessidades nutricionais suficientes serão introduzidos.

A condição física do paciente deve ser monitorada, pois complicações fisiológicas podem ocorrer durante a realimentação. Além disso, um exame odontológico é recomendado para avaliar os danos causados pelos vômitos.

4. Tratamento psicológico da anorexia

Psicoterapeuta, transtorno alimentar.

O tratamento psicológico da anorexia tem os seguintes objetivos de tratamento (Sue, D., Sue, DW, Sue, S., & Azuara, SD, 2010):

  1. Compreender e cooperar com a reabilitação nutricional e física.
  2. Identificar e compreender as atitudes disfuncionais relacionadas ao transtorno alimentar.
  3. Melhorar o funcionamento interpessoal e social.
  4. Tratar conflitos psicopatológicos e psicológicos comórbidos que reforçam o comportamento do transtorno.

A terapia comportamental corrige com eficácia a preocupação irracional com o peso. Além disso, ela estimula o ganho de peso controlado por meio de técnicas de reforço positivo. Esses reforços são programados de acordo com a idiossincrasia de cada paciente. Por outro lado, o planejamento para o ganho de peso visa aumentar 1kg por semana, aproximadamente.

Uma vez que o paciente ganhou o peso correspondente ao seu grupo normativo, ele pode prosseguir com o tratamento ambulatorial e a terapia familiar. Além disso, o psiquiatra poderia prescrever antidepressivos nesta fase, para potencializar os resultados do tratamento.

5. Anorexia e terapia familiar

A terapia familiar é muito importante como parte do tratamento da anorexia. Envolver os pais na recuperação de seus filhos visa os seguintes objetivos principais:

  1. Eles ajudarão a alimentar o paciente durante o planejamento das refeições.
  2. Eles diminuirão suas críticas por saberem que a anorexia nervosa é uma doença grave.
  3. Eles negociarão um novo padrão de relacionamento familiar, mais aberto e menos conflituoso.
  4. Eles ajudarão a família no processo de desenvolvimento de separação e individuação.
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Em suma, mudar os padrões disfuncionais de comunicação da família, bem como fornecer suporte emocional ao paciente, é muito importante para a sua recuperação. De fato, a família deve saber que o transtorno do paciente não é um capricho ou acontece porque ele quer, mas que se trata de um transtorno com graves implicações e consequências para a saúde física e emocional.

Anorexia: conclusões

Em conclusão, vimos que a anorexia é um transtorno alimentar grave. Portanto, ela precisa ser tratada por uma equipe multiprofissional de saúde que ajude o paciente a recuperar o peso, o equilíbrio emocional, os hábitos e a restaurar as relações sociais e familiares.

Por fim, enfatizamos que o tratamento não será curto nem simples, e que poderão acontecer ciclos de remissões e recidivas. Portanto, é necessário manter a perseverança e o trabalho contínuo.



  • American Psychological Association -APA (2006). Practice guidelines for the treatment of patients with eating disorders. Third edition. Psychiatric Practice Section: www.psych.org
  • Méndez, J. P., Vázquez-Velazquez, V., & García-García, E. (2008). Los trastornos de la conducta alimentaria. Boletín Médico del hospital infantil de México65(6), 579-592.
  • Peña-Herrera, B. (2018) Psicopatología General. Samborondón: Universidad Espíritu Santo – Ecuador.
  • Sue, D., Sue, D. W., Sue, S., & Azuara, S. D. (2010). Psicopatología: Comprendiendo la conducta anormal (No. 159.97). Cengage Learning,.

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