11 mitos sobre o autismo

Os mitos sobre o autismo ainda ressoam na sociedade, e nos fazem ver essas pessoas como um grupo homogêneo. Nada está mais longe da realidade. Neste artigo, analisaremos 11 mitos associados ao autismo.
11 mitos sobre o autismo
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 01 agosto, 2021

Os mitos sobre o autismo são amplamente difundidos na sociedade, infelizmente. Por isso, é importante visibilizar o que é dito sobre essa condição, principalmente o que não é verdade.

O autismo é um transtorno muito heterogêneo, que se manifesta de forma diferente em cada pessoa. A partir do conhecimento da individualidade de cada uma delas, é possível entender do que essa pessoa precisa e deixar de lado os preconceitos, mitos e estereótipos associados a esse grupo.

Neste artigo analisaremos 11 mitos sobre o autismo, e explicaremos por que estes são apenas mitos. Anote!

11 mitos sobre autismo

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno neurobiológico que pode ou não estar associado à deficiência intelectual. São pessoas com uma série de dificuldades na área social e comunicativa, e com interesses muito restritos.

Fala-se muito sobre o autismo, mas tudo o que é dito é verdade? De forma alguma. Por isso, é importante promover a compreensão e a conscientização da população para favorecer a inclusão de pessoas com TEA. Conversaremos a respeito dos 11 mitos sobre o autismo.

1. O autismo é uma doença

São muitos os mitos sobre o autismo.
É muito comum confundir TEA com doença, já que geralmente esse transtorno é visto como uma “deficiência”. No entanto, essa condição vai muito além disso.

O autismo não é uma doença, mas sim um distúrbio de origem neurobiológica relacionado ao desenvolvimento do sistema nervoso. Ele não é contagioso nem pode ser contraído em algum momento da vida. Assim, uma pessoa com autismo não está doente; o autismo é uma condição de vida que frequentemente leva à deficiência.

2. O autismo tem cura

O autismo não tem cura; primeiro porque não se trata de uma doença, e segundo porque essa é uma condição complexa, para a qual ainda não existe um conhecimento definitivo que a “envolva” por completo.

Existem tratamentos para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, para que elas aprendam a se comunicar melhor e, em última análise, tenham uma vida o mais normalizada possível. Medicamentos psicotrópicos também podem ajudar nesse sentido, mas não há um tratamento para “curar” o autismo.

3. Vacinas podem causar autismo

Atualmente, a comunidade médica e científica em todo o mundo apóia a conclusão de que não há evidências que liguem a vacinação ao desenvolvimento de um transtorno do espectro do autismo. Neste documento de posicionamento, elaborado pela Autismo España e pela AETAPI, estão disponíveis mais informações sobre esse assunto.

4. Pessoas com autismo não se comunicam

Outro mito sobre o autismo tem a ver com a comunicação dessas pessoas. Não é verdade que os indivíduos com TEA não se comunicam. Na verdade, todas as pessoas com autismo se comunicam, embora cada uma delas o faça da sua própria forma, dependendo das suas dificuldades.

Há pessoas com TEA que não possuem linguagem verbal, mas isso não quer dizer que elas não se comuniquem. Elas fazem isso de forma diferente. Por exemplo, através de sistemas de comunicação alternativos e aumentativos (por exemplo, PECS, em inglês Picture Exchange Communication System).

5. Pessoas com TEA têm habilidades especiais

Embora seja verdade que existem pessoas com autismo que têm habilidades especiais, a verdade é que nem todas são assim. Este grupo é muito heterogêneo em todos os sentidos, inclusive neste.

Uma pequena parte das pessoas com TEA tem “habilidades especiais”. Muitas vezes esses talentos estão relacionados ao funcionamento do cérebro ou aos interesses específicos e restritos que elas possuem por causa da sua condição.

6. Existem mais homens do que mulheres com TEA

Até recentemente, vinham sendo observados muito mais homens do que mulheres com TEA. No entanto, nos últimos anos tem sido discutida a possibilidade de que existam fatores que dificultam o diagnóstico em meninas ou mulheres.

Também existem vieses diagnósticos, e as meninas são consideradas subdiagnosticadas. Em relação a esse ponto, existe a hipótese de que haja uma relação com as maiores habilidades sociais que elas apresentam, que as fazem “camuflar” ou “passar despercebidas” com mais facilidade.

7. A falta de amor dos pais pode provocar autismo

Os mitos sobre o autismo incluem alguns problemas sociais.
Embora a dificuldade de interação social seja um elemento básico do TEA, ela se expressa de maneiras muito diferentes em cada pessoa.

Esta é uma teoria muito antiga, totalmente descartada atualmente. Embora a causa exata do autismo ainda não seja conhecida (e de fato se discute uma origem multifatorial), a verdade é que a educação recebida nada tem a ver com a origem do transtorno (que é neurobiológica).

Desta forma, sabemos que o autismo possui um importante componente genético. Além disso, como dissemos anteriormente, ele não “se contrai”, pois o indivíduo nasce ou não com esse transtorno.

8. Pessoas com autismo evitam o contato com outras pessoas

Embora seja verdade que as pessoas com TEA tenham dificuldades na área social, não é verdade que todas elas preferem ficar isoladas e sem contato com outras pessoas. Insistimos: o autismo é um transtorno muito heterogêneo, e as as pessoas com essa condição apresentam muitas diferenças entre si, em todos os sentidos.

Desta forma, pessoas com autismo podem se interessar pelos outros, o que ocorre é que as dificuldades que elas possuem podem tornar mais complicado o gerenciamento das situações sociais. E essas dificuldades podem causar muita frustração, razão pela qual essas pessoas podem estar propensas a evitar o contato social.

Além disso, a hipersensibilidade sensorial que elas apresentam (que nem sempre aparece) pode gerar desconforto em locais lotados, não tanto pelas pessoas, mas sim pela angústia que este tipo de situação social lhes causa.

9. O autismo envolve traços físicos típicos

Não existe um fenótipo específico no autismo como, por exemplo, na síndrome de Down. Desta forma, pessoas com autismo não são caracterizadas por um aspecto físico próprio.

De fato, as manifestações deste transtorno são essencialmente de natureza comportamental. É por isso que o autismo é diagnosticado de forma clínica (a sintomatologia pode ser observada), e não com base em características físicas.

10. Todas as pessoas com autismo têm deficiência intelectual

Outro mito sobre o autismo tem a ver com a deficiência intelectual. Embora seja verdade que muitas das pessoas com autismo tenham um grau associado de deficiência intelectual (que pode ser leve, moderada ou grave), nem todas têm essa condição.

De fato, existem pessoas com TEA que apresentam inteligência acima da média. Nesse sentido, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 50% das pessoas com TEA também sofrem de deficiência intelectual.

11. Pessoas com autismo são agressivas

A agressividade não é uma característica associada ao autismo. Logicamente podem haver pessoas agressivas com autismo, mas isso não tem nada a ver com a condição.

Tem a ver, por exemplo, com o fato de que, ao apresentarem certas dificuldades sociais (como não entender alguma situação), ou devido à ansiedade social, essas pessoas podem manifestar distúrbios de comportamento (especialmente na infância), que incluem agressividade.

Mas não é correto generalizar, pois o aparecimento desses comportamentos muitas vezes ocorre devido à falta de adaptação dessas pessoas ao ambiente ou a situações geradoras de estresse (que poderiam ser melhor enfrentadas com o suporte necessário).

Pessoas com autismo, não pessoas autistas

Acreditamos que é importante fazer essa diferenciação. Pessoas com autismo possuem essa condição, mas não são definidas apenas por ela.

O diagnóstico faz parte da vida delas, sim, mas não as define. Porque além do autismo existe uma pessoa com suas individualidades que a tornam única e lhe permitem sofrer, se divertir, rir, chorar e viver do seu jeito, assim como pessoas sem autismo.

A partir daqui, te incentivamos a continuar aprendendo sobre esse transtorno, pois essa é a única maneira de derrubar os mitos sobre o autismo. Através da informação e, acima de tudo, educação e visibilidade.

“A deficiência não te define, mas define como você lida com os desafios que a deficiência apresenta.”

-Jim Abbott-



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