Hiperêmese gravídica: causas, sintomas e tratamentos

A hiperêmese gravídica é caracterizada pelo aparecimento de vômitos abundantes durante a gravidez. Isso faz com que a gestante tenha desidratação e perda de peso, entre outros sintomas.
Hiperêmese gravídica: causas, sintomas e tratamentos
Samuel Antonio Sánchez Amador

Escrito e verificado por el biólogo Samuel Antonio Sánchez Amador.

Última atualização: 01 maio, 2021

A hiperêmese gravídica (hyperemesis gravidarum, em inglês) é uma complicação da gravidez caracterizada pelo aparecimento de náuseas persistentes e vômitos contínuos na mãe. Isso leva a uma perda de peso notável (> 5%), desequilíbrios ácido-básicos, desnutrição e até mesmo desidratação.

A náusea gestacional ocorre em até 80% das gestantes, mas a hiperêmese tem prevalência de 0,3 a 2,3% de todas as gestações. É considerada uma entidade clínica pior do que o típico vômito matinal, mas, felizmente, é raro a hiperêmese gravídica durar além da 16ª ou 18ª semana de gestação.

Conforme toda mãe já sabe, vômitos e náuseas durante a gravidez são normais, mas o excesso desses sinais é o que define o quadro clínico sobre o qual vamos falar hoje. Se você quiser saber tudo sobre a hiperêmese gravídica, incluindo causas, sintomas e tratamentos, continue lendo.

Os vômitos e a gravidez

A hiperêmese gravídica afeta muitas mulheres grávidas.
Esta é uma complicação comum e potencialmente séria.

Conforme indicado pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, o vômito durante a gravidez é muito comum. De 70 a 85% das mulheres apresentam esse sinal clínico e, embora a sua etiologia ainda não tenha sido totalmente elucidada, acredita-se que possa ser causado pelo aumento repentino de certos hormônios na corrente sanguínea da mulher.

Mais especificamente, os pesquisadores se concentram no hormônio gonadotrofina coriônica humana (HCG), que é liberado pela placenta. Entre outras coisas, essa substância facilita a manutenção do corpo lúteo durante o início da gravidez e a secreção do hormônio progesterona, essencial para o sucesso da gravidez.

Os níveis de gonadotrofina coriônica costumam se multiplicar a cada 2-3 dias no início da gravidez, passando por um aumento mínimo de 60% a cada 48 horas.

Na 3ª semana, a concentração desse hormônio é de no máximo 50 miliunidades internacionais/mililitro máximos, enquanto na 10ª semana de gestação o valor pode subir para 254.000 miliunidades internacionais/mililitro.

Padrão de náusea gestacional

Os níveis de HCG aumentam de forma consistente durante os primeiros 3 meses, porém eles logo tendem a se estabilizar. Portanto, a prevalência de vômitos, náuseas e mal-estar geral é maior durante os primeiros meses de gravidez. Entre 50-70% das mulheres experimentam enjoos matinais durante o início da gravidez, mas depois eles tendem a desaparecer.

A partir de todos esses dados, o que queremos mostrar é que a presença de náuseas e vômitos é normal durante a gravidez. Quase todas as mulheres sofrem com eles, que podem indicar um aumento saudável nas concentrações hormonais necessárias para uma gravidez bem-sucedida.

O vômito normal aparece na 5ª semana de gestação, atinge o pico na 9ª semana e desaparece entre a 16ª e a 18ª semana. Muitas vezes ocorre de manhã.

A hiperêmese gravídica e as suas causas

O vômito durante o primeiro trimestre da gravidez é normal, mas vomitar 30 vezes em 24 horas é considerado patológico. Se o vômito for persistente (mais de 3 ou 4 vezes ao dia) e a náusea impedir a paciente de consumir alimentos, é hora de suspeitar de um caso de hiperêmese gravídica (HG).

De acordo com a revista Nutrición Hospitalaria, a HG é definida como um evento clínico de vômito descontrolado que requer hospitalização, pois condiciona desidratação severa, desgaste muscular, desequilíbrio hidroeletrolítico, cetonúria (alta concentração de corpos cetônicos na urina) e perda de mais de 5% do peso corporal.

Ocorre com frequência entre a 9ª e a 20ª semana de gravidez e, infelizmente, até 5% das mulheres com o problema precisam de intervenção hospitalar de emergência. A seguir, vamos explorar as possíveis causas da hiperêmese gravídica: o gatilho ainda permanece oculto, mas se acredita que esses fatores agem sinergicamente.

Mudanças hormonais

Conforme indicado pelo portal médicoStatpearls, está praticamente confirmado que os níveis circulantes de gonadotrofina coriônica humana (HCG) em mulheres têm algo a ver com a hiperêmese gravídica. Vários estudos têm mostrado uma correlação entre os dois eventos: quanto maior o nível de HCG, maior a probabilidade de desenvolver a hiperêmese.

Por outro lado, acredita-se também que o estradiol pode desempenhar um papel importante. Este tipo de estrogênio aumenta de concentração nos momentos em que geralmente ocorrem vômitos e, além disso, as náuseas e regurgitações são sintomas típicos de medicamentos com estrogênios.

Conforme os níveis de estradiol no sangue aumentam, também aumenta a incidência de náuseas e vômitos.

A hiperêmese gravídica e as alterações no sistema gástrico

A hiperêmese gravídica pode causar refluxo.
Muitas pacientes se queixam de vários sintomas gastrointestinais.

O esfíncter esofágico inferior relaxa durante a gravidez devido à ação dos estrogênios e da progesterona. Isso aumenta o risco de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Os sintomas de refluxo são comuns durante a gravidez, com incidência de 30-50% das pacientes, conforme indicado pelo portal Natalben.

Um dos sintomas da DRGE é a náusea, mas, de qualquer forma, a causalidade entre a DRGE e a hiperêmese gravídica não está nada clara. Os estudos registrados relatam resultados conflitantes.

Genética

Um histórico familiar de hiperêmese favorece o aparecimento dos sintomas durante a gravidez. Além disso, os genes GDF15 e IGFB7 parecem estar ligados ao aparecimento da patologia. É necessário mais conhecimento sobre a doença para associar a genética a ela de forma inequívoca.

Sintomas de hiperêmese gravídica

Conforme indicado pelo portal MSD Manuals, a hiperêmese gravídica é a forma mais séria das náuseas típicas durante a gravidez. Alguns dos sintomas relevantes mais associados a ela são os seguintes:

  • Náuseas e vômitos persistentes durante a gravidez: conforme já dissemos nas linhas anteriores, vomitar mais de 4 vezes ao dia e não conseguir comer nada em 24 horas são sinais de alerta. Não existe um critério padronizado, pois cada paciente é diferente da outra.
  • Perda de peso: o ponto de corte para o diagnóstico de hiperêmese gravídica é uma perda de massa corporal maior que 5%. As mulheres com enjoos matinais normais continuam a ganhar peso e não ficam desidratadas. Portanto, este é um fator diferencial muito claro entre a hiperêmese e as náuseas típicas.
  • Cetose: na ausência de carboidratos, o corpo cataboliza as gorduras para obter energia. Isso leva ao aumento de corpos cetônicos na urina da paciente. Ou seja, o corpo da gestante metaboliza as reservas energéticas, uma vez que não são obtidas calorias por meio da ingestão de alimentos.
  • Perda de eletrólitos: os eletrólitos são minerais com carga elétrica presentes no sangue e em outros fluidos corporais. O vômito pode fazer com que os níveis de eletrólitos do organismo fiquem desequilibrados.

Além de todos esses sinais, também podem aparecer sintomas associados à desidratação prolongada. Entre eles estão constipação, salivação muito maior do que o normal, urina escura, pele ressecada, fraqueza e até mesmo desmaios. Diante de sinais de desidratação, é fundamental ir ao pronto-socorro.

O que acontece com o bebê durante a hiperêmese gravídica?

Conforme indicado na revista médica Obstetrics and Gynecology, a hiperêmese gravídica tem um efeito claro no peso do recém-nascido. Em comparação com as mulheres que ganham massa normalmente durante a gravidez, as chances de que o futuro bebê tenha baixo peso ao nascer são muito maiores nos casos de hiperêmese.

Os autores das pesquisas citadas concluem que a hiperêmese per se não é um fator de risco para o recém-nascido. É o baixo peso que está associado a esse quadro clínico e, infelizmente, os bebês com massa menor que o normal tendem a sofrer com alguns problemas associados.

Tratamento

Já exploramos as causas e os sintomas da hiperêmese gravídica, além de nomear alguns critérios diferenciais entre essa condição e o enjoo matinal normal. Portanto, estamos preparados para abordar o seu tratamento. Vamos falar sobre as diferentes frentes para o tratamento dessa patologia, com o auxílio das fontes já citadas.

Mudanças na dieta

O tratamento inicial nunca deve se basear em medicamentos, pois é necessário tentar mudanças no estilo de vida da paciente e a fluidoterapia. No que diz respeito à dieta alimentar, recomenda-se que a mãe coma em menor quantidade e mais vezes ao dia. Uma ingestão reduzida de alimentos pode ajudar a aliviar os sintomas mais graves.

Além disso, a dieta deve apresentar alto teor de proteínas e carboidratos, minimizando substâncias ácidas ou com alto percentual de gordura. Também é recomendado o consumo de líquidos ricos em eletrólitos juntamente com as pequenas quantidades de alimento. Qualquer alimento que cause náusea deve ser descartado, pelo menos durante um tempo.

Mudanças no estilo de vida

As mulheres com hiperêmese gravídica devem descansar e evitar qualquer situação estressante. Às vezes, pode ser necessário o acompanhamento psicológico, uma vez que as pacientes podem até mesmo considerar o aborto por causa do seu quadro clínico, conforme indicado por fontes literárias. O suporte emocional é tão necessário quanto o suporte fisiológico nesses casos.

Fluidoterapia intravenosa (IV)

Em pacientes hospitalizadas por causa da desidratação, é necessária a administração de fluidoterapia intravenosa. Ela vai ajudar a paciente a restaurar o equilíbrio hídrico e eletrolítico, perdido após os episódios de vômito mais intensos.

Tiamina

A vitamina B1, também conhecida como tiamina, é um suplemento quase obrigatório para qualquer gestante com hiperêmese gravídica, em uma dose de 1,5 miligramas/dia. Essa vitamina tem uma função essencial no metabolismo dos carboidratos e, portanto, a sua funcionalidade é autoexplicativa.

Antieméticos e outros medicamentos

Entramos em terreno puramente farmacológico, pois, se a mulher não responder bem ao tratamento inicial ou se os sintomas forem muito graves, será necessário lidar com a situação por meio de medicamentos antieméticos. A seguir, vamos apresentar uma lista dos medicamentos mais usados para tratar os sintomas deste quadro clínico:

  • Doxilamina: é um anti-histamínico H1. Este medicamento é recomendado pelo American College of Obstetricians and Gynecologists como terapia de primeira linha para o tratamento oral de náuseas e vômitos durante a gravidez. São administrados 12,5 miligramas por via oral a cada 8 horas.
  • Prometazina: outro anti-histamínico e antiemético. Podem ser administrados até 25 miligramas por diferentes vias a cada 4-8 horas.
  • Metoclopramida: um antiemético e agente procinético, usado em quase todos os casos para o tratamento de náuseas e vômitos. São utilizadas 10 miligramas a cada 8 horas por via intravenosa ou oral.

Existem muitos outros medicamentos e compostos que podem ser usados para controlar o vômito e aliviar os sintomas, tais como vitamina B6, gengibre ou medicamentos esteroides. Porém, qualquer tratamento sempre deve ser prescrito por um médico, pois cada paciente é diferente da outra e as suas necessidades sempre serão pessoais e intransferíveis.

A hiperêmese gravídica e gravidez

Conforme você deve ter notado, a hiperêmese gravídica não é grave per se, mas sempre deve ser levada em consideração em nível médico. Qualquer mulher que tiver vômitos abundantes durante a gravidez deve consultar um médico, pois ela corre o risco de perder peso ou sofrer de desidratação ao longo da gravidez. Isso não é fatal para o feto, mas é prejudicial.

Em geral, a mulher deve começar a se preocupar se vomitar mais de 3-4 vezes ao dia e se perder completamente o apetite ou se, na sua falta, os sintomas de mal-estar continuarem além do primeiro trimestre da gravidez. Diante desse cenário, é sempre aconselhável procurar ajuda médica.




Este texto se ofrece únicamente con propósitos informativos y no reemplaza la consulta con un profesional. Ante dudas, consulta a tu especialista.