O que é refluxo ácido?

Você já sentiu azia ou que o conteúdo do estômago estava subindo pelo esôfago? Essa condição é chamada de refluxo. Te contaremos a seguir em que ele consiste.
O que é refluxo ácido?
Saúl Sánchez

Escrito e verificado por el nutricionista Saúl Sánchez.

Última atualização: 10 março, 2024

O refluxo ácido é um sintoma experimentado por algumas pessoas com problemas de estômago e esôfago, sendo causado por uma irritação do epitélio devido ao ácido do estômago ou bile.  Trata-se de uma condição muito incômoda que pode afetar o bem-estar, além de causar outras patologias a médio prazo.

O refluxo ácido geralmente ocorre após a refeição. O fato delas serem recorrentes, quando existe tendência a sofrer com o problema, aumenta o risco de acidez. No entanto, pessoas que sofrem de hérnia de hiato podem desenvolver desconforto mesmo depois de consumir alimentos leves. Há também quem acorda no meio da noite com refluxo.

A função do esôfago

O esôfago é um tubo muscular que conecta a boca ao estômago. O alimento passa por ele ao ser engolido, gerando uma série de contrações para facilitar a descida. Ele possui uma válvula localizada no espaço anterior à conexão do estômago, que evita que o bolo alimentar retorne.

No entanto, esses esfíncteres nem sempre funcionam corretamente. Às vezes, ineficiências na sua função podem ocorrer, fazendo com que uma certa quantidade de ácido estomacal chegue ao esôfago, causando irritação e problemas na musculatura lisa que compõe o tubo.

Cabe destacar que, de forma específica, existem dois esfíncteres diferentes. O primeiro fica na parte superior do tubo, denominado esfíncter esofágico superior. Ele se abre durante o momento da deglutição para permitir que o alimento desça para o interior do tubo.

Existe um esfíncter esofágico interno, que é aquele que conecta o esôfago ao estômago. Ele tem a característica de não poder ser controlado voluntariamente, como acontece com a anterior.

Além disso ele pode se enfraquecer com o tempo, devido a uma dieta inadequada ou outras causas patológicas. Quando isso acontece se desenvolve o refluxo ácido. Isso é evidenciado por um estudo publicado na revista Missouri Medicine .

Sintomas do refluxo ácido

O refluxo ácido causa queimação retroesternal.
O refluxo gastroesofágico é uma condição bastante incômoda e óbvia. Além disso, podem ocorrer vários sintomas que não são facilmente relacionados num primeiro momento, como tosse.

Os sintomas do refluxo ácido, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Primary Care, são os seguintes:

  • Distensão abdominal.
  • Mal hálito.
  • Tosse.
  • Gás.
  • Azia e sensação de queimação no peito.
  • Sensação de algo preso na garganta.
  • Soluço.
  • Náusea.
  • Regurgitação.
  • Dor de garganta.
  • Vômitos.

Além disso, quando o refluxo ácido ocorre com frequência, é produzida uma alteração nas células que compõem o epitélio esofágico (as células mais superficiais do tecido). Essa condição é conhecida como esôfago de Barret, de acordo com uma revisão publicada na Disease-a-Month .

Por muitos anos esse problema esteve associado a um risco aumentado de formação de tumores. No entanto, atualmente existem divergências consideráveis sobre este assunto.

Cebe considerar que o carcinoma esofágico é um dos mais perigosos, já que a taxa de sobrevivência após 5 anos é inferior a 20%. Isso é evidenciado por um estudo publicado no World Journal of Gastroenterology. No entanto, essa patologia parece ser influenciada em maior medida por hábitos como o tabagismo ou outras condições como a obesidade do que pelo próprio refluxo.

Como na maioria dos tumores, o aumento da inflamação e da oxidação tendem a causar um prognóstico pior. Para a prevenção, é fundamental garantir a ingestão de antioxidantes na alimentação e manter bons hábitos de vida.

Causas de refluxo ácido

Existem vários fatores que podem condicionar a fraqueza dos esfíncteres esofágicos, o que causaria a sensação de refluxo ácido. Um dos principais riscos é a existência de uma hérnia de hiato.

Quando ela ocorre, é provocada uma incapacidade de fechar totalmente o esfíncter, o que torna mais provável que o conteúdo do estômago retorne ao esôfago.

Também podem ser identificados outros fatores de risco como sobrepeso, obesidade, gravidez, uso contínuo de medicamentos (como sedativos ou antidepressivos) e tabagismo. Deve-se levar em consideração que tanto o excesso de peso quanto o tabagismo aumentam a incidência de tumores relacionados ao trato digestivo.

Quando o estado da composição corporal melhora, geralmente também há uma melhora significativa nos sintomas. Por esse motivo, o refluxo associado à gravidez é transitório.

Diagnóstico

O diagnóstico de refluxo ácido geralmente é simples. Na verdade, muitas pessoas conseguem identificar essa condição sem consultar um especialista.

Além disso, normalmente nenhum exame clínico é realizado para confirmar a existência do problema, basta analisar o histórico médico e uma descrição detalhada dos sintomas. Em alguns casos, um exame físico pode ser feito.

Nem todas as pessoas apresentam refluxo esofágico de mesmo grau. Em muitos casos, essa é uma condição ocasional, ligada a excessos alimentares. No entanto, esse problema pode se tornar crônico. Nesse caso, é necessário utilizar uma série de exames diagnósticos para avaliar a competência do esfíncter e se existem problemas associados.

Normalmente são feitos os seguintes exames:

  • Endoscopia para avaliar o dano ao tecido.
  • Manometria esofágica, que mede as contrações musculares.
  • Monitoramento do pH esofágico e impedância.
  • Raios X do tubo após a ingestão de um líquido de contraste.

Tratamento para o refluxo esofágico

O tratamento do refluxo esofágico é baseado na mudança dos hábitos de vida, embora também existam medicamentos que podem ser usados para o alívio dos sintomas. De qualquer forma, o abuso de alguns deles é prejudicial à saúde.

Mudanças no estilo de vida

O refluxo ácido tem tratamento
Evitar bebidas alcoólicas e refrigerantes faz parte das mudanças dietéticas que podem ajudar a controlar o refluxo ácido.

Normalmente a adoção de uma dieta saudável pode aliviar os sintomas do refluxo esofágico. É importante consumir produtos e alimentos de fácil digestão, evitando os ultraprocessados com capacidade inflamatória e refeições fartas ou muito gordurosas. Os métodos de cozimento preferidos serão sempre grelhados, assados ou cozimento ao vapor ou com água.

Além disso, é importante evitar os seguintes itens:

  • Bebidas com gás.
  • Álcool.
  • Alimentos processados com alto teor de gordura trans (confeitos e fast food).
  • Substâncias irritantes como o café (embora isso dependa da tolerância individual).

A prática de exercício regular costuma ser benéfica, pois ajuda a controlar o peso corporal e a gerar bem-estar. É imprescindível evitar o tabaco e ambientes com fumaça. Na hora de dormir, é aconselhável inclinar a parte superior do corpo levemente para cima, para impedir a elevação da acidez e a ocorrência problemas relacionados ao descanso.

No que diz respeito ao planejamento da alimentação, é recomendável fazer refeições pequenas ao longo do dia. Também será necessário testar a tolerância a alguns alimentos de caráter irritante, como tomate, pimentas, hortelã…

Farmacologia

Para o tratamento do refluxo esofágico, existe uma série de medicamentos vendidos sem receita para o controle dos sintomas. De qualquer forma, o consumo deles é recomendado apenas em caso de crise, já que o abuso desses medicamentos é contraproducente. Além disso, é importante consultar um médico primeiro. Os mais comuns são os seguintes:

  • Antiácidos: atuam bloqueando os ácidos estomacais. De forma caseira, um efeito semelhante pode ser alcançado tomando um copo de leite. No entanto, alguns estudos comentam que a médio prazo essa solução pode ser contraproducente.
  • Subsalicilato de bismuto: Este medicamento reduz o fluxo de fluidos e ácidos para o intestino.
  • Bloqueadores do receptor H2: esses medicamentos reduzem a quantidade de ácido no estômago. Eles atuam rapidamente e possuem efeitos duradouros.
  • Inibidores da bomba de prótons: são os mais usados, pela sua capacidade de ajudar a controlar os sintomas e reduzir a produção de ácido estomacal. No entanto, há pesquisas que associam o uso regular dessa classe de compostos a um risco aumentado de desenvolver alguns tipos de câncer.

Quando visitar um médico?

Quando a azia passa de um problema pontual para uma condição frequente, é aconselhável consultar um médico. Ele pedirá exames para descobrir a origem da patologia, bem como para saber se há alguma alteração no epitélio esofágico.

Além disso, o tratamento farmacológico pode ser direcionado, se necessário, para melhorar o bem-estar ou para controlar os sintomas de forma eficiente.

Por outro lado, se o refluxo ácido costuma vir acompanhado de vômitos, será necessário procurar ajuda profissional. O mesmo se aplica caso haja dificuldade para engolir ou respirar. Nestes casos, pode haver outra patologia de base que condiciona o aparecimento do refluxo, que precisa ser tratada para impedir que ocorra progressão.

Refluxo ácido, um problema cada vez mais frequente

O aumento nas taxas de sobrepeso e obesidade faz com que o refluxo ácido seja cada vez mais frequente na população. Normalmente, quando o peso é reduzido e o estado da composição corporal é melhorado, costuma haver uma diminuição dos sintomas. No entanto, é possível que exista uma patologia subjacente que causa a azia, como uma hérnia de hiato.

De qualquer forma, se o refluxo ácido ocorrer com frequência, é aconselhável visitar um médico para fazer uma avaliação da competência dos esfíncteres. Além disso é benéfico melhorar hábitos de vida, apostar em uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos.

Embora existam tratamentos medicamentosos para o controle dos sintomas, é necessário recorrer a eles apenas quando seja estritamente necessário. Essas substâncias costumam ter efeitos colaterais no corpo, por isso não devem ser usados de forma abusiva.



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