Camuflagem social no autismo

A camuflagem social no autismo é uma estratégia para se inserir em situações sociais. Mostraremos o que é e o que dizem os especialistas.
Camuflagem social no autismo

Última atualização: 20 dezembro, 2022

O transtorno do espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação social, comportamentos repetitivos e presença de interesses restritos. Muitas crianças e adultos, para se adequarem à sociedade, escondem ou moldam sua personalidade. Isso é conhecido como mascaramento ou camuflagem social no autismo.

Na versão recente do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), o transtorno é classificado como um espectro. Dessa forma, os transtornos invasivos do desenvolvimento da versão anterior do manual foram agrupados em um só lugar. É pertinente lembrar disso ao abordar qualquer aspecto do transtorno, incluindo, é claro, a camuflagem social no autismo.

Características da camuflagem social no autismo

Segundo estimativas, 0,76% da população mundial sofre de transtorno do espectro autista. A porcentagem real varia de acordo com cada país, e seu melhor entendimento tem permitido diagnósticos mais precisos que antes passavam despercebidos.

Os pesquisadores alertam que a proporção entre os sexos é de 3:1 na relação homem-mulher, por isso é muito mais comum na população masculina.

Para enfrentar o dia a dia, as pessoas com o transtorno desenvolvem uma série de mecanismos ou estratégias que permitem a adaptação ao mundo social. Isso é chamado de mascaramento autista ou simplesmente camuflagem social no autismo.

Os especialistas a definem como “o processo pelo qual elas modificam seus comportamentos sociais naturais para se adaptar, enfrentar ou influenciar um mundo social amplamente neurotípico”.

A razão é muito simples: muitas delas experimentam reações negativas aos seus comportamentos naturais ou quando interagem com pessoas não autistas.

Como consequência, e naturalmente, elas manifestam uma série de mudanças graduais para adaptar sua personalidade, suas atitudes e seus comportamentos à paisagem social aceita em seu ambiente. Como um camaleão, elas se misturam com o ambiente para passar despercebidos e “sobreviver”.

Apesar disso, e como alertam as evidências, os autistas ainda apresentam dificuldades decorrentes da interação quando tentam se encaixar.

A camuflagem social no autismo não deve ser vista pelos pais como uma “cura” ou “melhoria” de seus traços de personalidade, pois esses traços ainda estão presentes. Na verdade, e como veremos em breve, essa estratégia costuma levar a alguns problemas.

Já estabelecemos que o distúrbio é mais comum em homens do que em mulheres. No entanto, especialistas descobriram que a camuflagem social no autismo é mais prevalente em mulheres.

Na verdade, as primeiras ideias em torno da estratégia focavam exclusivamente em mulheres autistas. As mulheres tendem a imitar ou memorizar os comportamentos sociais aceitos pelos outros e os assumem com mais frequência do que os homens.

Consequências da camuflagem social no autismo

A camuflagem social no autismo é comum
Na grande maioria dos casos, comportamentos repressores levarão a uma situação de frustração ou insatisfação.

Ao contrário do que se poderia esperar, a camuflagem social no autismo tem consequências mais negativas do que positivas. Podemos dividi-las em consequências de curto prazo e consequências de longo prazo.

No primeiro caso, a primeira consequência direta é o que se conhece como esgotamento autista. Os especialistas descrevem os seguintes sintomas como característicos do esgotamento do espectro:

  • Exaustão crônica.
  • Perda de habilidades.
  • Tolerância reduzida a estímulos.
  • Aumento da frustração.
  • Alterações de humor.

Os estressores da vida, a ausência de barreiras de apoio e a incapacidade de atender às expectativas são alguns dos catalisadores do desenvolvimento do esgotamento autista.

Tudo isso se manifesta naqueles que usam a camuflagem social para se encaixar em seus relacionamentos interpessoais. Esse tipo de exaustão se desenvolve tanto física quanto mentalmente.

As consequências a longo prazo do mascaramento autista são muito mais agudas. Um estudo publicado na Molecular Autism em 2021 descobriu que a camuflagem social é um fator de risco para o desenvolvimento de ansiedade e depressão.

Também tem sido associado ao estresse e à redução do bem-estar psicológico geral. Há evidências de que as experiências de camuflagem são um importante fator de risco suicida entre a população autista.

Como reconhecer o mascaramento autista?

A camuflagem social no autismo produz sofrimento
Prestar atenção às mudanças nos hábitos da pessoa afetada é essencial. Também é importante ir à terapia se não puder ser resolvido.

Nós expusemos que a camuflagem social autista tem um impacto negativo na saúde física e mental de jovens e adultos com o transtorno.

Reconhecer precocemente os sinais de mascaramento pode fazer uma diferença notável na minimização de suas sequelas, além de ser um catalisador para a busca de apoio profissional. Deixamos-lhe alguns sinais típicos que o devem alertar:

  • Imitam e repetem constantemente frases e comportamentos dos outros.
  • Praticam na solidão comportamentos que posteriormente serão desenvolvidos em contexto social.
  • Forçam o contato visual, apesar do desconforto gerado ao fazê-lo.
  • Disfarçam as ações repetitivas de forma que passem despercebidas pelos outros.
  • Memorizam uma lista de perguntas ou respostas para evitar longos momentos de silêncio ao falar com outras pessoas.

Em geral, pais, amigos, parentes e todos aqueles que fazem parte do círculo interno detectam uma mudança gradual de comportamento. A pessoa afetada se esforça para pertencer e ser incluída, e como seus traços não se enquadram no ambiente normativo tradicional, esse esforço é percebido como exagerado, superficial ou antinatural.

Como já avisamos, os profissionais de psicologia podem abordar o problema quando ele for detectado.



  • Cage E, Troxell-Whitman Z. Understanding the Reasons, Contexts and Costs of Camouflaging for Autistic Adults. J Autism Dev Disord. 2019 May;49(5):1899-1911.
  • Cassidy, S., Bradley, L., Shaw, R., & Baron-Cohen, S. (2018). Risk markers for suicidality in autistic adults. Molecular Autism. 2018: 9(1): 1-14.
  • Cook J, Crane L, Hull L, Bourne L, Mandy W. Self-reported camouflaging behaviours used by autistic adults during everyday social interactions. Autism. 2022 Feb;26(2):406-421.
  • Corbett BA, Schwartzman JM, Libsack EJ, Muscatello RA, Lerner MD, Simmons GL, White SW. Camouflaging in Autism: Examining Sex-Based and Compensatory Models in Social Cognition and Communication. Autism Res. 2021 Jan;14(1):127-142.
  • Hodges H, Fealko C, Soares N. Autism spectrum disorder: definition, epidemiology, causes, and clinical evaluation. Transl Pediatr. 2020 Feb;9(Suppl 1):S55-S65.
  • Hull L, Petrides KV, Allison C, Smith P, Baron-Cohen S, Lai MC, Mandy W. “Putting on My Best Normal”: Social Camouflaging in Adults with Autism Spectrum Conditions. J Autism Dev Disord. 2017 Aug;47(8):2519-2534.
  • Hull L, Levy L, Lai MC, Petrides KV, Baron-Cohen S, Allison C, Smith P, Mandy W. Is social camouflaging associated with anxiety and depression in autistic adults? Mol Autism. 2021 Feb 16;12(1):13.
  • Loomes R, Hull L, Mandy WPL. What Is the Male-to-Female Ratio in Autism Spectrum Disorder? A Systematic Review and Meta-Analysis. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2017 Jun;56(6):466-474.
  • Raymaker DM, Teo AR, Steckler NA, Lentz B, Scharer M, Delos Santos A, Kapp SK, Hunter M, Joyce A, Nicolaidis C. “Having All of Your Internal Resources Exhausted Beyond Measure and Being Left with No Clean-Up Crew”: Defining Autistic Burnout. Autism Adulthood. 2020 Jun 1;2(2):132-143.

Este texto se ofrece únicamente con propósitos informativos y no reemplaza la consulta con un profesional. Ante dudas, consulta a tu especialista.