Diferenças entre fobia e medo

Sentir medo em uma situação comprometedora é natural, mas não é normal se a pessoa responder excessivamente a um estímulo que não seja realmente ameaçador. É nesta ideia que se fundam as diferenças entre fobia e medo.
Diferenças entre fobia e medo
Samuel Antonio Sánchez Amador

Escrito e verificado por el biólogo Samuel Antonio Sánchez Amador.

Última atualização: 10 março, 2024

Todos nós temos medo de alguma coisa. Seja por instinto ou por uma experiência anterior, é normal que um objeto, um ser vivo ou uma situação gere certa rejeição, seja ela justificada ou não. Em qualquer caso, é necessário conhecer as diferenças entre fobia e medo, uma vez que um é uma resposta natural a um estímulo negativo e o outro representa um distúrbio psicológico.

Tem medo excessivo de alguma coisa e não sabe se está classificado no campo das fobias? Nesse caso, recomendamos que você continue lendo, mas também precisará procurar a ajuda de um profissional de saúde mental. Apenas um especialista na área poderá diagnosticar seu caso específico, portanto, não hesite em pedir ajuda.

Medos e fobias

Antes de enfrentar os dois termos, achamos interessante defini-los separadamente. Medos e fobias são condições muito diferentes e é necessário tratá-los como parte de planos mentais diferentes, não importa quão intimamente relacionados sejam.

O que é medo?

As diferenças entre fobia e medo incluem que o último é normal
O medo deve ser entendido como uma emoção básica e inevitável. Um ser humano saudável e funcional (e até mesmo alguns animais) freqüentemente sente medo.

O Dicionário Oxford define o medo como “o sentimento de angústia causado pela presença de um perigo real ou imaginário”. Também pode ser concebido como um sentimento de desconfiança que leva a pessoa a acreditar que ocorrerá um acontecimento contrário ao que deseja. É um conceito subjetivo, mas a resposta fisiológica que gera é quantificável.

O mecanismo do medo é exemplificado pela reação de luta ou fuga, uma resposta que ocorre nos seres vivos à percepção de dano, ataque ou ameaça à sobrevivência individual. Quando percebemos um perigo no meio ambiente, nossa hipófise é ativada e libera o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), enquanto as glândulas adrenais secretam epinefrina.

Esses mensageiros químicos promovem a síntese e a liberação do cortisol, o glicocorticóide que está associado por excelência às respostas ao estresse. Isso causa aumento da ação cardíaca, aumento da frequência respiratória, inibição do estômago (até a parada da digestão), dilatação dos vasos sanguíneos musculares, alargamento pupilar, aceleração da função coagulante e muitas outras alterações.

O medo acarreta o início da reação de luta ou fuga, que é mediada pelo sistema nervoso autônomo e pelos compostos hormonais mencionados. O corpo está nos dizendo algo claro: “direcione toda a sua energia para os músculos e seus sentidos, porque talvez você tenha que correr ou fugir da ameaça que percebe.”

Na reação de luta e fuga, processos não essenciais são imediatamente interrompidos e a energia é desviada para os músculos e órgãos sensoriais.

O que é uma fobia?

A fobia pode ser simplesmente definida como “um medo persistente e excessivo de um objeto ou situação”. Conforme indicado pela Clínica Universitária de Navarra (CUN), ocorre uma rejeição sistemática a um conceito que não deveria ser problemático em si (ou que é menos perigoso do que se percebe).

As fobias mais comuns são as dirigidas a determinados animais (como cobras, aranhas e insetos), embora também sejam comuns aquelas que têm sangue, altura, situações sociais e espaços abertos como conceito conflitivo. Ressalta-se que o evento ou objeto que provoca a reação determina a categoria em que cada fobia se insere.

A maioria das fobias começa na infância, adolescência ou início da idade adulta. Quando a pessoa é exposta de forma irracional ao objeto ou situação que teme, surge uma ansiedade severa, que se manifesta no plano físico e psicológico. Deve-se observar que as condições fóbicas não são consideradas aquelas em que o medo é causado por outra condição (como o transtorno obsessivo-compulsivo).

A fobia é uma resposta inadequada, ou seja, a reação da pessoa que a sofre não é acompanhada pelo mecanismo natural de resposta ao perigo.

Quais são as diferenças entre fobia e medo?

Já explicamos os dois termos brevemente, então é hora de verificar as disparidades entre eles. Antecipamos que a fobia é patológica, por isso requer intervenção psiquiátrica.

1. O medo é natural, enquanto a fobia não é

O medo é uma resposta adaptativa normal, uma vez que os seres vivos não poderiam permanecer no ambiente sem ele. É concebida como uma das 6 emoções básicas que são percebidas em todas as culturas humanas (e fora de nossa espécie), junto com alegria, tristeza, nojo, raiva e surpresa. É mais discutível que outros animais possam experimentar certos sentimentos, mas o medo é universal.

Vertebrados complexos como cães, gatos, ovelhas e porcos (entre muitos outros) mostram sinais claros de medo quando expostos a uma situação que consideram perigosa. As presas são muito mais vocais com essa emoção, pois estão preparados para mostrar medo e avisar o resto de seus congêneres quando encontram um predador.

O medo é adaptativo até certo ponto. O ser humano tem a resposta de lutar e fugir em nossa marca genética, pois no final do dia ainda precisamos aguçar nossos sentidos em situações extremas (acidente de trânsito, roubo ou incêndio). Como os estudos indicam, em humanos essa resposta é composta por estímulo, cognição e comportamento.

Por outro lado, a fobia não faz sentido do ponto de vista biológico ou comportamental. A resposta patológica resultante do estado emocional do paciente é muitas vezes muito pior do que a própria ameaça e não está associada ao aumento da sobrevivência. A fobia é um distúrbio apenas humano e não adaptativo, enquanto o medo é uma emoção universal que é experimentada além de nossa espécie.

2. Os sintomas são diferentes em cada caso

Outra diferença fundamental entre medo e fobia são os sintomas apresentados. Discutiremos eles separadamente e depois mostraremos uma série de conclusões comuns.

Sintomas de medo

O medo é composto por uma série de reações bioquímicas (luta ou fuga e por um componente emocional altamente personalizado e único. As sensações sofridas podem variar entre situações e pessoas, mas alguns dos sinais universalmente experimentados antes dessa emoção são os seguintes:

  • Calafrios.
  • Boca seca.
  • Náusea.
  • Batimento cardíaco acelerado.
  • Sentir falta de ar.
  • Sudoração.
  • Tremores.
  • Dor de estômago.

Todos esses sinais são normais até certo ponto, pois indicam que as energias corporais estão sendo desviadas para os sistemas que são necessários imediatamente. Em qualquer caso, psicólogos e psiquiatras podem ajudar a tornar mais controlável a intensidade da emoção.

Sintomas e sinais de fobia

A fobia é considerada um transtorno e, como tal, deve ser diagnosticada. De tempos em tempos, a American Psychiatric Association (APA em inglês) revisa seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), no qual coleta os sintomas necessários para detectar todos os transtornos reconhecidos internacionalmente.

A quinta edição deste documento (publicado em 2013) inclui os seguintes critérios para diagnosticar uma fobia específica:

  1. Medo excessivo e irracional: a pessoa sente um desconforto excessivo derivado da exposição a um estímulo que não é realmente perigoso.
  2. Resposta imediata de ansiedade: as sensações percebidas pelo paciente aparecem imediatamente após a exposição ao objeto da fobia.
  3. Resposta de esquiva ou estresse extremo: o paciente faz todo o possível para evitar o estímulo negativo (mesmo que seja contraproducente para ele). No caso de não conseguir escapar da situação, ele a suporta com estresse extremo e injustificado.
  4. Impacto significativo: a fobia deve piorar a vida do paciente em alguma área (trabalho, escola, vida pessoal e outras).
  5. Duração de pelo menos 6 meses: este parâmetro é encontrado em crianças e adultos.
  6. Não ser causado por outro transtorno: vários transtornos de ansiedade compartilham os sintomas com fobias, especialmente se falamos de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Na versão anterior do DSM (a quarta), os adultos com fobia tinham que reconhecer que sua resposta era desproporcional à suposta ameaça. Hoje, o reconhecimento não é necessário para o diagnóstico.

Também é interessante enfatizar o intervalo de tempo em que uma fobia deve aparecer. Os medos são normais e são percebidos em diferentes situações, mas uma fobia precisa estar em vigor por pelo menos 6 meses para ser considerada como tal. Além disso, sua intensidade é muito maior do que uma reação típica de luta ou fuga.

Uma das diferenças mais claras entre fobia e medo é que a primeira, por ser patológica, possui critérios diagnósticos específicos.

3. Diferentes tipos em cada caso

As diferenças entre fobia e medo incluem que existem muitos tipos de fobias específicas
Dentre os vários tipos de fobias, talvez uma das mais representativas seja a fobia social, que causa sérias dificuldades de relacionamento com outras pessoas em um contexto normal.

Outra diferença entre fobia e medo é que ambos são divididos em vários tipos, mas a fobia requer um pouco mais de especificação. Em um nível geral, 2 tipos de medo são propostos na esfera emocional:

  1. Medo inato: muitos medos são inatos e fazem parte da composição genética de nossa espécie. Por exemplo, ter medo de altura ou de certos animais (cobras e aranhas) é muito mais comum do que ter medo de um espaço aberto. É teorizado que esse medo inato é adaptativo, o resultado da seleção natural e universal em humanos.
  2. Medo aprendido: o ser humano também aprende a temer o que nos magoou ao longo da vida ou que, na falta disso, nos foi ensinado que nos magoa ou magoou alguém da mesma espécie. Sabemos que o fogo queima porque o aprendemos, não porque necessariamente o vivemos.

Por sua vez, a fobia como conceito divide-se em 3 categorias. Cada uma delas representa um distúrbio psicológico independente:

  1. Fobia específica: é o medo excessivo dirigido a um determinado objeto ou situação. Pode ser dividido em 4 subtipos: animal, ambiente natural, situacional e sangue- injeção. A exposição ao conflito pode levar a um ataque de pânico.
  2. Agorafobia: é o medo generalizado de sair de um espaço seguro e circunscrito, além do medo de possíveis ataques de pânico que a superexposição gera no paciente. Pode estar ligado a certas fobias específicas, mas ela é de tipo inespecífica (já que se tem medo de um conceito, não de algo específico).
  3. Fobia social: medo excessivo de qualquer situação que envolva interação com outros seres humanos. A pessoa tem medo do julgamento dos outros e de todas as coisas negativas que podem advir de estar perto de outras pessoas.

Assim, podemos ver que existem 2 tipos de medos e 3 tipos de fobias. É muito mais importante categorizar as fobias em distúrbios diferentes, uma vez que o tratamento e a causalidade diferem muito entre eles.

4. O medo é experimentado universalmente

O medo é uma das 6 emoções básicas vivenciadas por todos os núcleos humanos, independentemente do contexto e da cultura. Todos nós temos medo em algum momento de nossa existência, já que estamos vivos e queremos nos preservar de maneira inata. Esta é uma grande diferença das fobias, pois estas últimas não “deveriam” ser vivenciadas em uma sociedade ideal.

As fobias são distúrbios que pioram a qualidade de vida do paciente e, portanto, não são consideradas normais. De qualquer forma, os portais citados nos alertam que a prevalência dessas patologias é muito maior do que parece: as fobias específicas afetam 5 a 10% da população em geral em países como os Estados Unidos.

A fobia específica de tipo situacional é a mais comum em adultos, enquanto as outras três subvariantes são mais comuns na juventude.

Diferenças entre fobia e medo: patologia vs. normal

As diferenças entre fobia e medo são múltiplas, mas podem ser resumidas no seguinte ponto: todos os humanos têm medo em algum momento de nossas vidas, enquanto as fobias (de qualquer tipo) são consideradas patológicas e devem ser detectadas. O medo exagerado de um estímulo específico nunca pode ser justificado pela fisiologia humana.

Se você já se viu refletido nessas linhas, não se preocupe: a terapia cognitivo-comportamental e a dessensibilização sistemática são muito úteis para tratar fobias. Se você se colocar nas mãos de um profissional, mais cedo ou mais tarde verá seu medo irracional diminuir.




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