Viver com obesidade
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que atualmente mais de 650 milhões de pessoas sofram de obesidade. Muitas delas são crianças e jovens, com porcentagens que triplicaram desde 1975. A maioria dos pesquisadores não tem medo de rotular esses números como uma epidemia.
Como nos lembra a Harvard Health Publishing, reverter esse transtorno vai muito além de uma contagem de calorias. Já falamos sobre o tratamento da obesidade e como evitá-la, de forma que, nesta seção, nos concentramos em descrever algumas orientações que passam despercebidas entre muitos pacientes obesos.
As emoções ao viver com obesidade
Até pouco tempo atrás, a atenção às emoções era um problema secundário entre os especialistas que tratavam a obesidade. A maioria deles se concentrava na esfera física, esquecendo-se, assim, do impacto psicossocial complexo que envolve todas as pessoas obesas.
Felizmente, atualmente existe um consenso entre os pesquisadores de que o bem-estar psicossocial é parte essencial ao viver com obesidade. Embora o impacto negativo desse transtorno possa ser precebido de diferentes formas, veremos a seguir três das mais importantes.
Estigma
Como a European Coalition for People Living with Obesity (ECPO) muito bem aponta, o estigma é uma sequela frequente da obesidade. As pessoas obesas têm que lidar, desde muito jovens, com o viés negativo e preconceito de um grupo de pessoas em relação à sua condição.
De acordo com alguns estudos, o estigma, na maioria das vezes, se concentra em lugares-comuns sobre os motivos para o ganho de peso (por exemplo, que ele está relacionado apenas a comer demais ou não praticar exercícios). Ele pode vir de colegas, amigos ou familiares, e é um grande obstáculo no tratamento do transtorno.
Como consequência, as pessoas desenvolvem baixa autoestima, sentimentos de vergonha e culpa, ansiedade, pensamentos negativos e até suicidas. O estigma pode impedir que muitas pessoas obesas consigam um emprego (ou uma promoção), isolando-as socialmente, diminuindo seu desempenho educacional além de muitos outros obstáculos semelhantes.
Existem várias maneiras de combater o estigma. Uma das mais importantes é por meio de iniciativas públicas e privadas voltadas para a conscientização. Em muitos países, existem leis hoje destinadas a reverter essa tendência. As ações que você pode fazer por conta própria, segundo a Obesity Action Coalition (OAC), são as seguintes:
- Educar sobre as repercussões do estigma em seu círculo próximo (família e amigos). Incentive-os a fazer o mesmo.
- Expressar, sempre que possível e com boas palavras, o desacordo com certas atitudes preconceituosas sobre a obesidade.
- Ir à terapia com um psicólogo profissional para trabalhar os sentimentos negativos.
Depressão e obesidade
Existem poucos estudos e pesquisas que encontraram uma associação direta entre obesidade e depressão. Esta última afeta a todos os grupos de idade e gênero, e pode até persistir quando já houve progresso durante o tratamento. Sabe-se que episódios de depressão podem favorecer o ganho de peso, criando um efeito bola de neve a médio e longo prazo.
Há anos a depressão deixou de ser um transtorno excêntrico de pessoas que por algum motivo não queriam ser felizes. Seu estigma na sociedade está diminuindo, e a iniciativa de tratá-la por profissionais (psicólogos, psiquiatras, terapeutas e outros) literalmente salva milhares de vidas todos os anos.
Não hesite em consultar um especialista caso desenvolva algum dos sintomas de depressão. Como mencionamos, ela pode ser um grande obstáculo durante o tratamento. Isso sem falar de todos os problemas diretamente associados a ela. Conheça os sintomas da depressão para estar alerta aos sinais.
Aceitação
Por aceitação não nos referimos ao fato de que a obesidade é considerada um transtorno que não requer tratamento. Em vez disso, falamos sobre a aceitação de que se tem uma condição associada a dezenas de comorbidades e problemas que podem reduzir a expectativa de vida.
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT em inglês) é uma abordagem que tem sido usada como método para a perda de peso. Estudos e pesquisas apoiam a sua utilização, desde que ela seja aplicada por um profissional. O primeiro passo para alcançar a mudança é estar ciente da sua importância, algo que deve ser lembrado permanentemente ao viver com obesidade.
Dicas para viver com obesidade
Paralelamente ao cuidado emocional, existem muitas coisas que você pode fazer para viver com obesidade. Não exploraremos aqui as opções de tratamento que já apresentamos em outros artigos, mas sim as recomendações que podem tornar a sua vida mais simples ao lidar com esse transtorno.
- Conheça as iniciativas públicas e privadas na sua comunidade para prevenir e lidar com a obesidade (o CDC sugere começar com escolas, universidades, hospitais e locais de serviço de alimentação).
- Evite comer fora e substitua esse hábito por preparações caseiras.
- Limite o tempo que você passa na frente da tela (a Harvard TH Chang recomenda apenas duas horas por dia).
- Junte-se a grupos de apoio presenciais ou online que visam combater a obesidade.
- Faça um registro do que você come diariamente. Desta forma, será possível ter um acesso material aos seus hábitos alimentares ao final da semana.
- Envolva todos os membros da sua família na busca por hábitos saudáveis.
- Considere a contratação de um personal trainer para definir metas realistas.
- Não fique obcecado em alcançar objetivos de curto prazo.
- Pense na possibilidade da cirurgia apenas como última opção, e para quando você já tenha feito um progresso significativo (conforme recomendado pela American Heart Association).
É importante que você entenda que viver com obesidade não significa precorrer sozinho essa estrada. Especialistas de diversas disciplinas, familiares e amigos são um apoio de grande ajuda durante o processo. Quanto mais cedo você assimilar isso, mais comprometido estará com a manutenção do tratamento a longo prazo.
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