Síndrome do pôr do sol: sintomas, causas e tratamento

A síndrome do pôr do sol, também chamada de síndrome do entardecer, envolve episódios de agitação, irritação e confusão no início da tarde. Geralmente aparece em pessoas com doença de Alzheimer. Conheça os seus sintomas, causas e tratamentos.
Síndrome do pôr do sol: sintomas, causas e tratamento
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 08 abril, 2021

A síndrome do pôr do sol é um distúrbio que aparece principalmente em pessoas com doença de Alzheimer. Começa no início da tarde ou na hora de dormir. É caracterizada por sintomas como irritação, agitação, confusão e distúrbios comportamentais.

Também chamada de síndrome do entardecer, pode ser algo muito desagradável de se viver, tanto para o paciente quanto para os seus familiares. Entre as suas causas, encontramos uma possível alteração ou déficit no ritmo circadiano ou relógio biológico da pessoa, que se encarregaria de regular um ciclo adequado de sono e vigília.

“O crepúsculo é um fracasso diário da natureza”.

-Enrique Jardiel Poncela-

O tratamento da síndrome se concentra na redução dos sintomas, por meio de medicamentos e principalmente de medidas que promovam um sono tranquilo e reparador (higiene do sono), além de hábitos de vida saudáveis. Regular e ajustar a iluminação e outros fatores ambientais também pode ajudar.

Por outro lado, o acompanhamento emocional e o a contenção do paciente também serão elementos-chave nessa síndrome.

Síndrome do pôr do sol: o que é?

A síndrome do pôr do sol afeta pessoas mais velhas.
Essa condição afeta não só os pacientes de forma considerável, como também os cuidadores.

De acordo com o psicólogo residencial Ángel Moreno, em um estudo de 2007, a síndrome do pôr do sol é um dos fenômenos mais comuns na medicina geriátrica, e pode ser definida como um evento adverso psicológico-comportamental, que aparece principalmente em pessoas com a doença de Alzheimer.

Implica que essas pessoas se tornem muito inquietas, agressivas e agitadas à tarde e durante o entardecer. Assim, esta síndrome acarreta um período de extrema agitação e irritação que começa durante a tarde; mais especificamente, ocorre no início da tarde e geralmente dura até a noite.

Típica na doença de Alzheimer

Afeta até 20% das pessoas com Alzheimer, conforme afirma a Associação de Alzheimer de Chicago, por meio de vários estudos.

Pacientes que estão no estágio intermediário da doença têm maior probabilidade de desenvolvê-la. A principal causa parece ser uma disfunção do ritmo circadiano, que é o relógio biológico interno que todos nós temos e que é responsável por regular os ciclos de sono e vigília.

Sintomas

Os dois principais sintomas da síndrome do pôr do sol são a agitação e a confusão. No entanto, a estes sintomas se somam outros, sendo os mais frequentes:

  • Comportamentos de deambulação.
  • Desorientação e confusão (a pessoa não sabe onde está).
  • Tentativas de autolesão.
  • Atirar objetos compulsivamente.
  • Gritos ou mussitação (dirigidos a si mesmo ou aos outros).
  • Tentativa de rasgar as roupas.
  • Alta atividade noturna.
  • Sono/sonolência durante o dia.
  • Alterações comportamentais diversas.

Sabe-se que muitas pessoas com Alzheimer, ao entardecer, acreditam que “chegou a hora” de voltar para casa. Isso implicaria no aparecimento de alguns dos sintomas mencionados.

Por outro lado, existem alguns fatores que podem aumentar a probabilidade do aparecimento de alguns sintomas intimamente relacionados à etiologia do transtorno (conforme veremos mais adiante). Entre eles, encontramos:

  • Falta de luz ambiente (ou luz inadequada, iluminação fraca).
  • Aumento de sombras.
  • Ter uma infecção subjacente.
  • Mudanças ambientais repentinas.
  • Esgotamento mental e/ou físico (fadiga).
  • Sentimento de solidão, estar longe dos entes queridos.

Como a pessoa com síndrome do pôr do sol se comporta?

A síndrome do pôr do sol é um distúrbio difícil e complexo na medida em que gera muito sofrimento e desconforto para a pessoa, que se sente muito confusa. Cuidadores e familiares também sofrem as suas consequências. Vimos alguns dos sintomas comuns da síndrome, mas como uma pessoa com o transtorno se comporta, de forma geral?

De acordo com o estudo citado anteriormente, realizado por Moreno (2007), em nível expressivo, os pacientes com a síndrome do pôr do sol podem exibir um monólogo reservado, discussões animadas, gritos, xingamentos, vociferações e mussitações.

Assim, por meio desses comportamentos, solicitam constantemente a atenção do cuidador, reproduzindo maneirismos e queixas repetidamente.

Por outro lado, a confusão e a desorientação do paciente levam a um estado de ansiedade e medo, que se manifesta por meio de sintomas como raiva e irritabilidade, e que se alterna com momentos de apatia e depressão. Além disso, podem aparecer episódios de cefaleia e distúrbios perceptivos.

Causas

A principal causa associada à síndrome do pôr do sol é uma alteração nos ritmos circadianos. Esses ritmos são regulados por uma estrutura cerebral chamada núcleo supraquiasmático, onde a melatonina (o principal hormônio do sono) desempenha um papel importante.

Em pessoas que sofrem de Alzheimer, essa estrutura fica prejudicada, o que implica na diminuição da produção de melatonina. As consequências disso são alterações no relógio biológico interno, o que causaria confusão ao dormir e acordar.

Na etiologia da síndrome do pôr do sol, encontramos também outros fatores envolvidos, tais como: alterações ambientais, cansaço mental e físico (fadiga), pouca iluminação e outras doenças que causariam desconforto e dor ao paciente. Mais detalhadamente, em relação às suas causas, encontramos o seguinte:

  • A exaustão física e mental, juntamente com a confusão diante de lugares e pessoas desconhecidas, pode intensificar os sintomas.
  • Um ambiente tenso pode causar e piorar os sintomas.
  • A má iluminação pode gerar sombras e aumentar a confusão da pessoa, que fica cada vez mais agitada.

Tratamento: medidas gerais

A síndrome do pôr do sol requer suporte médico.
O apoio médico e psicológico pode melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

No tratamento da síndrome do pôr do sol, recorre-se a diversos tipos de medidas: ambientais, nutricionais, farmacológicas, médicas, psicológicas… Algumas técnicas que geralmente são aplicadas para melhorar esta síndrome são as seguintes:

  • Expor o paciente à luz natural (e, se não for possível, à artificial) durante as primeiras horas da manhã para regular o seu relógio biológico.
  • Redução do ruído ambiental.
  • Optar por colocar uma música relaxante.
  • Transmitir tranquilidade, segurança e calma.
  • Impedir que a pessoa com Alzheimer durma durante o dia.
  • Praticar exercícios físicos durante o dia pode favorecer o sono.
  • Eliminar substâncias estimulantes como a cafeína.
  • Manter uma alimentação saudável.
  • Estabelecer horários fixos para comer, tomar medicamentos, realizar atividades, etc.
  • Evitar o uso injustificado de medicamentos.
  • Praticar a escuta ativa com o paciente, oferecendo suporte emocional.
  • Fazer pequenos passeios com pessoas da família.
  • Não sujeitar o paciente a restrições físicas durante a noite.
  • Consultar o médico sobre o melhor horário para tomar a medicação.

Tratamento médico e acompanhamento emocional

Para além destas medidas, geralmente se recorre a um tratamento médico/farmacológico, que será personalizado em cada caso. Às vezes, são usados medicamentos como ansiolíticos ou antidepressivos.

Em nível psicológico, opta-se por intervenções voltadas para a melhoria do estado emocional da pessoa, seja por meio da terapia cognitiva ou de outras orientações teóricas.

Acompanhar em todos os momentos

A prevenção de autolesões também será um aspecto a ser levado em consideração. O importante será que a pessoa se sinta acompanhada durante os momentos de maior agitação.

Também estamos falando de um sentido físico; acompanhar a pessoa quando deambular durante esses episódios noturnos também pode ajudar para que ela se sinta melhor ou mais calma. Nesse sentido, devemos dar espaço e supervisioná-la. Será melhor facilitar a deambulação do que evitá-la, pois isso pode aumentar a sua agitação ou irritabilidade.

A psicoeducação dirigida ao paciente e seus familiares pode ser eficaz para melhorar os sintomas da pessoa, o que inclui informações detalhadas sobre a síndrome, possíveis causas, estratégias para amenizar os sintomas, etc.

Uma síndrome complexa com muitas opções terapêuticas

A síndrome do pôr do sol, conforme pudemos explorar ao longo deste artigo, é uma condição capaz de piorar consideravelmente a qualidade de vida do paciente e seus cuidadores.

Procurar o serviço médico ou psicológico correspondente de forma precoce e responsável pode ajudar a prevenir muitas complicações derivadas da doença.



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  • Moreno, A. (2007). Correlatos de incidencia del ocaso en estados anímicos, agitación y conducta agresiva en ancianos: Síndrome de Sundowning. SINTITUL-5: 72-80.

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