O que é doença celíaca silenciosa?

A doença celíaca silenciosa é uma manifestação da doença celíaca que não apresenta sintomas. Vamos ver por que ela é tão perigosa e qual o tratamento adequado.
O que é doença celíaca silenciosa?

Última atualização: 05 julho, 2021

A doença celíaca silenciosa, também conhecida como doença celíaca assintomática, é uma das muitas manifestações que essa doença autoimune pode ter. Embora a maioria das pessoas associe a doença celíaca a sinais gastrointestinais crônicos, a peculiaridade dessa variante é que o paciente não desenvolve nenhum sintoma.

Apesar disso, as complicações relacionadas ao quadro permanecem latentes. Como a Gluten Free Society nos lembra, a doença celíaca silenciosa é uma causa potencial de morte prematura nos pacientes. Hoje veremos por que motivo, como ela é diagnosticada e a importância de uma dieta sem glúten para controlá-la.

Características da doença celíaca silenciosa

A doença celíaca silenciosa é difícil de detectar.
O detalhe mais característico da doença celíaca silenciosa é que as manifestações clínicas gastrointestinais usuais muitas vezes passam despercebidas ou não se desenvolvem.

Em um quadro de doença celíaca típica, os pacientes manifestam sintomas gastrointestinais após a ingestão de glúten. Estes, em geral, são dores abdominais, diarreia, prisão de ventre e flatulência. Às vezes, o distúrbio também pode provocar sintomas em outras partes do corpo, como fadiga, dores nos ossos, depressão ou dores nas articulações.

Quando isso acontece, o paciente relaciona a ingestão de alguns alimentos com o aparecimento dos sintomas. Isso o motiva a consultar um especialista e, com resultados positivos, é diagnosticada a doença celíaca.

No entanto, nada disso acontece com a doença celíaca assintomática – não há nenhum sinal óbvio de que algo errado está acontecendo quando são ingeridos alimentos com glúten.

Às vezes, podem ocorrer sintomas muito vagos, como fadiga ou visão turva. A desconexão desses sinais evita que as pessoas suspeitem do que está por trás deles.

Apesar da ausência de sintomas na doença celíaca silenciosa, o dano colateral permanece o mesmo: pode haver atrofia nas vilosidades do intestino e maior chance de sofrer de algumas doenças.

Por exemplo, estudos e pesquisas indicam que complicações ósseas são frequentes em pacientes com essa manifestação. As evidências indicam que a doença de Basedow e o diabetes também podem surgir como condições colaterais, com prevalências de 25% e 20%, respectivamente.

Também podem ocorrer anemia ou outras doenças autoimunes, como psoríase ou artrite reumatoide. Podem passar anos ou até décadas para que ocorram complicações. O detalhe é que elas sempre ocorrem; esse é o perigo.

Como a doença celíaca silenciosa é diagnosticada?

A ausência de sintomas da doença celíaca silenciosa complica a detecção precoce do distúrbio. Tal como acontece com a manifestação sintomática, são necessários testes sorológicos e de DNA específicos para o seu diagnóstico. Estes, por sua vez, requerem a confirmação de uma endoscopia e sua respectiva biópsia.

Por isso, existem certos padrões que devem alertar o especialista de que o paciente sofre desse distúrbio. Por exemplo, a condição é conhecida por ter uma alta predisposição genética. Se um membro da família a tiver, então, como protocolo, a possibilidade da doença deve ser descartada nos outros familiares. Isso se aplica mesmo se houver uma ausência completa de sintomas.

Os exames necessários também devem ser feitos quando a pessoa sofre de outra doença autoimune. Pacientes que sofrem de anemia devem ser rastreados para doença celíaca silenciosa, assim como pacientes com síndrome de Down ou alguma forma de desnutrição.

Existem evidências de que essa variante é mais comum em adultos do que em crianças, pois estas últimas geralmente desenvolvem sintomas crônicos, de modo que a doença é detectada em idade precoce. Portanto, não existe um protocolo de diagnóstico estabelecido.

Os exames apropriados apenas serão sugeridos quando houverem indícios externos de que a pessoa faz parte de grupos de risco ou quando as manifestações colaterais forem evidentes.

Dieta sem glúten na doença celíaca silenciosa

A doença celíaca silenciosa possui tratamento.
Embora uma dieta sem glúten seja a solução para essa doença, às vezes as restrições alimentares não são seguidas pelo paciente.

Feito o respectivo diagnóstico da doença, o paciente deve iniciar o mesmo tratamento para a doença celíaca sintomática: abandonar o glúten da dieta. As evidências indicam que isso reduz as chances de desenvolvimento de condições colaterais e estimula a recuperação das vilosidades no intestino, caso elas estejam danificadas.

Uma dieta com essas características pode representar um problema para os pacientes. Por não apresentarem nenhum sintoma, eles podem achar desnecessário seguir estritamente a dieta alimentar.

Por esse motivo, é comum que muitos a interrompam ocasionalmente, alternando a ingestão de glúten de acordo com as oportunidades (refeições em restaurantes, encontros com amigos e outras situações).

Estudos mostram que pacientes com doença celíaca silenciosa têm uma percepção negativa de seu bem-estar após a implementação de uma dieta sem glúten. Abandonar permanentemente alguns dos grupos de alimentos preferidos pode piorar um pouco a qualidade de vida, especialmente quando o paciente não sente que eles causam danos reais ao seu corpo.

Em qualquer caso, é dever do especialista informar ao paciente sobre a importância da adesão total ao tratamento. Se o glúten for incluído, mesmo ocasionalmente, o desgaste nas vilosidades retornará junto com uma maior prevalência de complicações. Felizmente, hoje é possível ter acesso a centenas de alternativas sem glúten, como massas, farinhas e pães.

Com a mediação de um nutricionista e um pouco de criatividade, esse processo não diminui a qualidade de vida. Tudo é uma questão de se adaptar, ouvir os profissionais e ter o apoio da família e dos amigos.



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