O que é doença celíaca latente?

Muitas pessoas associam a doença celíaca a sintomas gastrointestinais. Mas o que acontece quando os pacientes não desenvolvem sinais ou outras complicações? Hoje vamos te mostrar o que é a doença celíaca latente e como ela difere das outras manifestações mais comuns do transtorno.
O que é doença celíaca latente?

Última atualização: 06 julho, 2021

A doença celíaca latente é uma das muitas manifestações que a doença celíaca pode ter. Embora a incidência dela tenha sido relatada por várias décadas, a sua forma de manifestação mostra quão pouco conhecimento temos sobre esse distúrbio autoimune. Hoje ensinaremos tudo o que se sabe sobre o assunto, incluindo o processo de diagnóstico e os tratamentos indicados pelos especialistas.

Características da doença celíaca latente

Doença celíaca latente é rara.
Embora a incidência da doença celíaca latente seja baixa, seu diagnóstico é realmente difícil devido à ausência de sintomas.

A doença celíaca latente é diagnosticada em pacientes que carregam os genes para a doença, mas que ainda não desenvolveram os sintomas. Eles têm uma dieta à base de glúten e a biópsia endoscópica não mostra atrofia nas vilosidades intestinais.

A diferença que ela apresenta em relação à doença celíaca silenciosa ou assintomática é que, nesses casos, os diagnosticados desenvolvem atrofia nas vilosidades intestinais. Já as pessoas com a variante latente ainda não desenvolveram sintomas, embora eles ocorrerão em algum momento do desenvolvimento da doença (ou ao menos ocorreram no passado).

Geralmente essa doença tem uma baixa prevalência na população. Pesquisadores discutem que essa variante nos obriga a reconsiderar tudo o que se sabe sobre a doença até o momento.

A razão disso é que, até onde sabemos, a biópsia intestinal das vilosidades é o único método 100% seguro para detectá-la. Descobrir que essa eficácia não é total, portanto, obriga os especialistas a modificar a forma de compreender a doença.

Embora os pacientes não apresentem quaisquer sintomas ao comer glúten, sinais leves ainda podem se desenvolver. Por exemplo, as evidências sugerem que até 67% deles podem ser anêmicos e cerca de 40% apresentam sintomas vagos de forma intermitente.

Ou seja, é possível que se desenvolvam episódios esporádicos de constipação ou diarreia, tantos que seja improvável a relação com um problema gastrointestinal. Os pacientes também podem manifestar baixa densidade mineral óssea.

Complicações da doença celíaca latente

Vamos recordar brevemente o que é a doença celíaca latente: a ausência de sintomas e danos às vilosidades, mas com sorologia positiva para a doença. Como os pacientes consomem uma dieta à base de glúten e seus corpos estão sujeitos a complicações, as chances de certas doenças são maiores do que em pessoas sem esses genes.

Por exemplo, uma pesquisa publicada na Fertility and Sterility em 2011 sugere que esta variante pode representar um risco para a saúde reprodutiva das mulheres. Evidências e estudos também indicam que existe a passibilidade de desenvolvimento de epilepsia e doença de Crohn.

O problema com essa variante é que não se sabe quando o seu comportamento passará de latente para ativo. Nem se o estado das vilosidades permanecerá estável ou qual a probabilidade de desenvolvimento de complicações no futuro. Por este motivo, essa é considerada uma das formas mais perigosas de manifestação da doença celíaca.

Diagnóstico de doença celíaca latente

Como os estudos mostraram, uma biópsia é inútil para diagnosticar a doença. A única maneira de fazer isso é por meio de testes sorológicos, que medem anticorpos específicos contra certas substâncias dentro do corpo.

A Celiac Disease Foundation nos lembra que o exame consiste no teste tTG-IgA. Por sua vez, os anticorpos IgA endomisial, IgA sérico total, peptídeo de gliadina desamisado e proteína de ligação a ácido graxo intestinal podem ser testados.

Devido à ausência de complicações, o diagnóstico da doença celíaca latente muitas vezes passa despercebido. Os seguintes grupos de risco devem ser testados para descartá-la:

  • Pessoas que passaram por vários problemas intestinais na infância.
  • Pessoas com síndrome de Down.
  • Pessoas com histórico familiar de doença celíaca ou problemas gastrointestinais.
  • Pessoas com outras doenças autoimunes, como artrite reumatoide, lúpus e assim por diante.

O primeiro caso é de especial interesse. A doença celíaca costuma se manifestar durante a infância, mas depois passa para um estado latente que pode durar décadas ou ser permanente. Se durante a sua infância você sofreu de complicações como diarreia, prisão de ventre, dor abdominal ou flatulência de forma recorrente, deve fazer testes sorológicos.

Tratamento para doença celíaca latente: dieta sem glúten?

Dieta livre de glúten.
A evolução clínica das pessoas afetadas, os resultados dos estudos complementares e o parecer médico influenciam na decisão final de não consumir glúten.

Finalmente chegamos ao ponto crucial: o tratamento. Apesar da ausência de sintomas e das complicações relacionadas serem menores do que nos outros tipos (por exemplo, doença celíaca refratária e clássica), os pacientes são aconselhados a eliminar definitivamente o glúten da dieta.

Isso, é claro, pode representar um desafio na adesão ao tratamento. Afinal, essa proteína está presente em centenas de produtos alimentícios. No entanto, os benefícios que essa mudança acarreta devem ser levados em consideração, especialmente se não houver certeza de que o distúrbio ficará latente por anos ou evoluirá para um estado sintomático inesperadamente.

Se você acha que eliminar o glúten representa uma mudança muito drástica, pode tentar reduzir a quantidade consumida. Corte pela metade a frequência com que você come pão, aveia, bolachas, biscoitos, massas e outros alimentos. Também é recomendável fazer um check-up em busca de deficiências ou problemas ocultos relacionados à doença.

Caso tudo esteja em ordem, você pode manter uma dieta à base de proteínas, desde que em quantidade reduzida, e fazer uma consulta anual com um especialista para manter a doença sob controle. Se você não quer correr riscos, consulte um nutricionista para traçar um plano que elimine o glúten da sua dieta e complemente com uma alimentação balanceada.



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