Marca-passo: o que é e como funciona?
O coração humano é composto por 4 cavidades(2 átrios e 2 ventrículos) que constituem a estrutura muscular que, ao se contrair, bombeia o sangue para as artérias que irrigam o corpo.
Para isso, dependem de um sistema elétrico formado por dois nós (sinusal e atrioventricular) conectados entre si por fibras nervosas que inervam o músculo cardíaco. É assim que os impulsos rítmicos que fazem o coração se contrair são gerados. Quando esse sistema elétrico falha, o marca-passo entra em ação.
O que é um marca-passo?
O marca-passo é um pequeno dispositivo eletrônico cuja função é estimular o coração quando o sistema de condução fisiológica falha.
De acordo com a Sociedade Galega de Cardiologia, a condição mais comum em que um marca-passo deve ser implantado é a bradicardia, já que o coração bate tão devagar que não bombeia sangue suficiente para todo o corpo. Nesse caso, a pessoa pode sentir tontura, perda de consciência, fadiga, dor no peito ou confusão mental.
Doenças que causam bradicardia
- Disfunção do nó sinusal: é uma condição em que o nó sinusal, que é o principal responsável por gerar o impulso elétrico e, portanto, regular a frequência de descarga no coração, é defeituoso e se criam longas pausas em que o coração para de bater.
- Bloqueios átrio-ventriculares: o estímulo gerado nos nódulos não é transmitido ao músculo cardíaco porque as vias pelas quais esse impulso passa são defeituosas. Se este bloqueio for completo, o marca-passo é sempre indicado, quando não for completo vai depender do paciente apresentar sintomas ou não.
Componentes de um marca-passo
Segundo a publicação da Sociedade Argentina de Eletrofisiologia Cardíaca, ao simular a fisiologia elétrica normal, o marca-passo é composto por um gerador de pulsos e pelos cabos (também chamados de eletrodos) responsáveis por transportar esse impulso elétrico até o músculo cardíaco.
O gerador é uma pequena caixa de metal que não é maior do que um relógio de bolso antigo. É composto pelas seguintes partes:
- Uma bateria, que tem vida média aproximada de 8 a 12 anos dependendo do modelo, do percentual de uso de marca-passo exigido por cada paciente e da programação.
- Um microprocessador no qual os circuitos eletrônicos estão localizados.
- Uma área onde os eletrodos conectados estão localizados.
Já os eletrodos, são cabos flexíveis revestidos com material isolante que desempenham a função de transmitir os impulsos do gerador para o coração.
Você já se perguntou como funciona o marca-passo?
Os eletrodos monitoram constantemente a frequência cardíaca espontânea do coração. Quando esta cai abaixo de uma frequência previamente programada, o gerador é acionado, o que emite um estímulo elétrico para que os batimentos cardíacos voltem a aumentar. Em outras palavras, o marca-passo evita que a frequência cardíaca caia, sempre mantendo a frequência cardíaca acima de um limite definido.
Os marca-passos são controlados por equipamentos com capacidade de ler o software e obter todas as informações que ficam armazenadas no gerador. Exemplos dessas informações são o estado dos cateteres, a vida média da bateria, a programação, o percentual de uso, entre outros.
Tipos de marca-passo
Existem três grupos principais de marca-passos:
- Unicameral: estimulam apenas o átrio ou apenas o ventrículo. Eles são chamados de AAI e VVI.
- Bicameral (atrioventricular): afetam o átrio e o ventrículo, geralmente do lado direito. Esses marca-passos são chamados de marca-passos em modo VDD e DDD.
- Tricameral: também chamado de sistema de ressincronização cardíaca, suportam o átrio direito e ambos os ventrículos. Este tipo de marca-passo é usado em casos complexos onde um marca-passo é necessário para melhorar a função ventricular esquerda.
Os nomes mencionados são compostos por siglas universalmente estabelecidas que ajudam a ter uma linguagem comum para se referir ao tipo de marca-passo de que se fala.
- A primeira letra define a câmara cardíaca estimulada: A para átrio e V para ventrículo.
- A segunda letra, é a câmara do coração que está sendo sentida.
- A terceiro é o mecanismo de ação: I para inibição, T para estimulado (em inglês, triggered) ou D no caso de ambos.
Os tipos de marca-passos mais usados são de câmara unicameral e bicameral.
Procedimento para colocar um marca-passo
O implante de marca-passo é um procedimento simples realizado por um cardiologista ou médico especialista. É colocado na sala de cirurgia sob anestesia local com ou sem sedação, ou seja, no segundo caso o paciente estará acordado durante a cirurgia.
- Ele começa colocando a anestesia na área onde o marca-passo irá.
- Em seguida, procedemos à punção da veia subclávia, por onde passará uma série de fios que serão fixados nas paredes do coração.
- Uma pequena incisão é feita na pele do tórax abaixo da qual o gerador conectado aos eletrodos é colocado. Os marca-passos geralmente são colocados no lado esquerdo, já que a maioria das pessoas é destra. Além disso, o procedimento é mais simples nesse lado.
- Finalmente, a pele é suturada deixando todo o sistema sob ela.
Complicações da intervenção
É importante observar que, embora a cirurgia de implante de marca-passo seja bastante simples, podem ocorrer algumas complicações.
Complicações associadas ao procedimento cirúrgico
- Pneumotórax: refere-se ao colapso do pulmão quando o ar entra entre os dois fólios da pleura (um “pano” fino que cobre o pulmão e a caixa torácica), que pode ocorrer quando o marca-passo é inserido. O tratamento consiste na colocação de um tubo no tórax que drena esse ar acumulado.
- Derrame pericárdico: é a presença de sangue entre o coração e o pericárdio (espécie de bolsa que cobre o coração). Pode ser devido à perfuração do miocárdio quando cateteres são colocados nele. Se for leve, é reabsorvido espontaneamente e requer apenas controle clínico e ultrassonográfico. Se for grave, pode ser necessária uma punção pericárdica para evacuação de emergência do sangue acumulado.
- Hematoma de bolsa: é o acúmulo de sangue no local onde foi colocado o gerador. É mais comum em pacientes em tratamento anticoagulante. Geralmente, não requer tratamento específico e espera-se que esse sangue seja reabsorvido pelo organismo, nos casos mais graves deve ser drenado.
- Trombose venosa: a presença de uma estrutura externa ao corpo, como cateteres de marca-passo, pode favorecer a formação de trombos (coágulos) capazes de obstruir as estruturas vasculares, impedindo o retorno normal do sangue ao coração. Isso faz com que o braço em questão inche e fique dolorido. O tratamento é baseado no uso de anticoagulantes por um período de 6 a 12 meses.
Complicações associadas ao dispositivo
- Infecção associada ao dispositivo: dependendo da gravidade, pode exigir desde o uso de antibióticos até a remoção completa do dispositivo.
- Deslocamento dos cateteres: os cateteres são fixados às paredes do coração por meio de um sistema de ancoragem na ponta dos mesmos. Conforme o tempo passa, uma reação fibrosa se acumula ao redor dos cateteres, permitindo que eles se fixem com mais firmeza. Durante os primeiros 8-12 meses em que a fibrose ainda não se desenvolveu, os cateteres podem se deslocar e precisar ser reposicionados.
Com que freqüência o marca-passo deve ser verificado?
O cronograma de acompanhamento pode mudar de médico para médico. Geralmente, sete dias após a alta, os pontos são retirados.
As consultas de controle são feitas um mês depois, e três meses após o implante e, por fim, os check-ups periódicos são a cada 6 a 12 meses. Durante eles, são avaliadas a integridade do sistema e o estado da bateria, que, conforme mencionado anteriormente, dura de 8 a 12 anos aproximadamente. No entanto, quando a bateria atinge sua meia-vida, o programador dá um alerta.
É importante que esses pacientes sempre procurem o médico em caso de febre, dor forte no local onde o marca-passo foi implantado ou se houver saída de sangue ou pus da ferida, pois esses sintomas podem indicar que há uma complicação.
Precauções: cuidados após a implantação do marca-passo
Um paciente com marca-passo pode levar uma vida quase normal com alguns cuidados e restrições, isso porque existem equipamentos que emitem ondas de radiofrequência ou eletromagnéticas. As atividades do dia a dia, como higiene, atividade sexual ou alimentação, não precisam ser modificadas.
Algumas restrições incluem o seguinte:
- Idealmente, durante o primeiro mês, nenhum movimento brusco ou sustentação de peso deve ser feito com o braço do mesmo lado onde o marca-passo foi implantado. Isso permite a cicatrização normal da ferida e evita a infecção ou o deslocamento dos cateteres.
- A ressonância magnética (RM) é contraindicada em pacientes com marca-passos. No entanto, agora existem marca-passos que são compatíveis com RM, se programados com antecedência no “modo RM”.
- Outros procedimentos médicos que podem interferir são o eletromiograma ou tratamentos cinesiológicos como eletroestimulação, eletroanalgesia e magnetoterapia.
Testes como raios X, ultrassons, tomografias computadorizadas, estudos de medicina nuclear, densitometria e mamografias podem ser feitos sem riscos.
Precauções com relação a algumas atividades específicas
Embora os pacientes com marca-passo possam levar uma vida quase normal, há algumas situações que devem ser evitadas ou feitas com cautela. Nós as explicamos para você.
Exercício
Esportes que envolvam contato físico violento, como futebol ou boxe, não são recomendados. Golpear o local do implante do marca-passo pode causar danos ao grupo gerador ou aos eletrodos. A natação não é proibida, mas se for praticada, é aconselhável fazê-la com companhia.
Viajar
Durante as verificações de segurança no aeroporto, qualquer pessoa deve passar pelo detector de metais. É importante que voce se apresente como “pessoa que porta marca-passo” para não ter problemas com o detector.
Se o alarme soar, isso indicará que você tem algo metálico. Nesse caso, o pessoal de segurança irá passar por você um detector de metais portátil. Nesse momento, deve-se pedir a ele que não passe sobre a área do marca-passo, indicando o local onde está implantado.
As mesmas indicações devem ser seguidas no caso de passar por algum detector de metais, seja de supermercado, lojas ou bancos, entre outros.
Tomar sol
Pessoas com marca-passos podem tomar sol, mas com cautela. A exposição por longos períodos de tempo não é recomendada para evitar que o sistema superaqueça e cause queimaduras internas.
Usar o telefone
Os telefones celulares podem produzir interferência temporária. É aconselhável atender a chamada no ouvido oposto ao local onde o marca-passo está instalado, bem como colocá-lo no cinto ou jaqueta (ou seja, longe da área do implante) quando não o estiver usando.
Uso de eletrodomésticos e outros aparelhos elétricos
Eletrodomésticos e equipamentos de informática comuns não geram interferência, mas devem estar em ótimas condições, ser aterrados e evitar colocá-los sobre a área do marca-passo.
Ipods ou walkie-talkies podem causar interferência temporária se estiverem a menos de 15 centímetros. Emissores de radiofrequência fortes não são recomendados.
Ferramentas de soldagem e serras elétricas podem afetar o funcionamento adequado do marca-passo, pois a vibração pode fazer com que o sensor de movimento seja ativado. Isso normalmente ajuda a aumentar a frequência cardíaca quando a pessoa está se exercitando e pode aumentá-la desnecessariamente.
Mantenha uma boa qualidade de vida com os cuidados adequados com o marca-passo
Embora possa parecer complicado, existem poucas complicações associadas ao uso de um marca-passo quando ele está dentro de sua vida útil. Com os cuidados necessários, o acompanhamento médico regular e as mudanças no estilo de vida será mais que suficiente para que o aparelho não cause problemas.
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