Dieta para a hérnia de hiato
A hérnia de hiato é um problema de saúde que ocorre na parte superior do estômago, onde uma parte do tecido se projeta através do hiato. Essa condição costuma gerar o aparecimento de refluxo esofágico, uma vez que os esfíncteres deixam de desempenhar sua função corretamente e o conteúdo do estômago sobe através do tubo.
Existem muitos casos de hérnias de hiato que não produzem sintomas. No entanto, em outras ocasiões elas geram uma série de problemas que afetam negativamente o bem-estar da pessoa. Nestes casos, uma mudança na dieta e no estilo de vida devem ser propostos para controlar a doença.
Dieta para a hérnia de hiato
O objetivo da dieta para a hérnia de hiato é conseguir uma fácil digestão das refeições, além de melhorar o estado da composição corporal. Se o excesso de peso for corrigido, os tecidos do estômago estarão submetidos a menos pressão, de modo que a parte que se projeta durante o hiato pode ser reduzida progressivamente. Isso corrigiria o problema.
No entanto, essa “resolução” da hérnia nem sempre ocorre, embora em muitas ocasiões a doença possa se tornar assintomática com uma mudança no estilo de vida. É importante eliminar os alimentos que veremos a seguir, pois eles provocam irritação e podem causar problemas digestivos.
Cabe destacar que a dieta para a hérnia de hiato tem um caráter muito individual. Não existe consenso sobre quais alimentos causam desconforto a nível geral, de forma que a tolerância deve ser testada em cada pessoa. Sim, é necessário evitar alguns desses alimentos, mas outros que são considerados saudáveis podem causar reações diferentes em cada paciente.
A verdade é que um dos pontos-chave tem a ver com a redução no tempo em que a comida fica no estômago. Ela causa menos secreção interna de ácido, o que alivia os sintomas e reduz o possível refluxo. Para isso é necessário escolher alimentos de digestão simples.
Os alimentos que conseguem prolongar o tempo de esvaziamento gástrico são os com maior teor de gordura, como alimentos fritos, queijos, sorvetes, alimentos ultraprocessados, embutidos…
As proteínas na hérnia de hiato
Um nutriente essencial na dieta para o tratamento da hérnia de hiato é a proteína. Esses elementos são capazes de auxiliar na reestruturação e recuperação do tecido, o que em alguns casos pode causar o fechamento do esfíncter. Desta forma, essa pode ser a chave para aumentar a contribuição de vitamina C.
Esse nutriente é essencial para aumentar a síntese de colágeno endógeno, de acordo com um estudo publicado na revista International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism. Esta proteína é a mais abundante no músculo. Quando sua produção é aumentada, ocorre uma restauração mais eficiente do tecido, o que pode beneficiar os esfíncteres do esôfago.
Geralmente se considera a suplementação diária com um grama dessa vitamina como tendo um efeito benéfico na síntese de proteínas. No entanto, este não é um remédio milagroso; é necessário combiná-lo com outros elementos importantes na dieta para obter uma melhora significativa nos sintomas.
A ingestão de gordura na dieta para a hérnia de hiato
Apesar de as gorduras retardarem o tempo de esvaziamento gástrico, não é aconselhável eliminar completamente a ingestão delas. É essencial garantir o consumo de gorduras saudáveis, do tipo cis. Entre elas, as insaturadas têm caráter anti-inflamatório, segundo uma pesquisa publicada na revista International Immunology.
Existem revisões que apóiam a uso de uma dieta com baixa quantidade de carboidratos, uma dose elevada de proteínas e outra moderada de gordura para o tratamento da hérnia de hiato e do refluxo. Os resultados nas amostras analisadas são positivos, principalmente quando a ingestão de açúcares simples e derivados é baixa.
Alimentos irritantes
Alguns produtos consumidos habitualmente na dieta são de natureza irritante. Eles não são recomendados para quem sofre de hérnia de hiato, pois podem aumentar a produção de ácido no estômago ou provocar irritação no epitélio, agravando os sintomas.
Os exemplos mais clássicos são o café e o chocolate. No entanto, algumas pessoas os toleram bem e não têm muitos problemas após o consumo. Por isso, é importante individualizar a nutrição e avaliar a digestão desses alimentos individualmente.
A maioria dos estudos publicados na literatura mostra que a inclusão de bebidas como café, chá ou refrigerante na dieta provocam um aumento dos sintomas. Portanto, na maioria dos casos costuma ser positivo evitá-los.
É importante considerar que evitar o álcool é essencial. Existe um consenso claro a esse respeito. De acordo com uma pesquisa publicada na revista Integrated Pharmacy Research & Practice, o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco causam um aumento nos sintomas de refluxo e hérnia de hiato, por isso devem ser restringidos.
Como planejar a dieta para hérnia de hiato
Já discutimos os pontos-chave para uma dieta direcionada à hérnia de hiato, mas agora vamos nos concentrar nos detalhes para a configuração correta dela.
Duração
A duração da dieta pode variar dependendo da pessoa. Na maioria dos casos os sintomas melhoram e, depois de alguns meses, pode ser permitida uma maior flexibilidade na dieta, mas sem negligenciar alguns dos aspectos importantes já mencionados, como a restrição ao álcool e ao tabaco.
No entanto, é possível que o paciente não apresente melhora, apesar das alterações na dieta e no estilo de vida. Nesse caso pode ser necessário recorrer a uma cirurgia. De qualquer forma, primeiro será necessário confirmar com o médico se existe algum outro tratamento farmacológico menos invasivo que possa ser implementado de forma conservadora.
O que comer?
Já comentamos que a dieta da hérnia de hiato tem um caráter muito individual. Existem muitos alimentos cuja tolerância pode ser testada em cada paciente, para ver se eles provocam sintomas ou se podem ser incluídos na dieta de forma ocasional.
No entanto, existe um conjunto alimentos que geralmente não causam problemas. Eles são os seguintes:
- Frutos secos.
- Alimentos fermentados.
- Alimentos com muita fibra.
- Vegetais.
- Produtos proteicos, como aves e peixes.
- Frutas não cítricas.
- Lacticínios.
- Tubérculos.
Por outro lado, é possível identificar alguns alimentos que podem provocar o aparecimento de sintomas. Dentre eles, destacam-se:
- Álcool.
- Bebidas gaseificadas.
- Chocolate e cacau.
- Alimentos cítricos.
- Café.
- Temperos culinários.
- Alimentos ultraprocessados e pré-cozidos.
- Frituras.
- Alho e cebola.
- Alimentos com muito sal.
- Tomate e derivados.
Em geral, é aconselhável reduzir o consumo de produtos com alto teor de açúcares simples. Eles podem favorecer o crescimento de bactérias patogênicas no estômago, como a Helicobacter pylori. Quando este organismo se multiplica, podem ocorrer sintomas compatíveis com a hérnia de hiato.
Cabe destacar a importância de incluir o consumo regular de vegetais e peixes na dieta alimentar. Esses alimentos fornecem proteínas e antioxidantes de alta qualidade, permitindo uma nutrição adequada. Além disso, eles apresentam um esvaziamento gástrico rápido.
Outras mudanças benéficas
Além de realizar uma intervenção na dieta alimentar, outras mudanças podem ser feitas nos hábitos de vida para melhorar o tratamento da hérnia de hiato. Dentre elas destacam-se:
- Fazer refeições frequentes e de pequeno volume.
- Aumentar a ingestão de água ao longo do dia.
- Mastigar corretamente os alimentos para facilitar a digestão.
- Evitar comer antes de fazer exercícios.
- Consumir probióticos. Existem evidências de que essas bactérias são benéficas no tratamento de problemas e desconfortos gastrointestinais. Isto é afirmado em uma revisão publicada na revista Nutrients.
Por outro lado, é aconselhável evitar jantar tarde ou dormir com o estômago cheio. Durante as horas de sono a digestão fica mais lenta, o que pode favorecer o aparecimento de problemas relacionados ao refluxo. Um truque eficaz é dormir com o corpo levemente inclinado para cima, reduzindo o risco do conteúdo do estômago subir pelo esôfago.
Dicas culinárias
Ao preparar o cardápio, há uma série de dicas culinárias que podem facilitar o controle da hérnia de hiato. A primeira delas tem a ver com o uso de óleos saudáveis, como azeite extra virgem.
É importante que eles sejam comidos crus, ou que pelo menos a fritura seja evitada. No máximo, deve-se adicionar a quantidade necessária para que o alimento não grude.
É aconselhável evitar o consumo de alimentos pré-cozidos e pré-embalados, pois eles possuem uma maior proporção de gorduras trans e aditivos que podem complicar os sintomas da hérnia de hiato.
As gorduras de origem animal podem piorar o controle da hérnia de hiato, especialmente quando consumidas em grandes quantidades. Por esta razão, o uso de manteiga ou banha deve ser restringido. Ao incluir carnes na dieta, é sempre melhor optar pelos cortes magros.
A dieta melhora a hérnia de hiato
As mudanças dietéticas são eficazes na otimização do controle da hérnia de hiato, pois reduzem os sintomas. No entanto, também é necessário aliar as modificações na alimentação a outros hábitos de vida saudáveis, como a prática regular de exercícios físicos. Perder peso também costuma ser uma boa solução.
Por último, é importante considerar que caso a mudança na dieta não resulte na melhora do problema, o mais indicado é procurar um especialista. Em algumas situações não há outra opção senão recorrer à cirurgia para realmente alcançar uma situação de bem-estar. No entanto, os caminhos conservadores devem ser exauridos primeiro. A suplementação de probióticos pode ser um deles.
- Lis DM, Baar K. Effects of Different Vitamin C-Enriched Collagen Derivatives on Collagen Synthesis. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2019 Sep 1;29(5):526-531. doi: 10.1123/ijsnem.2018-0385. PMID: 30859848.
- Ishihara T, Yoshida M, Arita M. Omega-3 fatty acid-derived mediators that control inflammation and tissue homeostasis. Int Immunol. 2019 Aug 23;31(9):559-567. doi: 10.1093/intimm/dxz001. PMID: 30772915.
- Surdea-Blaga T, Negrutiu DE, Palage M, Dumitrascu DL. Food and Gastroesophageal Reflux Disease. Curr Med Chem. 2019;26(19):3497-3511. doi: 10.2174/0929867324666170515123807. PMID: 28521699.
- Mehta RS, Song M, Staller K, Chan AT. Association Between Beverage Intake and Incidence of Gastroesophageal Reflux Symptoms. Clin Gastroenterol Hepatol. 2020 Sep;18(10):2226-2233.e4. doi: 10.1016/j.cgh.2019.11.040. Epub 2019 Nov 28. PMID: 31786327.
- MacFarlane B. Management of gastroesophageal reflux disease in adults: a pharmacist’s perspective. Integr Pharm Res Pract. 2018 Jun 5;7:41-52. doi: 10.2147/IPRP.S142932. PMID: 29892570; PMCID: PMC5993040.
- Cheng J, Ouwehand AC. Gastroesophageal Reflux Disease and Probiotics: A Systematic Review. Nutrients. 2020 Jan 2;12(1):132. doi: 10.3390/nu12010132. PMID: 31906573; PMCID: PMC7019778.