Causas e fatores de risco da doença celíaca
De acordo com estimativas da Celiac Disease Foundation, 1 em cada 100 pessoas tem doença celíaca. A prevalência dela no mundo tem aumentado nas últimas décadas, talvez devido ao maior aumento nos exames sorológicos (como as evidências indicam).
Embora as causas da doença celíaca não sejam muito claras, acredita-se que ela seja resultado de uma combinação de fatores genéticos, ambientais e dietéticos.
Também conhecida como intolerância ao glúten, é muito comum que a doença esteja associada ao continente europeu, principalmente a países como Itália, Irlanda, Suécia ou Finlândia. Hoje veremos o motivo dessa relação e descobriremos o que se sabe até agora sobre a sua etiologia.
Principais causas da doença celíaca
A doença celíaca, informalmente chamada de intolerância ao glúten ou simplesmente DC, é uma doença autoimune que é desencadeada pela interação do glúten com o corpo. Simplificando, o glúten é um grupo de proteínas encontradas no trigo, cevada, centeio e seus grãos cruzados.
Quando uma pessoa com o distúrbio ingere glúten, uma resposta autoimune é desencadeada, estimulando os glóbulos brancos a atacar as vilosidades do intestino delgado. Com o tempo, esse revestimento se torna liso e não consegue absorver alguns nutrientes. Embora entendamos o processo, ainda não sabemos o que causa a doença celíaca.
No entanto, tudo parece indicar que ela se desenvolve por meio de uma confluência de predisposições genéticas, fatores ambientais e hábitos alimentares. Vamos conhecer estes e outros elementos relacionados:
Genética e doença celíaca
Estudos identificaram vários genes relacionados à manifestação da doença celíaca. Especificamente, sabe-se que os alelos HLA estão em 95% dos pacientes diagnosticados. Por sua vez, mais de 40 loci genômicos foram associados ao desenvolvimento dessa doença autoimune.
Isso explicaria, por exemplo, por que a doença é relativamente comum em filhos de pais celíacos. É importante ressaltar que a predisposição genética aumenta as chances, mas não determina com certeza a ocorrência da doença. Por exemplo, 35% da população têm alelos HLA, mas não manifesta os sintomas. É necessário um catalisador externo.
A genética também explicaria por que a doença é mais comum em algumas áreas geográficas. As evidências sugerem que a prevalência mais alta no mundo (5,6% na população do Saara Ocidental) pode ser devido ao alto nível de consanguinidade.
Por sua vez, alelos relacionados são relativamente comuns na população europeia, como alguns estudos sugerem. Isso seria uma explicação parcial do motivo pelo qual a prevalência é maior em países com ancestrais europeus, conforme sugerido pelas taxas de prevalência globais.
Fatores ambientais e doença celíaca
Como nem todos os portadores dos alelos desenvolvem a doença, fatores ambientais também foram sugeridos como possíveis gatilhos. Um dos principais são as infecções, pois foi demonstrado que episódios desse tipo em idade precoce podem aumentar o risco de apresentar o distúrbio na idade adulta.
Acredita-se que as infecções possam modificar a permeabilidade intestinal, levando a manifestações autoimunes. Estudos têm sugerido que as infecções por rotavírus predispõem ao desenvolvimento da doença, especialmente em pessoas com fatores genéticos latentes.
Embora mais pesquisas ainda sejam necessárias a esse respeito, acredita-se que o corpo interprete erroneamente a sequência de proteínas das infecções por rotavírus com as do glúten. Isso causaria o desequilíbrio após a ingestão.
Dieta e hábitos na infância
Outras possíveis causas da doença celíaca é a alimentação, especificamente a introdução tardia ou precoce de glúten na dieta. Apesar da controvérsia, tem sido sugerido que uma ingestão tardia do grupo de proteínas pode aumentar as chances de sofrer de intolerância no futuro.
Pesquisas estimam que a introdução precoce não protege os pacientes da doença, apenas atrasa o tempo para que ela comece a se manifestar. É possível que a relação entre infecções, predisposição genética e hábitos alimentares sejam fatores que influenciam na medida que as crianças se desenvolvem em seus primeiros anos.
Fatores de risco para doença celíaca
De acordo com a Johns Hopkins Medicine, a doença celíaca é mais comum nos seguintes casos:
- Ter ascendência europeia: devido à sua predisposição genética, é mais provável que você desenvolva a doença se tiver um ancestral direto ou distante de povos europeus.
- Ter diabetes tipo 1: estima-se que a prevalência da doença celíaca entre os pacientes com diabetes tipo 1 esteja perto de 8%. Isso se deve, em parte, ao fato de que ambas condições demonstraram compartilhar alelos em comum, estando geneticamente relacionadas.
- Interrupção precoce da amamentação: Alguns estudos sugerem que o “desmame precoce” está associado a um maior risco de contrair a doença. Se ele ocorrer precocemente e for complementado com outros fatores de risco, há maiores chances de desenvolver a doença.
- Presença de outras doenças autoimunes: Algumas indicações sugerem que esse distúrbio é mais comum em pessoas que sofrem de outras doenças autoimunes, como artrite reumatoide, hipotireoidismo, alopecia areata e outras.
- Pacientes com síndrome de Down: observou-se uma prevalência da doença em até 43% em pessoas com síndrome de Down. Essa síndrome também é mais propensa a outras doenças autoimunes.
- Síndrome do intestino irritável (SII): finalmente, as evidências apoiam a hipótese de que os pacientes com SII são mais propensos a desenvolver esse transtorno autoimune. Na verdade, hoje os exames sorológicos são frequentes nesses grupos para descartar a doença celíaca.
Complementando tudo isso, pesquisas indicam que episódios estressantes são comuns antes do diagnóstico da doença ou do início dos sintomas. Este catalisador pode ser adicionado aos outros como um sistema de múltiplas causas da doença celíaca.
Vá ao médico em caso de dúvida
Todo paciente diagnosticado deve saber que, no momento, essa doença não tem cura. Mudanças na dieta permitem uma vida sem incidência de sequelas associadas à condição. Se você suspeitar que sofre dessa doença, não hesite em consultar um especialista para realizar os testes que permitem uma opinião objetiva.
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