Autoestima: a percepção de si mesmo
O termo autoestima foi descrito pela primeira vez por William James (1) há mais de um século. No entanto, esta é sem dúvida uma das expressões mais ambíguas e polêmicas no campo da psicologia.
Autoaceitação, autoajuste, autovalorização, autoestima, autoconceito e autoimagem são termos usados indistintamente para significar o conceito, positivo ou negativo, que alguém tem de si mesmo.
Alguns autores consideram a autoestima como uma estrutura hipotética que representa o valor relativo que os indivíduos atribuem a si próprios ou acreditam que os outros lhes atribuem.
Musitu et al. (1996), por sua vez, definem a autoestima como o conceito que um indivíduo tem de si mesmo, de acordo com as qualidades atribuídas por ele próprio. Não existe, por enquanto, uma posição unânime sobre o que é esse conceito.
Definição de autoestima
Segundo Rosenberg e seus colaboradores, a autoestima compreende a atitude positiva ou negativa de um indivíduo em relação a si mesmo como um todo. É a avaliação emocional geral da autoestima ou do julgamento próprio de valor (Burrus & Brenneman, 2016).
A autoestima elevada refere-se a uma avaliação global altamente favorável da competência de alguém em domínios subjetivamente importantes, enquanto a baixa autoestima é o resultado de avaliações negativas e fragilidades subjetivas (7).
No modelo hierárquico de autoconceito de Shavelson (6), a autoestima apresenta o nível mais geral do autoconceito, com domínios específicos subjacentes como o autoconceito acadêmico e o autoconceito físico.
A partir da pesquisa, pode-se deduzir que existem quatro maneiras de definir a autoestima. A mais básica é a abordagem atitudinal. A partir dela a definição da autoestima parte da ideia de que o self pode ser considerado como qualquer objeto de atenção para o indivíduo.
Outro tipo de definição da auto estima se concentra na diferença entre o self ideal e o real. Esta é a forma mais comum de defini-la na literatura específica.
Uma terceira abordagem enfoca a autoestima como as respostas psicológicas que as pessoas sustentam de si mesmas. Essas respostas são geralmente descritas como de natureza afetiva ou baseadas no sentimento de valorização pessoal: positiva-negativa, aceitação-rejeição.
Por fim, Wells e Marwell (1976) afirmam que a autoestima pode ser entendida como uma função ou componente da personalidade. Nesse caso, o termo é considerado como parte de si mesmo ou sistema do self, geralmente a parte ligada à motivação ou autorregulação.
Na prática, existem tantas maneiras de definir a autoestima quanto pessoas tentando defini-la (4).
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Bases teóricas do conceito
Em psicologia, James (1) é o primeiro a definir o conceito. O autor a descreve como a consciência do valor de si mesmo.
A autoestima se refere a um julgamento ou avaliação íntima de si mesmo em relação aos próprios valores, que é explicado pela relação entre o eu real e o eu ideal. A autoestima é a essência do indivíduo, é a relação entre êxitos e aspirações, assim como resultados e fracassos. Representa a autoestima básica e é considerada estável (9).
Essa definição sugere que o indivíduo avalia a si mesmo de acordo com a própria percepção, sua sensação de ser importante e único. A autoestima deve ser motivada por meio do equilíbrio nos relacionamentos com os outros. A autoestima seria adquirida e estabelecida por meio das experiências de vida.
A autoestima como construção social
Ninguém nasce com autoestima alta ou baixa. Isso é aprendido na interação social com as pessoas mais importantes: pais, amigos, professores e no ambiente familiar, especialmente durante a infância, adolescência e o resto das etapas de nossa vida.
Assim, parece que a autoestima de cada um é construída a partir das experiências. No entanto, nem todas precisam mudar a autoestima de uma pessoa.
Às vezes, as más experiências de um indivíduo não têm um efeito negativo em seu valor próprio. Pelo contrário, elas se integram positivamente e se tornam um incentivo para novos projetos, por exemplo o fracasso em uma disciplina ou oposição, a chacota de alguns colegas ou até a humilhação de um professor. (2)
Alguns autores que definem a autoestima como uma construção social
Cooley (10) a define como uma construção social. Ou seja, o conceito se configura por meio de interações sociais baseadas em opiniões, julgamentos e ações, desde o nascimento. Representa a autoestima funcional e é flutuante. A pessoa que recebe comentários de terceiros pode decidir recusá-los ou apropriar-se deles (11).
Essa definição evoca um componente mutável da autoestima que seria modulado pelo ambiente social. A literatura também revela a autoestima coletiva, que se refere aos julgamentos de valor da pessoa relacionados às características do grupo de identidade.
Além disso, outras definições de autoestima contribuíram para a evolução da sua conceituação. Para Maslow, é impossível projetar-se em um plano de vida se a necessidade de autoestima não for satisfeita (12). Laporte defende que a autoestima se refere ao amor próprio nas diferentes esferas da nossa vida e do nosso senso de dignidade (13).
Segundo Martinot, a autoestima é o julgamento que fazemos sobre a nossa capacidade de enfrentar a vida (14). Mais precisamente, é o conjunto de elementos que nos definem; atitudes, crenças e sentimentos.
Branden dá importância às habilidades e competências. Para ele, o valor individual está intimamente ligado ao sucesso pessoal (15). Paradis e Vitaro estabelecem que a autoestima é uma visão holística de si mesmo que corresponde a um julgamento do próprio valor como pessoa (16).
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A autoestima como barômetro psicológico
Por fim, ela é vista como um barômetro psicológico da nossa relação com os outros, que nos ajuda a detectar a ameaça da rejeição social e nos libertar dela (17). Essas definições indicam que a autoestima é o desenvolvimento de si mesmo. É a opinião emocional que permite a autoproteção, o desenvolvimento pessoal e profissional.
Autoestima de uma perspectiva filosófica
De uma perspectiva filosófica, são propostas certas definições que estabelecem que a autoestima representa um valor moral e racional.
Kant propõe um modelo de oposição à autoestima. Nesse modelo, a estima estética é uma forma de amor, de sensação que se relaciona à sensibilidade. Enquanto isso, a estima benevolente é uma forma de amor prático que reside na vontade. A oposição está em algum lugar entre a forma prática e a forma moral de estima.
A forma prática da estima é a forma de agir e a ação da autoestima. O indivíduo se valoriza e respeita a si mesmo por meio da livre escolha de sua vontade. Kant especifica, no entanto, que é um dever estimar a si mesmo ou aos outros de acordo com a sua dignidade.
Descartes considerava o respeito ou a autoestima como um dos deveres mais importantes. Ele acrescentava que a autoestima ou respeito é a paixão da alma, ou seja, uma inclinação da alma para amar, respeitar o objeto e torná-lo favorável. Ele destacava o elemento da sabedoria que consiste em saber por que e como cada um considera e despreza (18).
Termos relacionados
Segundo o autor Doré (19), parece difícil diferenciar o termo autoestima dos outros conceitos. Autoimagem ou autoconceito são alguns dos termos que podem ser confundidos com a autoestima.
Autoconceito é o conjunto de crenças e percepções que uma pessoa tem de si mesma, bem como as atitudes que fluem dela (13). Assim, esse conceito combina os termos de autoestima, autoimagem e identidade pessoal (20).
Autoimagem é a imagem do nosso corpo que criamos na nossa própria mente.
Outro termo relacionado é autoeficácia. Ela está centrada na avaliação da capacidade de uma pessoa ter sucesso em uma área de competência ou de forma integral em diferentes contextos.
Os sinônimos e antônimos da autoestima também fazem parte da análise do conceito. Assim, um sinônimo dela é o amor próprio. Ele se refere à autoimagem subjetiva, geralmente positiva, de uma pessoa. O oposto do termo pode ser a auto-aversão.
A autoestima é a base para a construção da personalidade e do equilíbrio psíquico. Ela depende de processos de adaptação em todas as idades da vida. (21). É utilizada em muitas disciplinas, como na educação e em contextos organizacionais e de trabalho.
Desta forma, ela é usada como um critério diagnóstico médico para vários transtornos mentais. Alguns deles são depressão, ansiedade, transtornos alimentares ou dependência a drogas. Existem dois diagnósticos de enfermagem relacionados à autoestima. São eles o “baixa autoestima situacional” e o “baixa autoestima crônica” (19).