Diferenças entre insulina e glucagon
O pâncreas é uma glândula localizada no abdômen capaz de liberar hormônios tanto para o sistema circulatório quanto para o trato gastrointestinal. Os principais hormônios liberados pelo pâncreas na corrente sanguínea são a insulina e o glucagon. As diferenças entre a insulina e o glucagon podem ser confusas para algumas pessoas, então falaremos um pouco mais sobre elas.
Vários estudos afirmam que o delicado equilíbrio entre a insulina e o glucagon é responsável por manter os níveis normais de glicose no sangue. Dessa forma, alterações nos níveis de qualquer um desses hormônios podem gerar o aparecimento de patologias graves.
O que é insulina?
Antes de falar sobre as diferenças entre a insulina e o glucagon, é importante estudar os dois hormônios separadamente. A insulina é um hormônio polipeptídeo sintetizado nas células beta do pâncreas. A principal função dessa substância é reduzir os níveis de glicose no sangue, aumentando assim sua entrada nas células.
A insulina se liga a receptores específicos em vários órgãos após sua liberação, aumentando a captação de glicose. A glicose será utilizada como fonte de energia, para que as células cumpram suas funções metabólicas.
Os problemas com esse hormônio estão relacionados aos diferentes tipos de diabetes mellitus. O diabetes tipo 1 é caracterizado pela incapacidade do pâncreas de sintetizar insulina. Já o diabetes tipo 2 é produzido pela resistência ao efeito do hormônio, o que pode causar uma diminuição progressiva em sua produção.
O que é glucagon?
O outro hormônio responsável por manter a glicemia em valores fisiológicos é o glucagon. É um hormônio com estrutura protéica produzida nas células alfa das ilhotas pancreáticas. O glucagon tem efeito oposto à insulina, portanto sua principal função é aumentar os níveis de glicose no sangue.
O principal local de ação desse hormônio é o fígado, onde irá estimular um processo denominado glicogenólise, ou seja, a quebra do glicogênio. O glucagon também estimula a síntese de glicose no fígado por meio de vários outros compostos, como ácidos graxos e aminoácidos.
A hipoglicemia é uma das principais responsáveis pela liberação de glucagon, embora possa ocorrer a partir de múltiplos estímulos. Além disso, a administração exógena desse hormônio é útil para reverter a hipoglicemia produzida pelo tratamento do diabetes.
4 diferenças entre insulina e glucagon
A insulina e o glucagon são hormônios antagônicos, ou seja, ambos têm efeito oposto no corpo. No entanto, o equilíbrio entre as duas substâncias é essencial para manter os níveis de glicose no sangue em valores adequados.
As diferenças entre a insulina e o glucagon são muito óbvias, portanto, estudando-os separadamente, é possível identificar as mais importantes. No entanto, a seguir iremos mencionar as 4 principais diferenças entre esses dois compostos.
1. Local de produção
A estrutura pancreática onde a insulina e o glucagon são sintetizados é chamada de ilhota de Langerhans ou ilhota pancreática. Essas estruturas têm 4 tipos diferentes de células (alfa, beta, delta e PP), cada uma das quais sintetizará substâncias diferentes. Vários estudos mostram que as células beta são as mais abundantes e representam 70% da ilhota.
Uma das principais diferenças entre a insulina e o glucagon são as células onde são produzidos. A insulina é sintetizada nas células beta do pâncreas, enquanto o glucagon o produz nas células beta. Uma zona de produção diferente garante que os dois hormônios diferem na estrutura e desempenham suas respectivas funções.
2. Efeitos no corpo
Ambos os hormônios pancreáticos são necessários para manter os níveis de glicose no sangue, embora suas ações sejam opostas. A insulina é um hormônio hipoglicêmico, ou seja, tentará diminuir a glicose no sangue se necessário.
Esse hormônio se liga a vários receptores específicos chamados GLUT, que são encontrados em diferentes órgãos. A ligação da insulina aos receptores vai gerar mudanças conformacionais nas células do tecido, que vão aumentar o influxo de glicose. A insulina também aumenta os estoques de glicose no fígado, aumentando a síntese de glicogênio.
Por sua vez, o glucagon é um hormônio hiperglicêmico, ou seja, visa aumentar a concentração de glicose no sangue. O glucagon atua principalmente no fígado, onde estimula a síntese de açúcares e a quebra do glicogênio. Toda a glicose liberada pelo fígado será expelida para a corrente sanguínea para ser utilizada pelas células.
O glucagon também gera outros efeitos no corpo, como a absorção de aminoácidos e a degradação do tecido adiposo. Além disso, aumenta a produção de certos compostos no fígado chamados corpos cetônicos.
3. Incentivos para sua liberação
Todos os hormônios têm fatores que estimulam ou inibem sua liberação para que haja equilíbrio no corpo. Os estímulos que regulam a liberação de insulina e glucagon também permitem que as duas substâncias sejam diferenciadas uma da outra.
A secreção de insulina é estimulada por várias substâncias chamadas secretagogos. No entanto, estudos estabelecem que o aumento dos níveis de glicose é o principal estímulo liberador de insulina. Já a diminuição da liberação surge em decorrência da hipoglicemia, do jejum e da ação da somatostatina.
O glucagon também possui diversos estímulos para sua liberação, sendo o principal deles a diminuição da concentração de glicose no sangue. O jejum também aumenta a liberação de glucagon, pois visa aumentar os níveis de glicose para fornecer energia para as células.
Por serem hormônios antagônicos, a maioria dos fatores que aumentam a liberação de insulina diminui a liberação de glucagon. Nesse sentido, a liberação é inibida pelo aumento de ácidos graxos, aminoácidos ou hormônios intestinais. A ação da insulina e da somatostatina também tem efeito inibitório.
4. Patologias associadas e usos terapêuticos
Variações nos níveis de insulina e glucagon podem gerar o aparecimento de estados de hipo ou hiperglicemia, que estão associados a diferentes patologias. A diminuição da produção de insulina está diretamente relacionada ao diabetes mellitus. Por sua vez, seu aumento está relacionado ao pré-diabetes, estado anterior ao diabetes tipo 2.
O aumento dos níveis de glucagon pode gerar um estado de hiperglicemia, que pode promover o desenvolvimento de diabetes. Além disso, a diminuição de sua liberação irá gerar hipoglicemia, de forma que as células não terão energia para realizar suas funções básicas.
A administração exógena dessas substâncias também é útil no tratamento de múltiplas patologias. Existem diferentes tipos de insulina, que são usados em pacientes com diabetes tipo 1 para manter o controle glicêmico alto. Por outro lado, muitos medicamentos podem gerar um estado transitório de hipoglicemia, que pode ser neutralizado com a administração de glucagon.
Dois hormônios muito diferentes, mas necessários
A insulina e o glucagon são um dos hormônios mais importantes sintetizados no pâncreas devido aos seus efeitos na glicose sanguínea. As diferenças estruturais entre a insulina e o glucagon permitem que esses compostos tenham ações diferenciadas, possibilitando a manutenção do equilíbrio desejado.
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