Desamparo aprendido: o que é?
O desamparo aprendido é um fenômeno psicológico que se caracteriza por uma involução de aprendizagem causada pela ação imprevisível de um estímulo aversivo ou doloroso sobre o indivíduo, que deve enfrentar uma situação para a qual não possui mecanismos efetivos para escapar ou evitar.
Em outras palavras, uma pessoa desenvolve desamparo aprendido quando exposta a um estímulo ou situação aversiva, não tem recursos para lidar com ela e acaba aprendendo que não há nada que ela possa fazer para mudar a situação.
A consequência direta desse fenômeno? Não fazer nada, tornar-se apático e expressar desesperança, falta de confiança de que podemos mudar. De fato, esse fenômeno está na base de muitas mulheres vítimas de violência de gênero que, como resultado de anos de maus-tratos, acabam acreditando que mudar a situação não está em suas mãos.
Também está na base de outros fenômenos e transtornos como a depressão e pode fazer parte dos sintomas de alguns transtornos de ansiedade. Se você quer saber mais sobre isso, continue lendo!
O que é desamparo aprendido?
O desamparo aprendido é um fenômeno psicológico que surge quando uma pessoa ou um animal fica inibido diante de situações aversivas ou dolorosas e as ações para evitá-las não foram efetivas. Por isso, acaba desenvolvendo passividade nesse tipo de situação.
Em outras palavras, a pessoa sente que não tem controle sobre seu ambiente ou sobre o que acontece com ela na vida, pois as tentativas de controlá-lo ou modificá-lo falharam. Como resultado, é gerado aquele sentimento de que nada depende de mim.
O desamparo aprendido está impregnado, por sua vez, de um sentimento de desesperança, tristeza e pouco controle que deixam a pessoa frustrada, mas ela se acomoda nesse sentimento. Aqueles que sofrem com esse fenômeno sentem que tudo o que fizerem não terá consequências. Em outras palavras, eles não poderão modificar sua realidade e seus comportamentos não terão repercussões ou consequências.
Martin Seligman e o desamparo aprendido
Martin Seligman, juntamente com Steven F. Maier, foram os primeiros pesquisadores a falar sobre o desamparo aprendido. Na verdade, eles se perguntavam por que um animal ou uma pessoa que sofria de constantes condições adversas e dolorosas não fazia nada para escapar. Como eles estudaram isso? Contamos-lhe tudo.
Experimentos com cães
Seligman e Maier realizaram uma série de experimentos (eticamente controversiais) com cães em 1967 que lhes permitiu descobrir e demonstrar o fenômeno do desamparo aprendido. Em seus experimentos, na primeira fase, eles formaram três grupos de animais:
- Grupo 1: colocaram os cães em um arnês, enquanto recebiam choques elétricos inesperados nas patas traseiras. Eles poderiam parar as descargas se pressionassem com o focinho alguns painéis localizados em ambos os lados da cabeça.
- Grupo 2: estes cães não tiveram a possibilidade de parar os choques elétricos que lhes foram dados.
- Grupo 3: este foi o grupo controle, no qual os animais não receberam nenhum choque.
Na segunda fase do experimento, todos os grupos tiveram a oportunidade de evitar o choque colocando um segundo compartimento dentro da caixa onde estavam localizados. Se eles se moviam para lá, paravam de receber as descargas.
Resultados dos experimentos
Que resultados os pesquisadores obtiveram? Principalmente que, na fase 2, os grupos 1 e 3 apresentaram a mesma capacidade de aprender a nova estratégia de esquiva/fuga do choque (passagem para o segundo compartimento).
Em contraste, o grupo 2 teve um grave problema de aprendizagem nesta nova tarefa, sendo os cães incapazes de aprender que se mudassem para o outro compartimento deixariam de receber o choque. E daqui nasce o desamparo aprendido. Os cães na fase 1 aprenderam que, não importa o que fizessem, continuariam a receber os choques. Por outro lado, os cães do grupo 1, ao saberem que poderiam mudar a sorte, desenvolveram essa mesma estratégia na fase 2.
Como tratar o desamparo aprendido?
Embora o desamparo aprendido possa permear profundamente as pessoas, felizmente também pode ser combatido. Como? Através da psicoterapia. Especificamente, uma abordagem terapêutica que tem oferecido bons resultados nesse sentido é a terapia cognitivo-comportamental.
Por meio dela, o terapeuta pode ajudar a pessoa a reestruturar seus pensamentos e emoções, o que tem efeito direto no comportamento. É, de certa forma, reensiná-lo que ainda existem coisas que estão sob seu controle.
Ao modificar pensamentos errôneos, por meio da reestruturação cognitiva, as emoções e os comportamentos da pessoa mudam. O objetivo é devolver um olhar objetivo, realista e funcional para a sua vida. Isso inclui aumentar a autoestima, ensinar e reforçar estratégias de enfrentamento adaptativas e capacitá-la.
Falamos sobre a terapia cognitivo-comportamental, embora o desamparo aprendido também possa ser trabalhado a partir de outras orientações. Independentemente do método utilizado, o objetivo será devolver à pessoa a sensação de que ela pode assumir o controle de sua própria vida.
Paralelamente, também devem ser tratadas as consequências decorrentes desse desamparo, como inseguranças, baixa autoestima, sentimentos de tristeza e desesperança.
Refletindo sobre o desamparo aprendido
Como podemos ver, o desamparo aprendido é o que resulta da aprendizagem incorreta de que devemos nos comportar passivamente porque internalizamos que, independentemente do que fizermos, nossa situação não mudará. Sua causa direta é ter vivenciado situações aversivas ou dolorosas para as quais não tenhamos dos recursos necessários para lidar com elas.
As consequências diretas do desamparo aprendido podem ser devastadoras para a pessoa, pois a imobilizam e a colocam em estado permanente de inatividade, passividade e perda de esperança. Tudo isso está na base de situações como violência familiar, violência de gênero, bullying e mobbing.
Por isso, será importante aprender a identificar esse fenômeno e agir sobre suas consequências. O poder da mente é incrível, tanto para o bem quanto para o mal.
E é que, como vimos, o desamparo aprendido é aprendido e, da mesma forma, pode ser desaprendido. Devemos ter em mente que, embora possa parecer uma adaptação psicológica a uma situação que vivemos e percebemos como incontrolável, a realidade é que não é uma maneira saudável de lidar com a adversidade.
“A mente é tudo; ela transforma você naquilo em que você pensa”
-Buda-
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