O que acontece no meu corpo se eu sou celíaco e como glúten?

Embora a conscientização sobre a doença celíaca seja cada vez maior, também é verdade que muitos pacientes não sabem como o glúten atua em seu corpo. Aprenda o processo exato que ocorre e a importância de uma dieta que elimine o glúten completamente.
O que acontece no meu corpo se eu sou celíaco e como glúten?

Última atualização: 07 julho, 2021

O glúten e a doença celíaca são dois velhos inimigos. A primeira coisa recomendada a um paciente celíaco é eliminar permanentemente a ingestão dessa proteína da sua dieta.

Quando o paciente segue uma dieta restrita, os sintomas começam a desaparecer gradualmente. Mas você já se perguntou o que exatamente acontece no seu corpo ao consumir alimentos com glúten?

Essa pergunta não é trivial. Não é incomum que os médicos se refiram a esse distúrbio como uma alergia ou intolerância ao glúten, evitando assim explicar o mecanismo exato que leva ao desenvolvimento dos sintomas. Hoje explicaremos de forma dinâmica o que acontece fisiologicamente e, além disso, o que ocorre quando você o elimina da alimentação.

Glúten e doença celíaca: qual a relação?

O glúten e doença celíaca estão relacionados.
A doença celíaca é consequência de múltiplas reações inflamatórias que ocorrem no intestino. De fato, ela é causada por um estímulo do sistema imunológico.

Comecemos pelo básico: o glúten é uma mistura de centenas de proteínas encontradas no trigo, centeio, cevada e dezenas de outros alimentos. A gliadina e a glutenina são as principais, e fazem parte da dieta de bilhões de pessoas todos os dias.

Na verdade, alguns estudos sugerem que a  ingestão de glúten no mundo ocidental é de cerca de 20 gramas por dia.

Quando uma pessoa celíaca consome glúten, uma série de processos anormais ocorrem dentro dela. Teoricamente esses processos acontecem para o bem do próprio corpo, mas na prática acabam prejudicando-o. Por ser uma doença autoimune, o que acontece é que o corpo ataca a si mesmo ao identificar erroneamente um invasor. Neste caso, proteínas do glúten.

Depois que você ingere um alimento com glúten, seu corpo libera anticorpos para se defender. Especificamente, imunoglobulina A (simplesmente chamada de IgA) e imunoglobulina G (IgG). Em outros contextos, esse processo atacaria os agentes invasores (vírus, bactérias e outros), mas nesse caso a sua ação se concentra nas vilosidades do intestino.

É por isso que os testes sorológicos são úteis na detecção da doença. Por meio de um exame de sangue, é possível detectar a presença desses dois anticorpos (com maior prevalência do primeiro), o que indica que o paciente é celíaco.

As vilosidades são uma espécie de tapete que reveste as paredes do intestino delgado que cujo objetivo, entre outros, é absorver os nutrientes dos alimentos ingeridos. No início, o dano é mínimo, mas com o tempo as vilosidades intestinais podem até atrofiar. Isso impede a absorção de nutrientes e desencadeia algumas complicações relacionadas à doença.

Complicações da doença celíaca devido ao glúten

Você já entendeu melhor por que o glúten e a doença celíaca não se dão bem, mas ainda há mais a esclarecer. Como consequência desse auto-ataque, você experimenta os sintomas gastrointestinais clássicos: flatulência, dor abdominal, diarreia, prisão de ventre e assim por diante. Se a ingestão persistir, outros sinais podem aparecer, alguns diretamente relacionadas à atrofia das vilosidades:

  • Anemia.
  • Dor nas articulações e nos ossos.
  • Desgaste no esmalte dos dentes.
  • Desnutrição.
  • Baixa estatura.
  • Perda de peso.
  • Dificuldade em se concentrar.
  • Fadiga.

Os itens mencionados acima são apenas algumas das consequências que ocorrem quando as vilosidades intestinais não são capazes de fazer seu trabalho. Quando a absorção é deficiente, o corpo não consegue receber quantidades adequadas de zinco, cálcio, ferro, magnésio, vitamina B12, vitamina A e outros nutrientes essenciais para seu funcionamento.

Como os estudos têm corretamente apontado, desequilíbrios nutricionais são a principal, mas não a única, complicação relacionada à ingestão de glúten em pacientes com doença celíaca. Isso, é claro, nas pessoas que foram diagnosticadas. Pessoas saudáveis não desenvolvem esse processo, portanto, podem consumir a proteína sem maiores complicações.

As chances de desenvolver efeitos colaterais são maiores se o celíaco continuar a consumir glúten, seja porque não deseja aderir à dieta ou porque não foi diagnosticado. Além das deficiências observadas, também existe o risco de desenvolver outra doença autoimune. A Celiac Disease Foundation estabelece as seguintes proporções:

  • 2-4 anos: 10, 5%.
  • 4-12 anos: 16,7%.
  • 12-20 anos: 27%.
  • Mais de 20 anos: 34%.

Se o paciente for diagnosticado após os 20 anos de idade, ele terá 34% mais probabilidade do que uma pessoa saudável de sofrer de diabetes, artrite reumatóide, lúpus, psoríase, doença de Addison, esclerose múltipla e assim por diante.

O mais grave é que, de acordo com a Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan, estima-se que 83% dos pacientes não são diagnosticados ou, de fato, recebem um diagnóstico equivocado. Por isso, há tanta ênfase na conscientização sobre a doença e na necessidade de buscar ajuda profissional quando os sintomas ou complicações são detectados em casa.

O que acontece com os celíacos quando eles deixam de comer glúten?

O glúten deve ser evitado para não piorar a doença celíaca.
Buscar ajuda médica rapidamente e interromper o consumo de glúten traz benefícios importantes para as pessoas com doença celíaca.

A Johns Hopkins Medicine nos informa que uma dieta sem glúten é o único tratamento disponível para a doença celíaca. Esta é uma boa notícia para os diagnosticados: ao eliminar o glúten, a doença celíaca é controlada e os sintomas desaparecerão gradualmente.

Nesse caso processo ocorre ao contrário: quando você elimina completamente essa proteína da dieta, o corpo para de produzir a resposta autoimune e, com isso, o ataque às vilosidades intestinais deixa de acontecer. Este último não é imediato, pois pode levar vários meses ou mesmo anos para que uma regeneração completa seja alcançada.

Tudo depende, a princípio, do nível de dano do paciente (a classificação de Marsh-Oberhuber é usada para atrofia intestinal). Alguns estudos sugerem um limite de 4 semanas para que os principais sintomas gastrointestinais diminuam até desaparecerem. Ao contrário, outras pesquisas indicam que a dieta deve ser ajustada de acordo com a tolerabilidade da doença celíaca.

Felizmente, hoje existem centenas de opções sem glúten que os pacientes tem acesso facilmente. A Food and Drug Administration (FDA) americana estipula que produtos desse tipo devem ter menos de 20 partes por milhão. Se for uma marca regulamentada, é totalmente seguro consumir, o que permite variar a dieta e evitar a monotonia.

Terminamos lembrando duas coisas: a primeira, não elimine o glúten se você não tiver sido diagnosticado como celíaco, mesmo que exista suspeita. Busque um especialista para iniciar o processo de detecção.

A segunda, como apontam os pesquisadores, inicie um plano nutricional com o auxílio de um profissional da área. Desta forma, você evita substituir uma deficiência por outra e recebe orientação com dicas muito úteis para lidar com a sua condição.



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