Hipotermia: tudo o que você precisa saber
A temperatura corporal é resultado de um equilíbrio dinâmico entre os mecanismos reguladores internos e os fatores ambientais. Nesse sentido, condições locais e sistêmicas podem ocorrer quando o organismo é exposto a condições de temperaturas extremas. Uma dessas condições é a hipotermia. Te interessa aprender mais sobre ela? Continue lendo!
A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal diminui para valores abaixo do normal, ao entrar em contato com um ambiente frio ou como resultado de uma doença que prejudique a capacidade de conservar o calor corporal. Estudos afirmam que esse fenômeno ocorre quando a temperatura central é inferior a 35 graus Celsius, provocando o aparecimento de sinais e sintomas característicos.
Sintomas
As manifestações clínicas da hipotermia geralmente aparecem de forma progressiva ou repentina, dependendo da causa e gravidade do quadro.
Os calafrios costumam ser o primeiro sintoma a aparecer; eles surgem devido à ativação de mecanismos periféricos que buscam elevar e recuperar a temperatura corporal. Além disso, também é comum a manifestação dos seguintes sintomas:
- Pele pálida e fria.
- Cianose.
- Respiração suave e superficial.
- Dificuldade para se movimentar ou falta de coordenação.
- Bradicardia.
- Dormência nos dedos e extremidades.
- Confusão e sonolência.
Em geral, pessoas com hipotermia tendem a experimentar um pensamento mais lento e, portanto, têm pouca compreensão do seu estado de saúde. Dessa forma, elas podem apresentar perda de consciência, parada cardíaca, choque e coma quando não recebem atendimento médico em tempo hábil.
Tipos de hipotermia
A hipotermia pode ser classificada de acordo com a origem da causa desencadeante e com base na temperatura da pessoa afetada.
Nesse sentido, falamos de hipotermia acidental primária quando a redução da temperatura corporal é decorrente da exposição ambiental ao frio extremo. A hipotermia acidental secundária ocorre como resultado de uma doença ou condição subjacente.
Da mesma forma, algumas pesquisas sugerem que a hipotermia pode ser classificada em 5 graus, com base nos sinais clínicos e sua relação com a temperatura central. Os graus existentes se baseiam em critérios de diferentes associações especializadas no tratamento da patologia, pelo que é possível classificá-la da seguinte forma:
- Grau I (de 35 a 32 graus Celsius): a pessoa afetada está consciente, trêmula, com disartria e frequência cardíaca aumentada. Nesse ponto, todos os sintomas são reversíveis com um tratamento de reaquecimento.
- Grau II (de 32 a 28 graus Celsius): o paciente geralmente está confuso e sonolento, mas sem tremores. Também ocorrem alterações na condução cardíaca que podem desencadear arritmias fatais.
- Grau III (de 28 a 24 graus Celsius): ocorre quando os mecanismos termorreguladores do corpo falham. A pessoa pode perder a consciência ou estar inconsciente, mas com sinais vitais presentes.
- Grau IV (de 24 a 13,7 graus Celsius): ocorre assistolia, e consequentemente uma ausência de sinais vitais e morte aparente. Neste ponto, a ressuscitação da pessoa afetada ainda é possível.
- Grau V (menos de 13 graus Celsius): conhecida como hipotermia irreversível, na qual há incompatibilidade com a vida.
Por que a hipotermia ocorre?
A temperatura do corpo humano é determinada por um equilíbrio ativo entre a produção e a eliminação de calor.
Dessa forma, o centro termorregulador hipotalâmico, em conjunto com vários mecanismos periféricos, busca manter uma temperatura corporal ideal de 37,5 graus Celsius por meio da transpiração, vasodilatação e movimento muscular.
A hipotermia geralmente ocorre devido à perda excessiva de calor ou produção insuficiente do mesmo. Além disso, a alteração do centro regulador também pode ser responsável por essa condição.
Em geral, a exposição ambiental a condições de baixa temperatura é a principal causa da hipotermia, como ocorre no caso da imersão em água fria.
Por outro lado, alguns compostos como o etanol e os barbitúricos podem acelerar a perda de calor para o ambiente externo. Algumas pesquisas mostraram que até 20% dos pacientes experimentam hipotermia perioperatória não intencional enquanto estão sob efeito de anestésicos.
A maioria dos processos enzimáticos no corpo humano libera calor secundário à formação de energia, geralmente na forma de ATP. Dessa forma, a redução dos metabólitos necessários à produção dessa molécula favorece o surgimento da hipotermia. Portanto, esse fenômeno é comum em pessoas que sofrem de desnutrição grave, hipoglicemia ou marasmo.
Alterações no sistema nervoso central, como isquemia e traumatismos, também estão associadas à hipotermia, que surge devido a lesões nas vias neurológicas responsáveis pela termogênese. Além disso, pessoas com hipopituitarismo, insuficiência adrenal e hipotireoidismo apresentam um maior risco de desenvolver essa condição.
Diagnóstico
O diagnóstico da hipotermia é baseado na detecção da temperatura corporal e sua associação com os sintomas do paciente. Nesse sentido, geralmente é utilizado um termômetro oral, retal ou timpânico para realizar a leitura. A detecção de uma temperatura abaixo de 35 graus Celsius permite corroborar o estado hipotérmico.
Valores abaixo de 36 graus Celsius também permitem medidas preventivas. Além disso, o médico fará uma associação entre as manifestações clínicas e a leitura do termômetro para classificar a hipotermia como leve, moderada ou grave.
A abordagem médica geralmente envolve um exame físico integral, bem como uma entrevista detalhada. Dessa forma o médico identificará a situação desencadeante da condição e sua possível relação com uma patologia subjacente, fenômeno ambiental ou uma intoxicação por medicamentos.
Tratamento
O tratamento da hipotermia busca solucionar e retardar a evolução do evento desencadeante. Dessa forma, o procedimento inicial é tirar a pessoa do frio e utilizar medidas de primeiros socorros, que buscarão aquecer o corpo de forma progressiva.
É importante retirar a roupa molhada após uma imersão, protegendo o corpo com casacos secos e colocando a pessoa afetada em um local aquecido. Em casos graves, é necessária a assistência imediata de uma equipe de emergência e a utilização de protocolos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP).
Após retirar o paciente do estado crítico será iniciado o tratamento médico, com o objetivo de reaquecer e recuperar a temperatura corporal normal. Entre os procedimentos utilizados estão os seguintes:
- Reaquecimento externo passivo (PER): é utilizado em pessoas com hipotermia leve, e consiste em colocar a pessoa em um ambiente aquecido e isolado, elevando gradativamente a temperatura corporal central.
- Reaquecimento do Núcleo Ativo (ACR): usado em casos moderados a graves, e envolve várias maneiras de aumentar a temperatura de forma direta e segura. Nesse sentido, pode-se fornecer ao paciente ar quente e umidificado, irrigar o abdome, administrar líquidos quentes por via intravenosa ou utilizar métodos de diatermia e reaquecimento sanguíneo por hemodiálise.
Prevenção da hipotermia
As medidas de prevenção do estado hipotérmico estão orientadas a evitar a perda de calor pela pele. Para isso, é aconselhável seguir as seguintes dicas:
- Evitar ficar muito tempo em espaços com baixas temperaturas.
- Não tomar banhos ou realizar atividades aquáticas em rios, lagos ou represas durante o inverno.
- Utilizar medidas de proteção e isolamento corporal em ambientes frios.
- Consumir bebidas mornas ou quentes.
Uma condição que não deve ser subestimada
Na maioria dos casos, a hipotermia pode ser uma condição que passa despercebida, sendo considerada como de pouca importância para algumas pessoas. No entanto, o comprometimento da temperatura corporal implica em múltiplas complicações cardiovasculares, respiratórias e neurológicas. Além disso, eventos de hipotermia grave podem provocar rapidamente a morte da pessoa afetada.
Por esse motivo, não hesite em procurar atendimento imediato em caso de tremores, espasmos musculares, palidez cutânea, respiração superficial, confusão e sonolência. Os médicos são treinados para identificar a condição e orientá-lo na recuperação da sua saúde.
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