Guia de alimentação para gestantes
O período de gestação é especialmente crítico quando se trata de dieta. É necessário otimizar a ingestão nutricional para garantir o correto desenvolvimento e crescimento do feto. Caso contrário, podem ser geradas alterações no estado de saúde que podem condicionar o bem-estar futuro. Para não errar, ensinaremos a você os segredos da alimentação para mulheres grávidas.
Antes de começar, é preciso ter claro que um dos pilares de uma alimentação saudável é a variedade. Também no período de gestação, um amplo espectro de alimentos deve ser garantido no padrão alimentar. Claro, certos alimentos serão restringidos por seu risco microbiológico ou por suas interações negativas com o feto.
Os requisitos de energia aumentam
Na gravidez não é necessário comer por dois, mas é preciso aumentar a ingestão calórica, pois as necessidades aumentam. Durante o primeiro trimestre, pode ser o suficiente aumentar umas 200-300 calorias acima do normal, mas com o tempo você terá que continuar fazendo modificações.
Agora, é importante saber de onde vem essa energia. Não se trata de inserir calorias de qualquer forma. É sempre bom priorizar o consumo de alimentos in natura em relação aos ultraprocessados industriais, garantindo a presença de proteínas e gorduras do tipo cis de alta qualidade.
Outro fato que deve ser sempre levado em consideração é que será fundamental ingerir mais proteínas. Isso é evidenciado por pesquisas publicadas na revista Nutrients. Esses elementos são decisivos para garantir o crescimento e o desenvolvimento de novos tecidos.
Da mesma forma, é recomendado limitar a presença de gorduras trans. Estamos falando de um composto inflamatório que demonstrou gerar efeitos negativos na saúde a médio prazo. Essa classe de elementos é encontrada em ultraprocessados industriais.
Os alimentos frescos são caracterizados por terem ácidos graxos de boa qualidade. Dentre todos eles, será necessário destacar o consumo aqueles da série ômega 3, uma vez que trazem benefícios para o desenvolvimento do cérebro do feto. Isso é evidenciado por um estudo publicado na revista Nutrients.
Existem certos alimentos que devem ser evitados na dieta de mulheres grávidas
Durante a gestação, é necessário evitar o consumo de determinados alimentos, pois são considerados de risco microbiológico. Nesse momento, o corpo está mais suscetível a intoxicações. Além disso, certas bactérias podem causar danos cerebrais no bebê.
Estamos falando de produtos animais crus. Ovos, carne e peixe devem ser bem cozidos antes de serem consumidos. O leite também precisa passar por um processo de esterilização, o que o torna um alimento seguro para gestantes.
É importante notar que muitos dos animais de fazenda podem ter uma bactéria conhecida como Listeria spp., que causa a listeriose. Essa patologia infecciosa é muito perigosa para o feto, conforme apontado por pesquisas publicadas nos Arquivos de Ginecologia e Obstetrícia. Felizmente, isso é evitado com tratamentos térmicos.
Da mesma forma, será essencial restringir certos embutidos. O presunto serrano, por exemplo, pode conter toxoplasma, microrganismo que coloca em risco a saúde do bebê. É verdade que, se a mulher tiver anticorpos contra essa doença, o risco é reduzido.
Sushi, pratos feitos com peixe cru e aqueles peixes susceptíveis de conter anisakis também não devem ser consumidos no contexto da dieta de mulheres grávidas. Mesmo peixes grandes podem ser prejudiciais, pois acumulam grandes quantidades de metais pesados em seu interior.
As necessidades de micronutrientes aumentam em mulheres grávidas
Durante a gravidez, não só ocorre um aumento da necessidade de energia, mas também a necessidade de micronutrientes essenciais. Por exemplo, um suplemento de ácido fólico é freqüentemente prescrito para atender à dose diária recomendada de vitamina, evitando o desenvolvimento de defeitos do tubo neural. Isso é evidenciado por um estudo publicado em Annals d’Endocrinologi.
Da mesma forma, geralmente é aconselhável introduzir um suprimento extra de ferro. Este mineral tem uma baixa taxa de absorção. Um déficit dele causa anemia. O resultado é uma sensação de fadiga e cansaço crônico que condiciona o bem-estar da gestante.
No entanto, também será fundamental garantir que os níveis de vitamina D estejam em intervalos adequados. Isso reduzirá o risco de o feto desenvolver sérios problemas de saúde no início da vida.
Além disso, será importante evitar o déficit de micronutrientes em geral. As vitaminas e os minerais desempenham tarefas muito diferentes no corpo humano. Se um fornecimento adequado não for garantido, o desenvolvimento fetal e a saúde da gestante podem ser colocados em risco.
Você pode beber infusões durante a gravidez?
Outro ponto crítico na dieta da gestante diz respeito à possibilidade de inclusão de ervas e infusões no padrão. Elas podem aumentar o risco de aborto ou malformações no feto.
Em princípio, é recomendável reduzir a dose de cafeína, de acordo com artigo publicado na Trends in Endocrinology and Metabolism. O chá deve ser consumido com moderação, pois contém um alcalóide análogo. A dose máxima tolerável de cafeína durante a gravidez é postulada em 200 miligramas por dia.
As infusões que podem ser consumidas sem problemas são flor de laranjeira, passiflora, erva-cidreira, camomila e folhas de framboesa. A valeriana também pode ser incluída na dieta com moderação. Com o resto dos existentes, você terá que ter cuidado.
Da mesma forma, é imprescindível consultar primeiro o médico no caso de estar em tratamento farmacológico. As interações entre infusões e medicamentos são altas. Algumas combinações podem reduzir ou aumentar os efeitos dos medicamentos.
Devemos incluir suplementos na dieta de mulheres grávidas?
Como mencionamos, o suplemento de ácido fólico e ferro geralmente é administrado a todas as mulheres grávidas para prevenir anemia e problemas no desenvolvimento fetal. Além disso, a inclusão de qualquer outro suplemento regularmente não é recomendada, a menos que haja falta de um nutriente específico.
No contexto de uma alimentação variada, não deverá ser necessário ingerir mais produtos. Pode-se considerar a ingestão de um suprimento extra de ômega 3. Mesmo a vitamina D se a exposição ao sol não for ideal. Mas é melhor consultar sempre um especialista.
Claro, você deve ter cuidado com os suplementos esportivos. Mulheres que praticam atividade física devem evitar o consumo dessas ajudas ergogênicas, visto que faltam evidências sobre sua segurança durante a gestação. Apenas proteína de soro de leite de alta qualidade pode ser ingerida. Porém, é recomendável ter cuidado com ela, devido ao seu teor de aditivos. Existe também o risco de os suplementos esportivos concentrarem no seu interior substâncias dopantes.
Jejum intermitente e gravidez
Não existe uma dieta perfeita para mulheres grávidas. O princípio da individualização deve ser respeitado, tanto quanto possível. Portanto, não se deve limitar a criar um esquema de 5 refeições. Existem outras opções. No entanto, tem havido muito debate sobre se a introdução de um protocolo de jejum intermitente é positiva ou negativa.
As pesquisas mais recentes confirmam que esse mecanismo alimentar não deveria prejudicar a saúde do feto, desde que não acarrete restrição de calorias e nutrientes diários. Contanto que os requisitos sejam atendidos, não deve haver problema.
De qualquer forma, ainda falta descobrir, então o melhor conselho nesse caso é cautela. O melhor é propor um plano de 3 a 5 refeições que gere adesão suficiente e que consiga atender às necessidades diárias. Para isso, devemos priorizar o consumo de produtos in natura, limitando os açúcares simples e as gorduras trans.
É necessário otimizar a dieta da gestante
É imprescindível a adequação da dieta da gestante para evitar alterações no estado de saúde e permitir o correto desenvolvimento do feto. Desta forma, o bebê nascerá saudável.
Porém, existem outros hábitos de vida que devem ser otimizados, além da dieta alimentar. É conveniente praticar exercícios físicos regularmente, pelo menos dentro das possibilidades de cada mulher. Também será fundamental ter um descanso adequado à noite. Tóxicos, como álcool, tabaco e outras drogas, devem ser restringidos.
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