Diferenças entre homeopatia e fitoterapia
A medicina alternativa inclui uma variedade de práticas que muitas vezes podem ser confundidas entre si. Apesar de seu escasso suporte científico, esses métodos continuaram a se tornar populares nos últimos anos. Recentemente, vimos como a homeopatia e a fitoterapia aumentaram sua receptividade por parte dos pacientes. Para esclarecer as dúvidas, hoje te ensinaremos as diferenças entre a homeopatia e a fitoterapia.
Embora seja verdade que esses métodos compartilham várias características em comum, na realidade a forma como elas atuam é completamente diferente. Alguns meios de comunicação os utilizam como sinônimos, o que não ajuda de forma alguma na resolução do problema. Caso você não conheça muito bem as características de cada um, explicaremos 5 pontos a serem considerados.
5 diferenças entre homeopatia e fitoterapia
As categorias em que muitos dos métodos da medicina alternativa são tratados podem ser confusas entre si. Não há apenas confusão em torno da homeopatia e da fitoterapia, mas também em relação a outras variações, como trofoterapia, naturopatia, aromaterapia ou a herboterapia.
Isso porque essas práticas estão incluídas no mesmo grupo da medicina alternativa ou medicina natural. No entanto, os pesquisadores as distinguem muito bem. Apresentamos a seguir 5 critérios para compreender as diferenças entre a homeopatia e a fitoterapia.
1. Procedência dos produtos
Uma das diferenças mais importantes entre a homeopatia e a fitoterapia está na origem dos produtos. A fitoterapia utiliza exclusivamente plantas para a elaboração de suas receitas. Podem ser usadas partes de folhas, flores, caules, raízes ou extratos em forma de óleo.
Além de usar plantas, a homeopatia também utiliza outros tipos de ingredientes, como minerais (fósforo ou arsênico branco por exemplo), produtos de origem animal (como veneno de cobra ou abelha) e às vezes produtos sintéticos. Dessa forma, são exploradas outras alternativas além das plantas.
2. Elaboração dos produtos
Outra das diferenças entre homeopatia e fitoterapia está na forma como o produto é elaborado. Como você provavelmente já sabe, o medicamento homeopático passa por diferentes processos nos quais os ingredientes são diluídos em álcool ou água destilada. Esses processos são conhecidos como potencialização ou dinamização.
O número de vezes que os ingredientes são diluídos fica a critério do homeopata. Pode ser apenas uma vez (pouco comum) ou até 400 vezes. Durante o preparo, alguns, mas não todos, os homeopatas incluem etapas para maximizar a eficácia do composto. Por exemplo, expondo-o à luz solar ou a raios-X.
Isso não acontece na fitoterapia. Em geral, muitas plantas são ingeridas através de infusões de chá. Portanto, não existe uma elaboração prévia dos remédios. Também é possível encontrar distribuições em cápsulas e tinturas. Este último caso é o mais parecido com a homeopatia: é feita a maceração da erva por vários dias em água, e depois esse líquido é coado para a obtenção do ingrediente ativo (não diluído).
3. Compostos ativos
Isso nos leva a outra diferença entre a homeopatia e a fitoterapia. Como você pode observar, praticamente todo o composto ativo é perdido durante o processo de diluição homeopática. Tanto que estudos e pesquisas mostram que praticamente não existem moléculas do composto ativo original quando são feitas muitas diluições.
Dessa forma, o paciente acaba tomando ou ingerindo um produto com pouca ou nenhuma concentração do princípio ativo. O oposto acontece na fitoterapia. Independentemente da apresentação que o paciente escolha (infusões, tinturas ou cápsulas), ele sempre acaba recebendo um coquetel com um ou mais princípios ativos. Em alguns casos, em doses superiores às recomendadas.
4. Efeitos colaterais
Conforme as evidências indicam, e também por não possuir princípios ativos (ou estes são insignificantes), a homeopatia não produz efeitos colaterais. Se a diluição for muito baixa, é provável que alguns deles estejam presentes, mas geralmente são muito fracos ou mesmo imperceptíveis. As sequelas também podem surgir devido ao efeito placebo ou nocebo.
As concentrações elevadas de compostos ativos nos medicamentos e infusões da fitoterapia expõem o paciente a efeitos colaterais. Por isso os pesquisadores fazem um alerta para o uso descontrolado desse tipo de alternativa. Embora algumas plantas possam ter ingredientes benéficos, elas também podem apresentar elementos tóxicos.
5. Interação com medicamentos tradicionais
Não é incomum que os pacientes decidam abordar uma doença a partir da medicina convencional e alternativa ao mesmo tempo. Esta decisão apresenta uma série de riscos, pois as opções desta última podem inibir a eficácia dos medicamentos tradicionais.
Isso acontece principalmente com a fitoterapia, pelos motivos que já explicamos. Se o paciente inicia um tratamento para hipertensão à base de ervas e ao mesmo tempo toma anti-hipertensivos, por exemplo, ele pode desenvolver sequelas negativas devido à interação entre os compostos. Por esse motivo os médicos recomendam abandonar essas opções se for seguido um tratamento tradicional.
Quanto à homeopatia, não existem evidências de que ela interaja com um tratamento de medicina convencional. Isso se deve aos motivos expostos relacionados à ausência de compostos ativos no processo final (ou pelo menos uma presença ínfima).
Como você pode ver, existem muitas diferenças entre a homeopatia e a fitoterapia. Esses não são métodos que operam segundo princípios idênticos, de modo que não podemos considerá-los sinônimos. Claro, existem outras distinções que podemos fazer, embora essas 5 sejam as principais. Para mencionar uma diferença adicional, o tratamento homeopático geralmente é mais caro do que o baseado na fitoterapia.
A homeopatia funciona?
O consenso entre médicos especialistas é unânime: não existem evidências substanciais que apoiem a homeopatia como eficaz. Existem centenas de estudos e pesquisas que refutam as supostas propriedades dos medicamentos homeopáticos.
As evidências sugerem que o efeito placebo desempenha um papel importante em muitas das supostas curas baseadas em seus medicamentos. Embora em alguns contextos seja divulgado que a homeopatia é mais eficaz do que o placebo, na realidade os pesquisadores apontam que muitos desses estudos têm um suporte metodológico precário.
Em resumo, não existem evidências conclusivas sobre a eficácia desses tratamentos. Apesar disso, essa é uma indústria que gera milhões de dólares todos os anos, e seu crescimento não para de aumentar. A propaganda em torno desse método e a relação médico-paciente tem levado muitas pessoas a considerá-lo entre as alternativas de tratamento.
A fitoterapia funciona?
Estima-se que entre 65% e 80% dos pacientes que vivem nos países em desenvolvimento recorrem à fitoterapia como primeira linha de defesa no tratamento de uma doença. Ao contrário da homeopatia, existem evidências que apoiam o uso de algumas ervas para neutralizar os efeitos de algumas condições.
Para citar apenas alguns exemplos, foi estudada a eficácia da fitoterapia no tratamento de pedras nos rins, doenças inflamatórias pulmonares, periodontite, tosse, rinite alérgica, psoríase e hiperplasia benigna da próstata. Isso não significa que ela cure essas doenças, mas sim que os pacientes relatam uma certa melhora após o uso.
Os especialistas sempre recomendam cautela ao usar essa alternativa. As doses nem sempre são respeitadas no seguimento do tratamento, e os efeitos adversos muitas vezes são semelhantes aos da medicina convencional. Isso sem falar que para todas essas condições existem medicamentos cientificamente testados, seguros e eficazes.
Com esta última reflexão concluímos nossa seção de diferenças entre a homeopatia e a fitoterapia. Caso você pretenda utilizar alguma delas, recomendamos conversar com o especialista, principalmente se estiver tratando uma doença já diagnosticada.
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