Diagnóstico do câncer de cólon
O câncer de cólon é a terceira neoplasia mais comum em homens em todo o mundo. Em geral, essa patologia se origina a partir de pólipos que se formam no intestino grosso. O diagnóstico precoce do câncer de cólon é essencial para oferecer um melhor prognóstico e uma maior qualidade de vida para as pessoas afetadas.
Atualmente, a Sociedade americana do Câncer sugere a realização de exames para detectar o câncer de cólon a partir dos 45 anos em pessoas com risco médio. O exame de toque retal, a colonoscopia e o exame de fezes são os métodos mais utilizados para a identificação dos sinais clássicos desta patologia.
Exame clínico
Uma abordagem clínica abrangente é vital para o diagnóstico do câncer de cólon em estágio inicial. Nesse sentido, o médico iniciará o protocolo de detecção a partir de uma entrevista em que serão abordados os sintomas que o paciente apresenta. Mudanças na consistência das fezes, tenesmo, sangramento retal, fadiga e desconforto abdominal costumam orientar o diagnóstico clínico.
Além disso, o histórico médico e familiar são ferramentas muito úteis no prognóstico do estado de saúde, bem como na detecção de possíveis fatores de risco para essa condição intestinal. Nesse sentido, fatores como idade acima de 50 anos, histórico familiar ou pessoal de pólipos, neoplasias colorretais, colite ulcerativa e doença de Crohn aumentam a probabilidade de desenvolver câncer de cólon.
O médico especialista fará um exame físico em busca de quaisquer sinais ou anomalias que sugiram esta condição. A palpação do abdome permite a identificação de massas, áreas doloridas e vísceras aumentadas que permitem o estabelecimento de um diagnóstico diferencial do câncer de cólon.
Além disso, o exame de toque retal é um dos mais utilizados para a identificação de alterações colorretais. Ele consiste na introdução de um dedo enluvado e lubrificado pelo orifício anal em busca de anormalidades estruturais, secreções ou proliferações no epitélio retal.
Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais são indicados pelo médico para a obtenção de uma visão mais ampla do estado geral do paciente. Entre os exames mais utilizados para a identificação dos sinais do câncer de cólon e o diagnóstico definitivo estão os seguintes.
Exame de fezes
Estudos de amostras fecais fornecem informações sobre as características macroscópicas e microscópicas do conteúdo intestinal. Estudos afirmam que a detecção de sangue oculto nas fezes é muito útil na investigação e diagnóstico inicial da doença. O sangramento geralmente é resultado da ruptura dos vasos sanguíneos próximos aos pólipos ou lesões tumorais.
O Teste Imunoquímico Fecal (FIT) pode detectar facilmente o sangue oculto pela reação que ocorre com a hemoglobina contida no material fecal. Da mesma forma, o teste de guáiaco (gFOBT) usa uma reação química para identificar glóbulos vermelhos nas fezes.
Por outro lado, o teste de DNA fecal ou MT-sDNA permite a identificação do DNA anormal de células cancerígenas que proliferam no cólon e reto. A sua realização é recomendada a cada 3 anos para pacientes com alto risco de desenvolvimento de câncer de cólon.
Caso as amostras sejam positivas para sangue oculto nas fezes, é necessária a realização de uma colonoscopia confirmatória. Esse resultado poder acontecer não apenas em casos de câncer de cólon e pólipos, mas também em pacientes com úlceras e hemorroidas, por isso o interior do intestino grosso deve ser observado para identificar a origem do sangramento.
Exames de sangue
O hemograma completo fornece informações detalhadas sobre a contagem de glóbulos vermelhos, leucócitos e plaquetas, bem como o tamanho e as características de concentração da hemoglobina nos eritrócitos.
A anemia microcítica hipocrômica (ou seja, glóbulos vermelhos pequenos e “pálidos”) é comum em pessoas com câncer de cólon, como resultado da perda de sangue e destruição dos glóbulos vermelhos pelo tumor.
Por outro lado, os glóbulos brancos podem estar presentes em quantidades elevadas, o que é chamado de leucocitose, em resposta à necrose (morte do tecido) e invasão do tumor. Além disso, metástases hepáticas e complicações sépticas em pessoas afetadas também estão associadas a este sinal.
Detecção de marcadores tumorais
Em alguns casos, as células tumorais são capazes de produzir e liberar certas substâncias ou marcadores na corrente sanguínea que podem ser identificados por testes sorológicos. Estudos confirmam que o antígeno carcinoembrionário (CEA) está presente em mais de 90% das neoplasias colorretais. De fato, esse é o biomarcador mais utilizado no diagnóstico do câncer de cólon.
O CEA geralmente se mantém em valores abaixo de 2,5 nanogramas por mililitro em pacientes não fumantes. O adenocarcinoma do cólon é o principal responsável pela elevação desse marcador tumoral. Da mesma forma, esses valores também podem estar elevados em outros tipos de neoplasias colorretais ou em diferentes categorias de câncer, como de mama, gastrointestinal, pulmão, tireoide e pâncreas.
O antígeno carboidrato 19-9 (CA 19-9) é outra das substâncias ligadas ao câncer de cólon, cujos níveis normais estão abaixo de 37 unidades por mililitro. Os valores de CA 19-9 estão relacionados aos valores de CEA no acompanhamento de pessoas diagnosticadas que estão em tratamento. Além disso, essa substância apresenta uma grande sensibilidade na detecção de metástases para outros órgãos.
Teste de função hepática
Normalmente as neoplasias do cólon em estágio avançado podem se espalhar para o tecido hepático. Por esse motivo, o especialista pode solicitar um exame de sangue para avaliar o estado do fígado. Nesse sentido, é comum que o exame acuse uma alteração de proteínas totais e fracionadas, principalmente em pessoas que sofrem metástase ou apresentam uma recorrência hepática localizada.
Biópsia
Esse exame consiste na extração de uma amostra do tecido afetado para posterior estudo microscópico e histopatológico. Pesquisas afirmam que a biópsia é o exame confirmatório padrão no diagnóstico de câncer de cólon. Ela é solicitada quando existe uma suspeita clínica ou alguma evidência observada no estudo de imagem de uma massa anormal no intestino grosso.
Por outro lado, ela é muito útil na classificação das neoplasias do cólon com base nas características celulares e no grau de diferenciação do tecido. Também permite determinar a gravidade da doença, deduzir o prognóstico do paciente e implementar o tratamento mais eficaz.
Exames de imagem
Os exames de imagem permitem uma visão mais detalhada do estado geral dos órgãos internos. Eles são usados em pacientes com suspeita de câncer de cólon em busca de lesões anormais ou proliferações sugestivas de malignidade. Alguns dos exames de imagem usados são os seguintes:
Colonoscopia
A colonoscopia é um dos métodos de imagem mais utilizados no diagnóstico precoce do câncer de cólon. Ela consiste na introdução de um tubo fino e flexível com uma câmera na extremidade através do orifício anal. Dessa forma, é possível explorar o interior do reto e o ânus em sua totalidade, verificando se existem tumores ou pólipos que podem evoluir para câncer.
Além disso, esse procedimento permite a introdução de instrumentos específicos para a coleta de amostras para biópsia. Ele também oferece a possibilidade de remover pequenas lesões com potencial maligno, caso seja necessário.
Colonografia CTC
A colonografia por tomografia computadorizada (CTC) permite que a estrutura do cólon seja visualizada por meio de cortes específicos feitos por uma máquina de raios-X. Durante este exame, um pequeno tubo é inserido pela abertura anal, que será inflado com gás para obter uma imagem mais detalhada do reto e cólon.
Sigmoidoscopia flexível
A sigmoidoscopia é um método endoscópico que permite a exploração do interior do reto e do cólon sigmoide. Esse exame geralmente requer menos preparação, e para alguns pacientes não é necessário o uso de anestesia. Em caso de pólipos ou qualquer outra lesão sugestiva de câncer, será recomendada uma colonoscopia para avaliar o restante do intestino grosso.
Ressonância magnética
As imagens da ressonância magnética (MRI) são úteis na avaliação não invasiva dos tecidos moles e na detecção de processos tumorais. Em alguns casos pode ser administrado um meio de contraste por via parenteral antes de iniciar o procedimento. Ele facilita a detecção da disseminação metastática do câncer para o fígado, cérebro e medula espinhal.
Por outro lado, a MRI endorretal é usada no diagnóstico da disseminação do câncer de cólon para órgãos ou tecidos adjacentes. Ao contrário da ressonância magnética tradicional, esta usa uma pequena sonda que permanecerá no reto durante o estudo. Além disso, ela é utilizada no planejamento do tratamento cirúrgico ou quimioterápico das pessoas afetadas.
Estadiamento do câncer de cólon
O intestino grosso é revestido por uma camada interna ou mucosa, que é o local onde geralmente começam as lesões cancerígenas. Da mesma forma, ele possui uma camada submucosa e uma camada muscular logo abaixo da mucosa. Por outro lado, as camadas subserosas e serosas recobrem a face externa da maior parte do cólon, com exceção do tecido retal.
Como o estadiamento é feito?
Atualmente, o estadiamento das neoplasias colorretais é baseado no sistema estabelecido pelo American Joint Committee on Cancer (AJCC). Ele considera a extensão e o tamanho do tumor, a propagação para os linfonodos e se houve disseminação para outros órgãos contíguos ou distantes. Nesse sentido, os estágios do câncer de cólon são os seguintes:
- Estágio 0: É conhecido como carcinoma in situ. É o estágio em que o câncer não se espalhou para além da camada mucosa interna do cólon.
- Estágio I: o processo tumoral penetrou na camada submucosa ou na camada muscular. No entanto, ele ainda não se espalhou para os linfonodos ou tecidos adjacentes.
- Estágio II: o câncer se disseminou para as camadas mais externas do cólon. Caso ele se espalhe sem penetrar é denominado estágio IIA, enquanto se perfurar a parede do cólon é considerado estágio IIB. Já o estágio IIC ocorre quando a lesão se fixa e cresce nos tecidos adjacentes.
- Estágio III: é definido pelo comprometimento de 1 a 7 linfonodos contíguos ao tecido afetado. No estágio IIIA existe penetração na submucosa e na camada muscular. Por outro lado, o estágio IIIB é descrito quando ocorre a proliferação em direção à camada externa, com ou sem penetração do peritônio, e o estágio IIIC é o resultado do crescimento nos órgãos adjacentes.
- Estágio IV: a lesão neoplásica se espalhou para órgãos distantes, como fígado e pulmão.
Diagnóstico diferencial
Manifestações clínicas presentes no câncer de cólon como sangramento retal, tenesmo e alterações nos hábitos intestinais podem ser causadas por diversas doenças. Por esse motivo, o médico realizará uma análise profunda do quadro, apoiada por exames laboratoriais e de imagem para descartar outras condições. Alguns dos diagnósticos diferenciais de câncer de cólon são os seguintes:
- Hemorroidas.
- Doença inflamatória intestinal.
- Apendicite.
- Síndrome do intestino irritável.
- Diverticulite.
- Colite infecciosa.
- Nefrolitíase.
O diagnóstico precoce do câncer aumenta a taxa de sobrevivência
As neoplasias colorretais são doenças comuns em homens com mais de 50 anos de idade. No entanto, o diagnóstico do câncer de cólon nos estágios iniciais oferece expectativas bastante elevadas de cura. Nesse sentido, recomenda-se a realização de exames médicos anuais de acompanhamento em pessoas com mais de 45 anos, principalmente nas que apresentam fatores de risco.
Por isso, se você experimentar sintomas intestinais anormais, evacuações com sangue e sensação de fadiga, não hesite em procurar atendimento médico o mais rápido possível. Os médicos especialistas são treinados para cuidar de sua condição e fornecer as melhores opções de tratamento.
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