Diagnóstico da doença de Lyme
Carrapatos são vetores de múltiplas patologias infecciosas que podem comprometer a saúde. A maioria dessas condições é detectada com base nas manifestações clínicas do paciente e com o apoio de exames laboratoriais complementares. Aqui está tudo o que você precisa saber sobre o diagnóstico da doença de Lyme.
A infecção ocorre a partir de uma picada por carrapatos contaminados em qualquer parte do corpo. Estudos sugerem que essa patologia é comum no verão e se caracteriza por uma série de alterações cutâneas acompanhadas de sintomas semelhantes aos da gripe ou do resfriado comum.
Assim, o exame clínico e os testes de detecção de anticorpos são essenciais no diagnóstico definitivo da doença de Lyme.
Exame clínico
A avaliação por um profissional de saúde é o primeiro passo para a identificação dessa patologia. Nesse sentido, o especialista fará um interrogatório detalhado sobre os sintomas que afligem a pessoa, bem como as circunstâncias de seu aparecimento. Em geral, dados como morar ou viajar para áreas endêmicas são de grande valor para o diagnóstico clínico.
Da mesma forma, o exame físico abrangente geralmente fornece um quadro mais amplo da condição do paciente. Na maioria dos casos, essa condição se apresenta com eritema migratório, o resultado de uma picada de carrapato.
Caracteriza-se por ser uma mancha vermelha na pele que se expande gradativamente até atingir cerca de 30 centímetros, deixando um centro claro em forma de círculo.
Nos estágios iniciais, é frequente o aparecimento de pequenas pápulas em decorrência da inoculação da infecção. Geralmente aparecem nas dobras e áreas úmidas do corpo, como virilha, região glútea, parte posterior dos joelhos e couro cabeludo.
Além disso, as pessoas afetadas freqüentemente apresentam outros sintomas, como dor de cabeça, febre, fadiga e dores musculares.
Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais geralmente são úteis no diagnóstico definitivo da doença de Lyme. Algumas pesquisas afirmam que essa patologia é dividida em três estágios, que incluem uma fase inicial localizada, uma fase inicial disseminada e uma fase tardia. Por esse motivo, as características clínicas e laboratoriais podem variar em cada etapa, resultando em um grande desafio clínico.
Na maioria dos casos, as infecções bacterianas são detectadas pelo isolamento do micro-organismo patogênico dos fluidos corporais. No entanto, a identificação da bactéria Borrelia spp. pode ser um verdadeiro desafio devido às suas propriedades invasivas. Esse fato promove a necessidade da detecção de anticorpos no sangue como principal método diagnóstico.
Análise de sangue
Os exames de sangue são usados para avaliar a contagem de glóbulos vermelhos, leucócitos e plaquetas. Dessa forma, é possível suspeitar de infecção bacteriana por elevação de leucócitos com predomínio de neutrófilos. Por outro lado, os resultados obtidos permitem detectar se o paciente sofre de anemia ou tem alguma alteração na capacidade plaquetária.
Os exames de sangue são usados no diagnóstico diferencial de outras patologias responsáveis pela erupção cutânea. Nesse sentido, os reagentes de fase aguda, como a proteína C reativa e a velocidade de hemossedimentação, podem ser úteis na detecção de novos quadros inflamatórios.
Ensaio imunoenzimático (ELISA)
Este é um método laboratorial que usa anticorpos ligados a enzimas para identificar os anticorpos produzidos pelo corpo contra a infecção por Borrelia spp. Estudos afirmam ser este o exame mais utilizado na abordagem diagnóstica da doença de Lyme.
Caso o resultado seja positivo ou indeterminado, deve-se realizar o teste Western Blotting.
Porém, o ELISA pode não detectar os anticorpos nas primeiras semanas após a picada, dando falsos negativos, pois durante esse período o sistema imunológico não produziu anticorpos suficientes contra a bactéria.
Da mesma forma, o uso precoce de antibióticos pode reduzir a quantidade de anticorpos necessária para que o teste seja positivo.
Western Blotting
É uma técnica de imunoensaio que oferece grande sensibilidade na detecção de proteínas específicas em uma amostra biológica.
É usado como parte do protocolo de diagnóstico definitivo para doença de Lyme quando a análise ELISA mostra valores positivos ou pouco esclarecedores. A taxa de falsos positivos é muito baixa, mas podem ocorrer nos estágios iniciais.
Exame de punção lombar
A punção lombar é uma opção diagnóstica indicada pelo médico assistente quando há suspeita de um sistema nervoso central como uma complicação dessa patologia. Alguns sintomas sugestivos incluem torcicolo, cefaleia prolongada e intensa e papiledema. Este exame permite detectar condições como meningite ou mielite causadas por Borrelia spp.
Diagnóstico diferencial
As manifestações cutâneas, os sintomas gerais e os efeitos colaterais de longo prazo da doença de Lyme podem ser confundidos com múltiplas patologias. Na maioria das pessoas, é imprescindível o diagnóstico diferencial com outras afecções dermatológicas, síndromes gripais ou patologias de comprometimento sistêmico, entre as quais se destacam:
- Mononucleose infecciosa.
- Rickettsiose.
- Babesiose.
- Gripe.
- Artrite reumatoide.
- Esclerose múltipla.
- Febre reumática aguda.
- Erliquiose.
- Artrite idiopática juvenil.
- Meningite linfocítica.
O diagnóstico precoce reduz o risco de complicações de múltiplos órgãos
Atualmente, o diagnóstico da doença de Lyme é baseado em sintomas, características epidemiológicas e resultados de testes de detecção de anticorpos. Sua identificação oportuna está associada a um melhor prognóstico e uma melhor qualidade de vida.
Porém, sua abordagem tardia aumenta a probabilidade de sofrer alterações articulares, neurológicas e cardíacas.
Por esse motivo, se você mora em uma área endêmica para essa condição e tem sintomas cutâneos após o contato com um carrapato, não hesite em procurar atendimento médico. Os profissionais de saúde são treinados para cuidar de sua condição e orientá-lo na detecção e tratamento da doença.
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