Diabetes e boca seca: como estão relacionados?
O diabetes é uma doença metabólica associada a complicações graves no coração, rins, cérebro e olhos. No entanto, essa patologia pode causar problemas na boca e nas gengivas. Você está interessado em saber como o diabetes e a boca seca estão relacionados? Vamos te contar a seguir.
A sensação de boca seca, em que a pessoa percebe uma falta parcial ou total de saliva é conhecida como xerostomia. Estudos estimam uma incidência de mais de 20% em pessoas com mais de 60 anos, associadas a doenças crônicas. Da mesma forma, a boca seca geralmente é um sintoma típico de diabetes que pode promover complicações como gengivite ou periodontite.
Sintomas da boca seca
A saliva é essencial para a manutenção e proteção da saúde bucal. Ela favorece a preservação dos dentes, a eliminação de agentes nocivos, regulação do pH da boca e a deglutição.
Quando há deficiência de saliva no diabetes, é gerada uma sensação incômoda de boca seca que atinge o paciente à noite ou ao acordar. Além disso, a boca seca pode se manifestar acompanhada pelos seguintes sintomas:
- Lábios secos, pálidos e rachados.
- Sensação de queimação na boca e gengivas.
- Dor na cavidade oral.
- Dificuldade em mastigar, engolir e falar.
- Língua áspera, seca e pálida.
- Aftas ou úlceras.
Pacientes com diabetes que apresentam boca seca costumam apresentar infecções orais recorrentes como gengivite, além de cáries e perda de esmalte dentário. Tudo isso em decorrência da alteração da microbiota oral, bem como do desgaste estrutural das gengivas e dos dentes.
O que pode causar a sensação de boca seca no diabetes?
O diabetes mellitus é uma condição caracterizada por altos níveis de açúcar ou glicose no sangue. Esse fato favorece o aparecimento dos sintomas típicos da doença e favorece o desenvolvimento de complicações a curto e longo prazo.
Geralmente, a sensação de boca seca presente em pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2 é o resultado de um aumento na frequência e no volume da micção. Nesse sentido, o excesso de açúcar no sangue promove a filtração renal da urina, aumentando a perda de fluidos e elevando a osmolalidade plasmática.
Essa situação gera um estado de desidratação relativa que altera a produção de saliva, tanto em quantidade quanto em composição. Quando há deficiência de saliva, as mucosas da cavidade oral perdem a umidade e o paciente com diabetes manifesta a sensação de boca seca.
Da mesma forma, é comum a pessoa ter uma necessidade urgente de beber líquidos ou polidipsia, sintoma que é parte fundamental dos três “Ps” do diabetes.
Algumas pesquisas afirmam que a deficiência de saliva faz parte da patogênese das doenças periodontais e piora o controle glicêmico. Da mesma forma, existem outras condições que podem ocorrer em diabéticos que promovem e aumentam sensação de boca seca, entre as quais estão as seguintes:
Sialose diabética
A sialose é uma doença das glândulas produtoras de saliva que se apresenta como um aumento bilateral indolor das glândulas principais. A glândula parótida é a mais acometida e seu principal sintoma é a sensação de boca seca.
A longo prazo, o diabetes é capaz de alterar a estrutura e o funcionamento dessas glândulas, comprometendo a excreção de saliva. Estudos sugerem que a sialose é comum em pacientes com alcoolismo crônico e diabéticos. No entanto, em pacientes com diabetes a protuberância glandular é maior, devido à infiltração de gordura.
Problemas renais
A lesão renal é uma das complicações mais temidas do diabetes mellitus. Em estágios avançados da doença, a hiperglicemia danifica as membranas e tecidos renais, promovendo a desregulação da filtração renal. Por esse motivo, ocorre um aumento progressivo da perda hídrica e na intensidade da desidratação dos pacientes.
Nesse sentido, a pessoa com diabetes apresentará mais sede, sensação de boca seca, pele e mucosas pálidas, além de alterações na consciência. Por esse motivo, o controle periódico da doença e da glicemia é essencial para evitar a insuficiência renal em estágio terminal.
Por outro lado, o diabetes insípido nefrogênico ou central pode alterar a capacidade renal de excretar urina. Esta é uma forma menos comum de diabetes, causada por uma desregulação do hormônio antidiurético. Esse hormônio é responsável por concentrar a urina e prevenir a perda de líquidos, por isso seu desequilíbrio promove a excreção de grandes quantidades de urina diluída, gerando uma maior sensação de sede.
Medicamentos
Em geral, alguns medicamentos usados no tratamento do diabetes e suas comorbidades podem causar a sensação de boca seca como efeito colateral. É o caso da metformina, um agente hipoglicemiante oral comumente usado no tratamento do diabetes tipo 2. Este medicamento está associado a efeitos adversos como cansaço, pele seca, boca seca e sonolência.
Por outro lado, a hipertensão que geralmente acompanha o diabetes é tratada com medicamentos que podem causar ressecamento da cavidade oral.
Entre esses medicamentos se destacam os diuréticos e inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA). Por este motivo, é necessário consultar um médico e conhecer as opções de tratamento e os efeitos associados.
Cetose dietética
A cetose dietética é um déficit de carboidratos com aumento do metabolismo de ácidos graxos induzido pela manutenção de uma dieta cetogênica. Estudos estimam que essa dieta é uma opção popular para pacientes com diabetes tipo 2.
Na dieta cetogênica, ocorre aumento na liberação de glicogênio e perda de líquidos. Portanto, geralmente causa sensação de boca seca e desidratação em pacientes com diabetes.
Nesse sentido, é importante consultar um médico especialista sobre qualquer plano alimentar a ser escolhido e avisar se ocorrer de algum desconforto que o obrigue a suspensão.
Cetoacidose diabética
A cetoacidose diabética é uma complicação comum em diabéticos tipo 1. É tipicamente caracterizada por hiperglicemia, hipercetonemia e acidose metabólica. Ocorre devido à deficiência de insulina que induz a metabolização de ácidos graxos e a produção de cetonas para energia.
Os níveis elevados de açúcar no sangue e de ácido promovem diurese osmótica e perda de líquidos. Nesse sentido, a pessoa pode apresentar vômitos, náuseas, boca seca, pele seca, dificuldade respiratória, distúrbio sensorial e coma. Essa alteração também pode se manifestar em alguns pacientes com diabetes tipo 2.
Tratamentos para a sensação de boca seca em diabéticos
Na maioria dos pacientes com diabetes, o controle adequado dos níveis de açúcar no sangue é a principal forma de aliviar os sintomas de boca seca. Da mesma forma, é fundamental identificar e tratar outras patologias que podem estar contribuindo para o desenvolvimento desse sintoma.
O Instituto Nacional de Investigación Dental y Craneofacial (NIDCR) recomenda as seguintes diretrizes para evitar ressecamento e manter a saúde bucal:
- Assegurar a ingestão adequada de água ao longo do dia.
- Evitar consumir alimentos e bebidas açucaradas ou salgadas.
- Reduzir ou eliminar o consumo de cafeína.
- Evitar o consumo excessivo de cigarros e álcool.
- Usar equipamento de umidificação à noite ou no trabalho.
- Consumir os medicamentos recomendados pelo dentista ou médico.
- Praticar a higiene dental adequada, escovando os dentes duas vezes ao dia e usando o fio dental regularmente.
Uma condição que não deve ser subestimada
A sensação de boca seca é uma condição comum em pacientes com diabetes, que frequentemente causa mal estar e desconforto durante o dia. Em geral, as pessoas tendem a ignorar esse sintoma e não prestam atenção a ele. No entanto, deve-se levar em consideração que a secura oral está diretamente associada à desidratação e hiperglicemia.
Por esse motivo, essa manifestação é um sinal precoce de que algo está errado. Caso você tenha a sensação constante de boca seca ou outros sintomas estranhos, não hesite em consultar um médico. Os profissionais de saúde são treinados para cuidar do seu problema e oferecer a ajuda de que você precisa.
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