Síndrome de Estocolmo: o que é?
A Síndrome de Estocolmo é uma condição psicológica na qual uma vítima ou refém desenvolve empatia por um agressor ou sequestrador. Dito desta forma, parece um fenômeno bastante simples, embora na verdade seja mais complexo do que parece. Não está incluída na última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), nem na Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
Como apontam os especialistas, a síndrome de Estocolmo é usada indiscriminadamente pela mídia como um cheque branco em situações de abuso, captura e violência. Isso resultou na banalização ou no uso em contextos nos quais a síndrome não pertence. Nós ensinaremos o que se sabe sobre ela e em que circunstâncias geralmente se manifesta.
Características da síndrome de Estocolmo
A Síndrome de Estocolmo é uma reação psicológica usada para descrever os acontecimentos do famoso assalto a Norrmalmstorg em Estocolmo, na Suécia, em 1973, uma situação de violência com a polícia. Foi o psiquiatra Nils Bejerot quem cunhou o termo, quem foi assessor da polícia sueca durante o assalto.
Apenas alguns meses depois, em fevereiro de 1974, Patricia Hearst foi sequestrada pelo Exército Simbionês de Libertação. Pouco depois de sua libertação, Patricia ajudou seus sequestradores a assaltar um banco. Durante o julgamento, seus advogados tentaram alegar que Patricia havia desenvolvido a Síndrome de Estocolmo, embora isso tenha sido rejeitado pelo tribunal. Este fato popularizou o fenômeno em todo o mundo.
Em geral, a síndrome refere-se a uma situação em que uma pessoa desenvolve uma resposta emocional a um sequestrador ou agressor. O faz em relação às suas demandas, suas agendas e intenções; também com sua vida e sua personalidade. Em outras palavras, manifesta um vínculo positivo em vez do oposto.
Não é reconhecido por manuais internacionais de diagnóstico, embora seja frequentemente citado como um tipo de transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno de estresse agudo. Às vezes é chamado de síndrome de Helsinque, embora seja devido a um mal-entendido gerado pelo filme Die Hard (1988). Psicólogos, psiquiatras e especialistas são contidos ao usar o termo, mas não é o caso do público não especializado.
Sintomas da síndrome de Estocolmo
A síndrome se manifesta de várias formas, embora sempre o faça gerando empatia por uma pessoa que assume o papel de sequestrador ou agressor. Por causa disso, a imagem típica é caracterizada pelo seguinte:
- Bondade ou compaixão para com o captor.
- Rejeição e desconfiança daqueles que buscam libertá-los do vínculo com ele (policiais, amigos, familiares e outros).
- Desenvolver pena pela situação que o captor está passando.
- Negação na hora de optar pela liberdade (optam por acompanhar seu captor até o fim).
- Assimilação dos valores, dos objetivos, da ideologia e das metas desta pessoa.
Todas essas reações se desenvolvem durante o tempo em que o vínculo refém/captor ou vítima/vitimizador é mantido. Pode persistir depois que o vínculo é quebrado, muitas vezes levando a crises de vergonha, arrependimento, confusão, dificuldade em confiar nos outros, retraimento social, sentimentos de vazio, depressão, ansiedade, insônia e assim por diante.
Em última análise, a síndrome de Estocolmo freqüentemente dá lugar ao transtorno de estresse pós-traumático e ao transtorno de ansiedade. As pessoas que a desenvolvem têm dificuldade de se reinserir no convívio social, inclusive para lidar com situações que consideram semelhantes no futuro. É comum que apresentem flashbacks do momento durante a vigília ou sono.
Causas da Síndrome de Estocolmo
Embora a Síndrome de Estocolmo seja falada na mídia como um fenômeno bem compreendido, na verdade existem muitas lacunas em torno dela. É o caso de seus desencadeantes, pois os pacientes que a manifestam respondem a diferentes perfis. Tentativas foram feitas para vinculá-la ao abuso sexual infantil, enquanto alguns especialistas a associam a episódios de violência doméstica.
Certamente, aqueles que tiveram que lidar com situações como essas são mais propensos a desenvolver a síndrome de Estocolmo; mas isso pode aparecer independentemente delas. Alguns pesquisadores sugerem que o fenômeno é mais simples do que parece, pois se deve apenas a um instinto de preservação da vida. Ou seja, se um refém simpatiza com seu captor, é muito menos provável que ele acabe por prejudicá-lo.
É verdade que alguns critérios devem ser preenchidos para que a síndrome se manifeste. Por exemplo, deve haver um certo grau de comunicação entre o perpetrador e a vítima, a situação deve se estender por várias horas ou dias, e o sequestrador deve desenvolver alguma gentileza e empatia pela reação do refém. A síndrome pode aparecer nos seguintes contextos:
- Prisioneiros de guerra.
- Situações de violência doméstica.
- Prisioneiros de campos de concentração.
- Membros de uma seita.
- Vítimas de violência sexual.
É importante destacar que o fenômeno se manifesta com mais frequência naqueles que desenvolveram aversão à polícia, à ordem, à sociedade ou à lei. Aqueles que sentem que não estão totalmente protegidos, que fazem parte de um grupo discriminado e que foram rejeitados de várias formas pela sociedade tendem a se conectar mais facilmente com seus captores.
Alternativas para tratá-la
Por se tratar de uma síndrome pouco estudada e não incluída nos manuais de diagnóstico e tratamento padronizados internacionalmente, não há consenso sobre como lidar com ela. A terapia psicológica ou psiquiátrica é frequentemente escolhida, devido à tendência de desenvolver ansiedade e estresse pós-traumático após os eventos.
Muitas vezes, a empatia e a conexão persistem após o término da situação de captura ou violência, o que pode comprometer o bem-estar emocional. Não é incomum que os afetados se recusem a cooperar com a justiça, seja declarando em tribunal ou gerenciando processos de reclamação. O apoio da família, dos amigos e da sociedade é muito útil para atacar as reações de isolamento.
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