O que é um surto psicótico?

Um surto psicótico implica uma ruptura com a realidade, uma descompensação. Saiba mais sobre esse fenômeno por meio do nosso artigo.
O que é um surto psicótico?
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 25 março, 2021

O que é um surto psicótico? É possível dizer, em linhas gerais, que as pessoas que não manifestam um transtorno mental de tipo psicótico vivem a sua realidade em um continuum; ou seja, elas têm um contato adequado com a realidade e podem diferenciar o que é real do que não é.

Mas e as pessoas com transtornos psicóticos? Ou aquelas que são expostas a situações muito traumáticas ou estressantes? O seu continuum de realidade pode ser rompido: é aí que falamos de um surto psicótico.

Assim, durante um episódio de surto psicótico, ocorre uma ruptura com a realidade e a pessoa deixa de ter contato com ela; a pessoa não sabe mais o que é real e o que não é. É neste contexto que surgem as alucinações, delírios, sintomas de agitação ou violência.

Os especialistas chamam o quadro de “descompensação” (ou seja, o paciente ficou descompensado ou surtou). O que está envolvido em um surto psicótico? Existem sinais de alerta que nos permitem antecipá-los? Em quais transtornos eles são mais frequentes, além da esquizofrenia? Vamos revelar tudo a seguir.

O que é um surto psicótico?

Um surto psicótico pode ser difícil de controlar.
Os surtos psicóticos podem afetar vários aspectos da vida de forma significativa.

Um surto psicótico é uma ruptura temporária com a realidade, ou seja, uma perda de contato com ela. Isso significa que, durante esse episódio, a pessoa não consegue distinguir se o que está acontecendo é real ou não.

Assim, a pessoa afetada pode desenvolver pensamentos paranoicos importantes, que podem se transformar em delírios, bem como em alucinações de vários tipos.

É aconselhável tratar o surto psicótico com medicamentos, bem como solicitar ajuda psicológica o mais rápido possível, para evitar colocar em risco a vida da pessoa ou de quem estiver ao seu redor. Além disso, é durante o surto que os medicamentos antipsicóticos são mais eficazes (não antes e nem depois do surto).

Típico de alguns transtornos ou situações

Os surtos psicóticos aparecem em transtornos psicóticos, tais como esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme ou transtorno psicótico breve, entre outros. No entanto, também podem aparecer de forma isolada em pessoas que não sofrem de nenhum transtorno psicótico.

Nesse sentido, as situações traumáticas ou muito estressantes podem chegar a desencadear os sintomas.

Também se acredita que existem pessoas que manifestam certa predisposição genética para sofrê-los; se a essa vulnerabilidade individual forem adicionados certos fatores ambientais (por exemplo, os estressores já mencionados), o aparecimento do surto é mais provável.

Sinais de alerta de um surto psicótico

Existem alguns indícios que podem indicar o aparecimento iminente de um surto psicótico (é o que chamamos de “pródromo”, na fase prodrômica da esquizofrenia, conforme veremos mais adiante). Quais são alguns desses sinais ou sintomas?

  • A pessoa começa a se isolar do ponto de vista social.
  • Aparecem mudanças na rotina dessa pessoa, bem como na forma como ela se comporta ou se veste (pode abandonar a higiene, por exemplo).
  • Começa a apresentar um comportamento desorganizado, estranho, extravagante, incomum, etc.
  • A pessoa passa a ter ideias estranhas que não parecem ter lógica ou relação com a realidade.

Surto psicótico na esquizofrenia

Na esquizofrenia, o aparecimento do surto psicótico é algo frequente; quando a pessoa surta, costumamos dizer que “ela ficou descompensada”.

Assim, o surto psicótico faz parte dos sintomas positivos desse transtorno psicótico, pois geralmente inclui alucinações e delírios. Vamos lembrar aqui que, na esquizofrenia, aparecem três tipos de sintomas:

  • Positivos: são aqueles que implicam no aparecimento de algum fenômeno, e incluem alucinações, delírios, pensamentos desorganizados, etc.
  • Negativos: implicam na “desativação” de alguma área, e incluem achatamento afetivo, comunicação escassa ou nula, desconexão com o ambiente…
  • Cognitivos: diminuição da atenção e da memória, alteração das funções executivas, lentidão de pensamento, etc.

Por outro lado, para o diagnóstico da esquizofrenia, de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), devem estar presentes pelo menos dois dos seguintes sintomas:

  • Delírios.
  • Alucinações.
  • Linguagem desorganizada.
  • Comportamento catatônico ou muito desorganizado.
  • Sintomas negativos.

Ou seja, deve necessariamente haver um sintoma que configuraria um surto psicótico propriamente dito. As pessoas com esquizofrenia, que é um transtorno crônico, manifestam diferentes surtos ao longo da vida, embora eles possam ser prevenidos com acompanhamento psiquiátrico e psicológico adequado.

Fases da esquizofrenia

A esquizofrenia tem um curso bastante heterogêneo; entretanto, foram definidos quatro estágios ou fases para que haja uma melhor compreensão de como os pacientes com esse transtorno geralmente evoluem. Onde se localizaria o surto psicótico nessas fases? Veremos quais são elas:

  • Fase pré-mórbida: nesta fase, o paciente não apresenta sintomas de esquizofrenia e o seu funcionamento é normal.
  • Fase prodrômica: nesta fase aparecem os primeiros pródromos, ou seja, sinais da doença, embora não sejam sintomas exatos; assim, a pessoa pode experimentar uma leve mudança de comportamento, uma alteração no humor, um comportamento um pouco estranho, etc.
  • Fase de progressão: é nesta fase que surge o surto psicótico. Ou seja, o paciente fica descompensado. Nesta fase, os antipsicóticos são mais eficazes do que nunca.
  • Fase de estabilização: é a fase pós-surto ou pós-crise, ou seja, após o surto. É dividida em duas partes: fase inicial de recuperação (quando há remissão parcial dos sintomas) e fase tardia de recuperação (quando a pessoa já está funcionando normalmente).

O surto psicótico em outros transtornos

Os surtos psicóticos requerem tratamento.
A terapia psicológica, juntamente com o suporte medicamentoso, é necessária para que esses pacientes apresentem uma melhora.

O surto psicótico também pode aparecer em outros transtornos do espectro psicótico. É o caso do transtorno esquizoafetivo, do transtorno delirante, do transtorno psicótico breve e do transtorno psicótico compartilhado.

Transtorno esquizoafetivo

Está classificado como tal no DSM-5 e é caracterizado por um padrão ininterrupto durante o qual já apareceu um episódio depressivo maior (que inclua estado de humor depressivo) ou um episódio maníaco, juntamente com os sintomas do critério A da esquizofrenia (isto é, o aparecimento de delírios, alucinações, etc.).

Conforme podemos ver, neste caso, os sintomas do estado de humor se combinam com os sintomas psicóticos e, portanto, uma pessoa com esse transtorno também pode manifestar um surto psicótico quando há descompensação.

Transtorno delirante

As pessoas com transtorno delirante, outro transtorno do espectro psicótico, também podem ter um surto psicótico. Assim, o transtorno delirante também é tipificado como tal no DSM-5.

Para ser diagnosticado, a pessoa deve manifestar um ou mais delírios com duração de 1 mês ou mais.

Conforme podemos ver, os delírios fazem parte dos sintomas positivos do espectro psicótico e, portanto, sofrer um deles abruptamente pode desencadear um surto psicótico.

Transtorno psicótico breve

O transtorno psicótico breve tem curta duração; dura pelo menos 1 dia, mas menos de 1 mês, e a pessoa retorna ao seu nível pré-mórbido de atividade (ou seja, retorna ao seu funcionamento normal). Implica a presença de pelo menos um dos seguintes sintomas:

  • Delírios.
  • Alucinações.
  • Linguagem desorganizada.
  • Comportamento muito desorganizado ou catatônico.

Quando uma pessoa manifesta um surto psicótico que dura pelo menos 1 dia, ela já pode ser diagnosticada com um transtorno psicótico breve.

Porém, os sintomas não podem ser causados por outro problema subjacente (como, por exemplo, depressão, transtorno bipolar com sintomas psicóticos, esquizofrenia, etc.) nem pelos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma doença clínica.

Transtorno psicótico compartilhado

Essa condição (também chamada de folie a deux ) implica em um delírio compartilhado por duas pessoas. Ou seja, existe uma pessoa “influente”, que geralmente tem o diagnóstico de esquizofrenia ou depressão, que “transfere” o seu delírio para outra pessoa “influenciada” (esta segunda é a que sofre do transtorno psicótico compartilhado).

De fato, esse diagnóstico foi retirado na última versão do DSM (DSM-5), mas alguns autores ainda afirmam a sua existência. Nesse caso, as duas pessoas poderiam manifestar o surto psicótico através do delírio.

Os surtos psicóticos são complexos e variados

Conforme você pôde observar ao longo do artigo, essas alterações podem ser causadas por uma grande variedade de problemas. São peculiares e às vezes difíceis de identificar.

Para evitar a progressão dos sintomas e os comportamentos agressivos que podem colocar em risco a vida de uma ou de várias pessoas, é necessária a terapia psicológica e psiquiátrica oportuna.



  • American Psychiatric Association -APA- (2014). DSM-5. Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales. Madrid. Panamericana.
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  • OMS: CIE-10. (1992). Trastornos Mentales y del Comportamiento. Décima Revisión de la Clasificación Internacional de las Enfermedades. Descripciones Clínicas y pautas para el diagnóstico. Organización Mundial de la Salud, Ginebra.
  • Sims, A. (2002). Symptoms in the mind: An introduction to descriptive psychopathology (3rd ed.). Edinburgh: Elsevier Science Ltd.

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