Efeito placebo: o que é e como funciona?

O efeito placebo explica porque ocorrem melhoras em termos psicológicos e de saúde em pessoas que recebem tratamentos sem princípio ativo. Este fenômeno é altamente influenciado por dois processos: condicionamento e expectativas.
Efeito placebo: o que é e como funciona?
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 17 abril, 2021

Certamente, o conceito de efeito placebo soa como algo familiar para você, sobre o qual você já ouviu falar ou que até mesmo já vivenciou em alguma ocasião. Mas será que você realmente sabe do que se trata? Qual é a diferença entre placebo e efeito placebo?

Como esse fenômeno funciona e de que maneira ele nos afeta em nível psicológico? Como o seu aparecimento é explicado? Para que pode ser útil? Vamos contar tudo para você!

Efeito placebo: o que é?

O efeito placebo é normal para a dor.
Os placebos são usados frequentemente para o tratamento da dor.

O placebo é definido como uma substância que carece de ação curativa, mas que produz um efeito terapêutico na pessoa. Por sua vez, chamamos de efeito placebo a consequência da ingestão dessa substância.

Assim, a pessoa que o utiliza acredita que se trata de um medicamento eficaz e, dessa forma, ela melhora graças a essa crença, e não por causa do medicamento em si (que não tem efeito algum no seu corpo).

Na medicina, o placebo geralmente é uma pílula com a mesma aparência, sabor e forma de um medicamento “real”, mas que é feita a partir de produtos inertes e sem qualquer princípio ativo.

Outra definição para o efeito placebo seria a proposta pela Dra. Rosa María Lam em um artigo de 2014; de acordo com ela, denomina-se como placebo uma “intervenção destinada a simular uma terapia médica, que não tem efeitos específicos sobre a condição para a qual está sendo aplicada”.

Conforme veremos, a sugestionabilidade e as expectativas desempenham um papel importante no efeito placebo.

Expectativas de melhoria

Mas o efeito placebo não tem a ver apenas com substâncias, mas também com terapias completas. Por exemplo, em psicologia, falamos de tratamentos (e também de substâncias) que não possuem qualidades que produzam uma melhora nos sintomas do paciente.

Assim, a melhora ocorre por causa de outros fatores, tais como sugestionabilidade e expectativas, mas não pelas características do tratamento ou da substância em si.

O fato de a pessoa sentir que está recebendo um tratamento faz com que ela acredite que vai melhorar, e essa crença é o que faz com que ela melhore.  Ou seja, em outras palavras: o efeito placebo é produzido pelas expectativas positivas que colocamos em alguma substância ou tratamento, que acreditamos que nos fará bem.

Isso surge porque assim fomos informados, porque acreditamos nisso ou porque pensamos dessa forma. Isto é, porque somos influenciados por uma certa crença ou ideia.

Exemplo de efeito placebo

Um exemplo típico de efeito placebo seria se tivéssemos uma dor de cabeça e tomássemos um comprimido que nos dissessem que é uma aspirina (quando, na verdade, trata-se de um comprimido de “açúcar”, ou seja, que não tem princípio ativo) e, por termos tomado esse comprimido, a dor de cabeça desaparecesse.

Este seria um exemplo que mostra que existem patologias em que a sugestionabilidade desempenha um papel fundamental; no caso da dor de cabeça, a pessoa, ao relaxar e confiar no comprimido, pode sentir que a dor diminuiu. Este é o efeito placebo.

Como funciona o efeito placebo?

Como pode ser explicado, em nível psicológico, o funcionamento do efeito placebo? A explicação reside em dois mecanismos básicos: o do condicionamento e o das expectativas, já mencionados.

O condicionamento é um tipo de aprendizagem por meio do qual dois eventos são associados; neste caso, o tratamento é associado à ideia de melhora (também através das expectativas).

Desta forma, quando uma pessoa recebe um tratamento placebo (sem saber que se trata de placebo) surge a expectativa positiva de que ela irá se recuperar ou melhorar.

Isso porque, na sua história de aprendizagem ao longo da vida, ela aprendeu que geralmente “ocorre uma melhora após receber um determinado tratamento”. É nisso que consistem as expectativas, definidas como a esperança ou possibilidade de alcançar algo.

Expectativas e condicionamento

Assim, essas expectativas condicionariam a nossa resposta ao tratamento. De que forma? Favorecendo a nossa resposta de recuperação e melhora.

Portanto, de forma genérica, quanto maior a expectativa de melhora, maior o efeito placebo (isso faz com que o condicionamento seja cada vez maior). No entanto, é necessário que ocorra a expectativa inicial para que ocorra o fenômeno do placebo.

O que mais influencia o efeito placebo?

Poderíamos dizer que as expectativas e o condicionamento são as variáveis que mais influenciam o efeito placebo. No entanto, estas não são as únicas variáveis que influenciam esse fenômeno psicológico; neste sentido, também encontramos:

  • O profissionalismo projetado pela pessoa que administra o tratamento.
  • A sensação de competência refletida por esse profissional.
  • O contexto em que o tratamento é realizado.
  • O tipo de problema que está sendo enfrentado.
  • O custo, apresentação, materiais ou rituais para realizar o tratamento.

Em geral, os placebos com uma aparência mais cara e elaborada tendem a ser mais eficazes (ou seja, o seu efeito placebo é mais potente). Para entender melhor, vamos dar um exemplo simples: uma pílula de açúcar é mais eficaz na produção do efeito placebo se estiver em forma de cápsula do que se estiver em forma de torrão.

Neste exemplo, a aparência de “exclusividade” aumentaria as nossas expectativas sobre a eficácia desse tratamento, substância ou pílula.

O que acontece em nível neurológico?

O efeito placebo está relacionado aos medicamentos.
Em estudos que requerem um placebo, o paciente nunca sabe quando o tratamento recebido é real.

De acordo com estudos, e mais especificamente um estudo de Oken (2008), em nível neurofisiológico, há uma série de alterações cerebrais na pessoa que experimenta o efeito placebo.

Nesse sentido, foi demonstrado que a aplicação do placebo estimula as seguintes estruturas: o córtex frontal, o núcleo accumbens, a substância cinzenta e a amígdala, que ativa as vias dopaminérgicas e serotoninérgicas (principalmente as dopaminérgicas).

Processos mentais básicos

Ainda assim, o mecanismo de ação do efeito placebo não é exatamente conhecido. Parece que se trata de um processo no qual o pensamento abstrato influencia processos mentais muito básicos e primitivos, processos muito semelhantes em humanos e em animais.

Para que serve?

O efeito placebo demonstrou ser útil ou eficaz para aliviar, sobretudo, os sintomas de dor. Também permite melhorar os sintomas somáticos, a doença de Parkinson, a demência ou a epilepsia.

No caso da dor, foram observados efeitos muito intensos ou potentes nas pessoas que tinham uma dor inicial preponderante.

Um conceito relacionado: o efeito Pigmalião

Um conceito que podemos relacionar ao efeito placebo é o efeito Pigmalião (também chamado de profecia autorrealizável). Esse fenômeno se baseia na expectativa expressa de que vai acontecer algo que acaba acontecendo.

Por meio do efeito Pigmalião, a pessoa possui uma determinada crença e, como resultado dela, muitas vezes de forma inconsciente, acaba direcionando todas as suas ações e atitudes para esse fim. Isso é o que faria com que a crença se cumprisse.

Conforme podemos ver, isso se assemelha ao efeito placebo no seu mecanismo: há X expectativas de que algo vai acontecer e esse algo acaba acontecendo (o que confirma as nossas expectativas ou hipóteses iniciais).

O outro lado da moeda: o efeito nocebo

O efeito nocebo seria o outro “lado da moeda” do efeito placebo. Neste caso, estamos falando de sofrer um agravamento ou um efeito colateral negativo por causa da aplicação de um tratamento placebo.

As consequências negativas desse tratamento, ou a piora sofrida pelo paciente, não podem ser explicadas pelo tratamento em si, mas sim pela crença de que o tratamento vai nos prejudicar de alguma forma. Ou seja, o mecanismo é o mesmo do placebo, só que neste caso há uma piora (efeitos nocivos, por isso o nome do termo) e não uma melhora.

Seu estudo

As pesquisas sobre o efeito nocebo são menos frequentes, embora se saiba que, conforme dissemos, nele também operam expectativas (no caso, de piora).

Além disso, cabe mencionar que a pesquisa sobre esse fenômeno é complicada, pois envolve uma série de dilemas éticos. É por isso que muitas vezes se opta por estudá-lo indiretamente.

O efeito placebo existe e foi demonstrado em numerosas pesquisas (embora o seu mecanismo explicativo ainda esconda alguns mistérios). Trata-se de um mecanismo psicológico que pode ajudar as pessoas a se sentirem melhor ou até mesmo a se recuperarem dos sintomas.

Porém, devemos ter cuidado, porque o efeito placebo nunca poderia explicar a cura de uma doença biológica. No entanto, em nível psicológico, ele tem mais sentido. De qualquer forma, são necessárias mais pesquisas para continuar investigando este fenômeno, o seu poder e a forma como podemos nos beneficiar dele.

“Esperança, em seu sentido vigoroso, significa fé confiante na bondade da natureza, enquanto expectativa, como vou usá-la aqui, significa confiar em resultados que são planejados e controlados pelo homem.”

-Ivan Illich-



  • Finniss, D.G.; Kaptchuk, T.J.; Miller. F. & Benedetti, F. (2010). Placebo effects: biological, clinical and ethical advances. Lancet, 375(9715):686-695.
  • Grelotti, D.J & Kaptchuk, T.J. (2011). Placebo by proxy. British Medical Journal.
  • Lam, R.M. y Hernández, P. (2014). El placebo y el efecto placebo. Revista Cubana de Hematol, Inmunol y Hemoter, (3):214-222.
  • Oken, B.S. (2008). Placebo effects: clinical aspects and neurobiology. Brain.; 131(11): 2812–2823.
  • Sanchis, J. (2012). El placebo y el efecto placebo. Medicina Respiratoria; 5(1):37-46.

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