As 5 doenças genéticas mais comuns

As doenças genéticas podem ser herdadas ou adquiridas ao longo da vida do paciente. Algumas seguem padrões conhecidos, enquanto outras ainda são um mistério para a medicina.
As 5 doenças genéticas mais comuns
Samuel Antonio Sánchez Amador

Escrito e verificado por el biólogo Samuel Antonio Sánchez Amador.

Última atualização: 01 maio, 2021

As doenças genéticas são todas aquelas patologias causadas por uma alteração patológica (mutação) no material genético do paciente. Embora muitas dessas doenças sejam transmitidas por um dos pais, cabe observar que outras surgem de novo, ou seja, no feto ou nas células germinativas dos pais.

Sem ir mais longe, a revista Genotipia estima que cada ser humano acumule 80 novas mutações no seu genoma ao longo da vida, que o diferenciam dos seus pais além da típica recombinação genética. Algumas dessas variações são silenciosas e nunca detectadas, enquanto outras podem causar patologias a longo prazo.

Sejam hereditárias ou espontâneas, as doenças genéticas estão na ordem do dia na sociedade atual. Estima-se que existam cerca de 6.000 doenças genéticas atualmente, incluindo o famoso e temido câncer. Se você quer saber tudo sobre este assunto, continue lendo.

Estabelecendo as bases da genética

As doenças genéticas podem ser graves.
As alterações genéticas podem levar a consequências muito graves.

Vamos nos aprofundar em termos genéticos que são um pouco complexos de entender e, portanto, achamos necessário explicar alguns conceitos antes de continuar. Em primeiro lugar, cabe destacar que cada uma das células que compõem os nossos tecidos (somáticas) possui 23 pares de cromossomos no seu núcleo, totalizando 46. Essa condição é conhecida como diploidia (2n).

Quando nos reproduzimos, as células germinativas se dividem por meiose, dando origem a 4 células haploides (n) com metade da informação genética das células normais: estamos falando dos gametas. Quando o óvulo (n) e o espermatozoide (n) se fundem, a informação genética da mãe e do pai levam o feto à condição diploide:

Óvulo (n) + espermatozoide (n) = células do zigoto (2n)

Assim, por possuir 2 cópias de cada cromossomo, os humanos apresentam 2 variantes de cada gene (alelos), uma proveniente do pai e outra da mãe. Um alelo é dito dominante (A) quando se expressa independentemente do seu parceiro, enquanto um alelo recessivo (a) só se manifesta quando é igual ao do parceiro.

Um exemplo prático

Não se desespere, porque você vai entender o que queremos dizer por meio de um exemplo. Vamos considerar um pai com doença renal policística (PKD) dominante (Rr), que surge de uma mutação em PKD1, e uma mãe também doente (Rr). Os cenários possíveis, se ambos os pais tiverem filhos, serão os seguintes:

  • Rr: neste caso, o filho é heterozigoto. A heterozigosidade nos diz que os 2 alelos que codificam uma característica são diferentes. Nessa doença, a condição de heterozigosidade não importa muito, pois já dissemos que a patologia é dominante. Assim, a criança com esse genoma vai nascer doente.
  • RR: nesta ocasião, a criança é homozigoto dominante. A homozigosidade nos diz que ambos os alelos parentais são iguais. Também apresentará a doença.
  • rr: esta é a criança mais sortuda e, infelizmente, a variante menos provável. Por não apresentar o alelo dominante da doença, ela não está doente. Trata-se de um homozigoto recessivo.

Este exemplo é especulativo, mas nos ajuda a entender o que queremos expressar. Além disso, cabe destacar que algumas mutações como essa são autossômicas (em cromossomos normais), enquanto outras estão ligadas ao sexo (aos cromossomos X e Y). Os padrões de herdabilidade variam com essa premissa.

As 5 doenças genéticas mais comuns

Essa longa introdução era essencial, pois, a partir de agora, vamos falar sobre mutações dominantes, recessivas, autossômicas e ligadas ao sexo de forma constante. Não perca, pois vamos mostrar as 5 doenças genéticas mais comuns.

1. Câncer

Depois do que você leu até agora, não será nenhuma surpresa descobrir que o câncer é a doença genética mais relevante atualmente. Nessa patologia, uma linhagem celular sofre mutação espontânea e começa a crescer e se dividir mais rápido do que o normal, sem responder aos padrões normais de morte. Por causa do acúmulo celular, formam-se os tumores cancerígenos.

Conforme indicado pelo portal Sanitas , apenas 10-15% dos casos de câncer seguem padrões de herdabilidade estabelecidos. Acredita-se que o restante surja de mutações de novo (ao longo da vida), com causas desconhecidas atualmente.

Como curiosidade, o portal Cancer.net estima que 50% dos tumores neoplásicos apresentem células com o gene p53 danificado ou ausente, cuja função é interromper o ciclo celular, ativar enzimas de reparo do DNA, permitir a entrada da senescência da célula e ativar o mecanismo de apoptose (morte).

Além disso, existem outros genes supressores de tumor (como BRCA1 e BRCA2) que inibem o aparecimento de células malignas em situações normais. Quando eles falham, o risco de desenvolver câncer aumenta dramaticamente. Conforme você pode ver, embora este não seja o primeiro exemplo que vem à mente, o câncer é a pior doença genética da atualidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1 em cada 6 pessoas morre de câncer no mundo.

2. Doença renal policística

Demos o exemplo da doença renal policística (PKD) anteriormente por um motivo. A PKD autossômica dominante afeta cerca de 7 milhões de pessoas em todo o mundo e, conforme indicado pelo portal Medscape , uma em cada 800 pessoas no mundo carrega o gene defeituoso que é o seu causador.

Em 85% das vezes, a mutação é causada no gene PKD1 (16p13.3-p13.1), que codifica a síntese da policistina, uma proteína essencial para a manutenção dos rins. Quando esse gene defeituoso é herdado, o paciente começa a desenvolver cistos líquidos nos rins, que crescem em quantidade e tamanho ao longo dos anos.

Na variante autossômica dominante, o fato de um dos pais ter a doença é suficiente para que os filhos a apresentem. Também existe uma variante recessiva, que é muito mais letal, porém menos comum. Nela, ambos os pais devem ser portadores do gene e, ainda assim, não há garantia total de que os filhos também terão a doença (apenas 1 em cada 4).

Até 50% dos pacientes com PKD requerem a terapia de substituição renal a partir dos 60 anos de idade.

3. Fibrose cística

A fibrose cística (FC) é uma doença autossômica recessiva. Esta condição é produzida por mutações no gene que codifica a proteína CFTR (q31.2), que é encontrada nas membranas celulares que formam as glândulas. Quando isso ocorre, surge um acúmulo atípico de muco espesso nos pulmões do paciente.

Conforme indicado pela Associação Espanhola de Pediatria (AEPED), a incidência anual desta patologia é de 1 por 3.000 e 8.000 recém-nascidos vivos. Uma em cada 25 pessoas é portadora da doença, mas, por ser recessiva, o fato de que o genoma apresente a mutação nem sempre se traduz no aparecimento de sintomas.

Lembramos que, no caso das patologias autossômicas recessivas, ambos os pais devem ser pelo menos portadores para que os filhos nasçam com a doença. De qualquer forma, a única realidade em que todos os filhos nasceriam com a doença seria se o pai e a mãe fossem homozigotos recessivos para a característica (rr).

A expectativa de vida atual para os pacientes com fibrose cística nos Estados Unidos é de 37 anos. A doença pode ser tratada com tratamentos específicos, mas, atualmente, o prognóstico permanece muito ruim e limitado. Infelizmente, 35% dos pacientes morrem enquanto esperam por um transplante de pulmão.

4. Hemofilia

As doenças genéticas são comuns.
Nesta doença, há uma clara tendência ao sangramento.

A hemofilia é uma doença muito rara na qual o sangue não coagula normalmente. Existem 2 variantes da patologia, A e B, ligadas a mutações nos genes F8 e F9. Eles codificam a síntese dos fatores de coagulação VIII e IX. Na ausência de fatores de coagulação funcionais, os pacientes sangram excessivamente por causa de lesões consideradas normais.

Estamos diante de um caso excepcional, pois, conforme indicado pelo portal Imegen, a hemofilia é uma das doenças genéticas mais comuns ligadas ao sexo. A mutação está ligada ao cromossomo X e, portanto, os homens são muito mais propensos a sofrê-la. Devemos lembrar que os homens possuem os cromossomos sexuais XY, enquanto as mulheres são XX.

Em primeiro lugar, cabe destacar que a hemofilia é recessiva, apesar de estar ligada ao sexo. Uma vez que os homens têm apenas um cromossomo X herdado da mãe, basta que a mãe seja portadora para que nasçam com a doença. Enquanto isso, uma menina precisaria ter 2 cromossomos X defeituosos, algo muito menos provável.

Além disso, conforme você deve ter imaginado, para uma menina ter hemofilia, o seu pai deve necessariamente apresentar um cromossomo X portador da mutação. Portanto, para uma menina expressar a condição, um pai doente e consciente deve ter filhos com uma mulher portadora, algo muito raro atualmente.

Enquanto isso, essa patologia afeta 1 em 6.000 homens no mundo.

5. Doença de Huntington

Essa patologia causa o desgaste progressivo de algumas células nervosas do cérebro. Nesse caso, o defeito está localizado no gene HTT, responsável pela produção de hungtintina. Em resumo, essa proteína interage com fatores de transcrição, o que normalmente permite que a síntese de proteínas nas células nervosas seja normal.

Uma vez que isso não ocorre na doença de Huntington, os neurônios do corpo estriado do cérebro vão se degenerando gradativamente, evento que cursa com um notável declínio em nível motor, cognitivo e psicológico. A prevalência é de 5 a 10 casos por 100.000 habitantes, desta vez distribuídos igualmente entre homens e mulheres.

Outras condições genéticas

Talvez você tenha sentido falta de outras condições, tais como albinismo, síndrome de Down ou síndrome do X frágil. Decidimos não incluí-las nesta lista porque, atualmente, elas não têm porque ser consideradas doenças como tal, pelo menos do ponto de vista social.

Atualmente, é preferível falar de pessoas com diversidade funcional ou não neurotípicas: o fato de a mente de um ser humano funcionar de forma diferente nem sempre precisa significar que haja uma doença. Se fôssemos mais permissivos com o termo, a síndrome de Down seria, sem dúvida, a primeira das doenças genéticas mais comuns.

No mundo, a prevalência global da síndrome de Down é de 10 a cada 10.000 nascimentos. De qualquer forma, deixar de conceber essa característica como doença é fundamental, para que essas pessoas não neurotípicas tenham, idilicamente, as mesmas oportunidades sociais que as outras pessoas.

Câncer: a pior das doenças genéticas mais comuns

Conforme você pode ver nesta lista, a primeira das patologias é algo que você certamente não esperava. A genética geralmente é associada à hereditariedade, mas nem todas as doenças são herdadas dos pais, sendo a maioria dos casos de câncer um exemplo claro disso.

Qualquer mutação espontânea pode, teoricamente, ser neutra ou prejudicial. Sem ir mais longe, algumas das patologias listadas aqui (como a hemofilia) apresentam uma variante adquirida, que tem sintomas muito semelhantes e se deve a disfunções do sistema imunológico.

Nesses casos, nenhum dos pais tem genes defeituosos que causam uma predisposição.

Em suma, a ideia principal que queríamos transmitir é a de que em muitos casos a genética é codificada pelos nossos pais, mas, em outros, o ambiente também desempenha um papel essencial.

A maioria das características humanas não são monogênicas, mas sim são influenciadas por vários genes e condições ambientais. Por isso, cuidar de si mesmo é tão essencial para evitar adoecer.



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