Psicologia da saúde: definição e características

A Psicologia da Saúde e a Psicologia Positiva são as disciplinas que estudam a saúde a partir de uma visão biopsicossocial, analisam os fatores de risco e proteção, e promovem o desenvolvimento e a qualidade de vida do indivíduo.

Escrito e verificado por el psicólogo Bernardo Peña.

Última atualização: 12 março, 2021

A Psicologia da Saúde é definida, segundo Oblitas (2006), como “a disciplina que aplica os princípios, as técnicas e os conhecimentos da Psicologia à avaliação, ao diagnóstico, à prevenção, à explicação, ao tratamento e/ou à modificação de distúrbios físicos e/ou mentais ou outros comportamentos relevantes para os processos de saúde e doença, nos diferentes contextos em que podem ocorrer”.

Entre as principais contribuições da Psicologia da Saúde temos:

• Promoção da saúde
• Prevenção de doenças, através da modificação de maus hábitos
• Tratamento de doenças crônicas (diabetes, HIV, intestino irritável, câncer …)
• Adesão ao tratamento
• Avaliação e melhoria do sistema de saúde

Psicologia da Saúde: uma perspectiva biopsicossocial

Infelizmente, o modelo médico tradicional marginalizou ou, na melhor das hipóteses, deixou em segundo plano as causas psicossociais das doenças. Atualmente, existem evidências científicas suficientes para afirmar que parte das causas da doença reside no comportamento e no estilo de vida do indivíduo.

Um estudo realizado por Oblitas (2007) nos EUA mostrou uma relação muito estreita entre a saúde e os seguintes hábitos:

• Dormir 8 horas
• Tomar café da manhã diariamente
• Fazer 3 refeições por dia
• Manter um peso normal
• Fazer exercício
• Consumir álcool com moderação
• Não fumar

Psicologia da Saúde e Psicologia Positiva

A Psicologia Positiva estuda as bases do bem-estar psicológico e da felicidade, bem como os pontos fortes humanos. Portanto, é uma nova abordagem da Psicologia (que quase desde o início se concentrou nos elementos patológicos da personalidade e das emoções).

A Psicologia da Saúde e a Psicologia Positiva convergem na medida em que estudam os fatores que protegem o indivíduo das doenças físicas e mentais, sempre com foco nos aspectos positivos e na qualidade de vida.

Seligman (2003) aponta um conjunto de comportamentos positivos que ajudam a alcançar a felicidade, pois a felicidade não é um estado que se origina do nada. A felicidade é construída ao agir em uma direção que é valiosa para o indivíduo, para o seu ambiente e para a comunidade.

Pontos fortes cognitivos: uso e aquisição do conhecimento

• Curiosidade e interesse pelo mundo. Descobrir coisas novas diariamente.
• Amor por conhecer e aprender.
• Julgamento, pensamento crítico e mente aberta.
• Sagacidade, originalidade e inteligência prática.
• Ser capaz de aconselhar e ajudar os outros.

Pontos fortes emocionais que envolvem o cumprimento de metas

• Coragem: não se intimidar com a ameaça ou as mudanças.
• Perseverança: concluir os projetos iniciados.
• Integridade, honestidade e autenticidade.
• Vitalidade e paixão pelas coisas.

Pontos fortes interpessoais

• Capacidade de amar e ser amado.
• Simpatia, gentileza e generosidade.
• Inteligência emocional, pessoal e social.

Pontos fortes cívicos

• Trabalhar bem dentro de um grupo de pessoas, ser fiel ao grupo e se sentir bem dentro dele.
• Senso de justiça, equidade.
• Assumir funções de liderança social.

Pontos fortes que protegem dos excessos

• Capacidade de perdoar.
• Modéstia e humildade.
• Prudência, discrição e cautela.
• Autocontrole e autorregulação.

Pontos fortes que dão sentido à vida

• Valorização da beleza e excelência, capacidade de se admirar.
• Gratidão.
• Esperança, otimismo e projeção para o futuro.
• Senso de humor.
• Espiritualidade, fé e senso religioso.

Psicologia da saúde e comportamentos saudáveis

Assim, a partir da Psicologia da Saúde, são propostos os seguintes comportamentos saudáveis:

Prática de exercício físico

Sabe-se que a prática de exercícios físicos previne o aparecimento de certas doenças físicas e confere ao indivíduo uma maior qualidade de vida. As pessoas que praticam exercícios têm menor risco de apresentar doenças cardiovasculares. Além disso, o exercício ajuda a manter o peso e a normalizar o metabolismo.

Por outro lado, o exercício físico traz inúmeros benefícios psicológicos, como, por exemplo, mitigar os efeitos do estresse, da ansiedade e da depressão na saúde. Além disso, também melhora o autoconceito e favorece as relações sociais.

Nutrição adequada

As dietas saudáveis fornecem a quantidade adequada de nutrientes essenciais para as necessidades metabólicas do organismo. As principais causas de morbidade e mortalidade durante a última década se relacionam principalmente a hábitos de vida pouco saudáveis e a uma nutrição inadequada.

Entre os hábitos alimentares mais saudáveis, a Psicologia da Saúde propõe aumentar o consumo de leite, batata, vegetais, frutas e fibras, além de reduzir gorduras animais, açúcar, doces, farinhas refinadas e álcool.

Minimizar as emoções negativas

As emoções negativas levam a problemas de saúde. Além de exacerbar os fatores psicológicos e fisiológicos que alteram a saúde, também podem influenciá-la de forma indireta. Por exemplo, por meio da realização de comportamentos não saudáveis para minimizar o impacto dessas emoções negativas (tais como o consumo de álcool).

Desse modo, tanto os pontos positivos quanto os mecanismos de enfrentamento do indivíduo constituem um freio para as emoções negativas. Além disso, a capacidade de autocontrole, autorregulação e adaptação à mudança vão representar mecanismos para lidar com as emoções negativas que possam surgir.

Otimismo, bom humor e risadas

• Os pessimistas insistem em descobrir inconvenientes e dificuldades que causam constrangimento, apatia e desânimo
• Os otimistas fazem o mesmo esforço para encontrar soluções criativas, vantagens e possibilidades.

Geralmente, as pessoas mais otimistas têm um maior senso de humor, são mais perseverantes e bem-sucedidas, e até mesmo mantêm uma melhor saúde física e emocional. Além disso, o senso de humor e o riso servem como válvula de escape para aliviar as tensões internas e causar um estado mais ativo e vitalizado que protege contra o estresse e outras emoções negativas.

Adesão ao tratamento

Uma das condições para a manutenção da qualidade de vida e da saúde é ser capaz de cumprir o programa terapêutico definido pelo médico e pela equipe psicossocial.

É muito fácil dizer a um paciente para parar de fumar, mas fazer com que ele pare de fumar por questões de saúde é algo muito diferente. É exatamente a partir da Psicologia da Saúde que se intervém para motivar a pessoa a cumprir o plano terapêutico.

Criatividade

A criatividade é entendida como a nossa capacidade para resolver problemas de forma original. Além disso, também é vista como a capacidade de produzir coisas novas e valiosas. Portanto, ser capaz de resolver os problemas de uma forma original é muito satisfatório e permite que nos ajustemos a certas circunstâncias da vida com sucesso.

Por outro lado, a inflexibilidade, a rigidez e a estreiteza nos levam ao estresse e ao desespero. Portanto, a criatividade é uma maneira saudável de lidar com essas situações.

Psicologia da saúde e comportamentos de risco

Alguns hábitos e comportamentos representam um risco para a saúde. Portanto, a partir da Psicologia da Saúde, procura-se conhecê-los com o objetivo final de compreender o seu mecanismo de ação sobre a saúde.

Além disso, também procura-se estabelecer estratégias para evitar os fatores de risco. Apresentamos a seguir as principais contribuições da Psicologia da Saúde nessa área:

Adoção de comportamentos seguros

Os acidentes são uma das principais causas de morte. A maioria deles é causada pelo comportamento de indivíduos (tais como acidentes com armas, acidentes de trabalho, acidentes de carro, etc.).

A Psicologia da Saúde defende que a maioria dos acidentes pode ser evitada. Por exemplo, no caso dos acidentes de trânsito, algumas medidas de prevenção podem ser adotadas:

• Eliminar o acesso ao agente físico (não permitir que menores de 18 anos dirijam).
• Reduzir a quantidade do agente (limitar a potência e velocidade dos veículos).
• Evitar a liberação do agente (impor medidas de segurança e contenção aos veículos).
• Trocar superfícies, estruturas ou produtos perigosos.
• Promover a mudança de comportamento por meio de campanhas de informação e conscientização.

Tabagismo

Nos últimos anos , as técnicas psicológicas para parar de fumar foram aprimoradas. Entre aquelas com mais evidências científicas, estão as técnicas de fumar rápido e de segurar a fumaça, bem como a técnica de redução gradual do consumo de nicotina e alcatrão. Ainda é necessário trabalhar a adesão ao tratamento e o manejo das recidivas.

Álcool

Alguns dos tratamentos mais bem sucedidos são os realizados com as famílias (formação em comunicação e resolução de conflitos) e em escolas (detecção precoce do consumo, programas de formação em competência social, etc.).

Dessa forma, intervir no ambiente educacional e familiar reduz os fatores de risco para o alcoolismo juvenil.

Uso e abuso de drogas

As drogas ilegais representam um perigo potencial para a saúde. Não só pelos seus efeitos farmacológicos, mas por tudo o que envolvem: ambiente e contexto em que são consumidas, via de administração, falta de controle da dose, quantidade de impurezas presentes, etc.

Além disso, também são focos de problemas sociais como insegurança pública, tráfico de drogas, crimes, roubos, etc. Por fim, não podemos esquecer a sua influência nas esferas acadêmica, profissional, social e familiar.

Por tudo isso, a Psicologia da Saúde dá uma ênfase especial à prevenção do uso de drogas, por meio de campanhas de informação e conscientização.

Sexo seguro

Todos os anos, milhões de pessoas contraem doenças sexualmente transmissíveis (tais como gonorreia, herpes ou HIV). O aumento da incidência dessas doenças na população jovem é especialmente alarmante.

A partir da Psicologia da Saúde, é dada uma ênfase especial na prevenção de comportamentos sexuais de risco. Além disso, são oferecidas informações aos jovens por meio de campanhas que apresentam outra visão, como a sexualidade segura e responsável, utilizando métodos profiláticos.

Conclusões sobre a Psicologia da Saúde

Em conclusão, vimos no artigo uma introdução à Psicologia da Saúde, sua definição e principais características. Ficamos com a ideia de que a doença deve ser abordada a partir de uma perspectiva biopsicossocial.

Portanto, os elementos psicológicos, emocionais, ambientais e culturais têm muito a ver com o desenvolvimento e a manutenção de muitas doenças.

Por exemplo, pense sobre os fatores de risco e proteção e sobre a implementação de hábitos saudáveis. O que fazemos ou deixamos de fazer, bem como as nossas cognições e comportamento, têm muito a ver com a saúde e a doença.