Diferenças entre hipocondria e TOC

Quais as diferenças entre hipocondria e TOC? Embora elas possam compartilhar algumas características, são dois distúrbios completamente diferentes. Vamos falar sobre essas diferenças a seguir.
Diferenças entre hipocondria e TOC
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 06 junho, 2021

Existem transtornos que podem parecer similares, mas que na verdade têm grandes diferenças entre si. Quais são as diferenças entre hipocondria e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)?

A hipocondria (chamada atualmente de transtorno de ansiedade por doença ) é um transtorno do espectro da ansiedade, enquanto o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) é um transtorno do espectro obsessivo. Assim, tanto sua natureza (ou tipologia) quanto suas outras características são diferentes.

Antes de aprofundar nessas diferenças, vamos ver em que consiste cada um desses transtornos e quais são os sintomas característicos:

O que é hipocondria?

De acordo com a última edição do DSM ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ), a hipocondria não é mais chamada com esse nome, mas sim de transtorno de ansiedade por doença. Dessa forma, ela faz parte dos transtornos de ansiedade, constituindo-se como uma nova categoria diagnóstica.

De acordo com um estudo de 2017 realizado por Rodríguez-Quiroga, o transtorno de ansiedade por doença explicaria os sintomas que aparecem em 25% dos pacientes com diagnóstico de hipocondria. O transtorno envolve preocupação e medo persistentes da possibilidade de ter ou desenvolver uma doença grave.

O paciente hipocondríaco (usaremos hipocondria e transtorno de ansiedade por doença de forma indistinta), interpreta qualquer sintoma físico como “prova” de que sofre de uma determinada doença (sendo ela grave). Normalmente, sintomas somáticos significativos em pacientes com esse transtorno são ausentes.

O que é o TOC?

As diferenças entre hipocondria e TOC
O TOC está intimamente associado a um comportamento compulsivo.

O DSM-5 define o TOC como um ‘transtorno mental envolvendo a presença de obsessões, compulsões ou ambos’.

Entende-se por obsessão todas as imagens, impulsos ou pensamentos que aparecem no sujeito de forma intrusiva e indesejada, e que a pessoa tenta neutralizar por meio de alguma compulsão mental ou comportamental (ritual).

Dessa forma, compulsões são todas as ações, seja em nível comportamental ou mental, que a pessoa realiza para reduzir a ansiedade causada pelas obsessões. A pessoa com TOC pode ter obsessões, compulsões ou ambas.

Porém, como dissemos, basta apresentar um desses dois sintomas (e consequente interferência ou sofrimento) para podermos diagnosticar o TOC.

Diferenças entre hipocondria e TOC

Quais as diferenças entre hipocondria e TOC? Falaremos sobre as mais relevantes:

Tipologia do transtorno

A primeira diferença entre hipocondria e TOC é a tipologia de cada transtorno. No caso da hipocondria, como vimos, falamos de um transtorno do tipo ansiedade.

Por outro lado , o TOC é um transtorno do espectro obsessivo-compulsivo (que não devemos confundir com transtorno de personalidade obsessiva, que também tem traços obsessivos marcantes). Assim, a natureza dos dois transtornos (hipocondria e TOC) é muito diferente.

Resistência aos pensamentos

Na hipocondria ou transtorno de ansiedade por doença, o paciente não resiste aos seus pensamentos ou obsessões sobre doenças; de fato, se deixa levar por eles.

No TOC, o paciente resiste aos seus pensamentos obsessivos (obsessões), porque eles causam desconforto e porque ele os sente como intrusivos.

Fator desencadeador do sintoma

Outra diferença entre hipocondria e TOC é o fator que desencadeia o sintoma. No caso da hipocondria, é um fator corporal, um “sintoma” físico que, por sua vez, desencadeia outros sintomas como medo e preocupação excessiva em sofrer de uma doença grave.

No TOC às vezes não existe um gatilho externo que estimule as obsessões (as compulsões são desencadeadas por um elemento, neste caso, interno: as obsessões).

Mas às vezes há um fator externo que desencadeia obsessões, como por exemplo no TOC de limpeza: ver algo sujo e ter a obsessão de “devo lavar as mãos imediatamente ou vou me contaminar”.

Comunicação com o ambiente

A pessoa que sofre de hipocondria tende a ser mais comunicativa com o ambiente ao explicar o que está acontecendo com ela. Como resultado, ela freqüentemente comunica seu medo de ter a doença “X” (ou a crença de que já sofre).

Na verdade, os hipocondríacos muitas vezes buscam em seu ambiente a reafirmação de seus sintomas (ou melhor, a interpretação de seus sintomas) com perguntas como: “Isso não é um sintoma de câncer”? ou similar.

No caso do TOC, os pacientes com o transtorno costumam ser mais relutantes em comunicar suas obsessões e compulsões, pois isso costuma gerar medo (de ser julgado ou não compreendido) ou vergonha.

Irracionalidade de pensamentos

Na hipocondria, o paciente identifica seus sintomas como típicos de uma determinada doença, o que gera medo e preocupação. Eles vêem seus pensamentos como racionais, significativos e consistentes com seus sintomas.

Desse modo, segundo os especialistas, o paciente com hipocondria não costuma gerar alta resistência aos seus pensamentos obsessivos, pois não os sente como irracionais (como acontece no TOC, no qual é gerada uma grande resistência aos pensamentos negativos).

Assim, no TOC o paciente muitas vezes reconhece a irracionalidade de seus pensamentos ou obsessões, o problema é que ele não consegue controlá-los (porque são pensamentos intrusivos).

Elemento gerador de desconforto

O elemento que gera desconforto e sofrimento psíquico no paciente varia em cada um desses distúrbios, o que constitui mais uma das diferenças entre a hipocondria e o TOC. Assim, na hipocondria, o que causa desconforto é o medo de adoecer, derivado de uma interpretação inadequada e excessiva (errada) dos sintomas físicos.

Por outro lado, no TOC, o elemento gerador de desconforto são as obsessões. Portanto, a pessoa recorre às compulsões, para aliviar essa tensão, ansiedade ou desconforto.

As obsessões podem ser de qualquer tipo: relacionadas com limpeza, verificação ou repetição, medo de cometer algum ato nocivo sem perceber… E são muito irracionais.

E as compulsões também são de qualquer tipo; às vezes relacionadas à própria obsessão. Por exemplo, no TOC de limpeza as compulsões são o ato de se lavar continuamente, sejam as mãos, o corpo…

“As pessoas não têm ideia do quão longe são movidas pelo medo. Esse medo não é facilmente definível. Há momentos em que esse medo se torna quase uma obsessão.”

-George Ivanovich Gurdjieff-

Tratamento

As diferenças entre hipocondria e TOC
Ambos os transtornos requerem terapia mental.

Por serem distúrbios muito diferentes, o tratamento de cada um deles também é. No TOC, de acordo com o Guia para tratamentos psicológicos eficazes I de Marino Pérez et al. (2010), existem dois tratamentos: terapia de exposição com prevenção de resposta (EPR) e terapia cognitiva.

Na hipocondria, por outro lado, a terapia cognitivo-comportamental (uma das terapias psicológicas mais importantes) é geralmente usada.

Objetivo do tratamento

O objetivo do tratamento do TOC é reduzir a interferência das obsessões e fazer com que a pessoa pare de realizar as compulsões. De certa forma, o paciente é ensinado a tolerar o desconforto sem recorrer às compulsões (que ele sinta por si mesmo que nada de ruim acontece por não executá-las).

O paciente é educado na irracionalidade de seus pensamentos (embora às vezes já os veja como irracionais). No caso da hipocondria, o objetivo da terapia é ajudá-lo a detectar crenças sobre sua saúde e entender como elas afetam sua vida.

Posteriormente, é apresentada a ele a alternativa de que este seja um problema de ansiedade, e é ensinado um modelo explicativo da sua patologia (psicoeducação).

Hipocondria e TOC: dois transtornos diferentes, mas com elementos comuns

Vimos algumas das diferenças entre hipocondria e TOC, embora existam mais algumas (por exemplo, sua etiologia ou causas, o tipo de paciente, etc.). É verdade que existe um tipo de TOC que pode estar relacionado ao medo de se infectar ou ao medo de adoecer, mas não se trata, de forma alguma, de hipocondria.

Ambos os transtornos têm o sofrimento do paciente como característica comum, embora cada um deles, como vimos, sofra de diferentes causas ou sintomas. Esses transtornos compartilham um traço obsessivo que caracteriza tanto as pessoas com TOC quanto os hipocondríacos.

Na hipocondria, a preocupação e a obsessão configuram-se em torno de uma possível doença (que não existe), e no TOC a obsessão se articula no próprio pensamento (ideias irracionais relacionadas a qualquer assunto, além de uma possível doença).



  • American Psychiatric Association –APA- (2014). DSM-5. Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales. Madrid: Panamericana.
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  • Pérez, M., Fernández, J.R., Fernández, C. y Amigo, I. (2010). Guía de tratamientos psicológicos eficaces I: Adultos. Madrid: Pirámide
  • Rodríguez-Quiroga, A. (2017). Trastorno de ansiedad por enfermedad: a propósito de un caso. Psiquiatría Biológica, 24(2): 81-84.

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