Como as redes sociais afetam o cérebro adolescente

A Internet é uma janela extraordinária para o mundo exterior. Ela nos permite conectar com pessoas de todo o mundo. Para os adolescentes, cujos cérebros ainda estão se desenvolvendo, o impacto pode ser ainda maior.
Como as redes sociais afetam o cérebro adolescente
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por el psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 19 fevereiro, 2023

O universo digital é vasto. Além disso, o segmento mais jovem da população absorve informações da Internet desde a infância. A web tornou-se um elemento essencial na vida de milhões desses pequenos adultos ao redor do mundo e, consequentemente, cabe questionar como as redes sociais afetam o cérebro dos adolescentes já que eles ainda estão em pleno desenvolvimento.

A verdade é que o cérebro adolescente continua a desenvolver-se até aos 20 anos e, embora as telas nos aproximem de mundos extraordinários que nem sequer poderíamos imaginar há 10 anos, também têm impacto no neurodesenvolvimento. Por exemplo, quando experimentamos estímulos tão poderosos quanto receber um like, sistemas cerebrais como o reforço são ativados intensamente.

Nada mais escapa da tela. Nunca tivemos tantas telas. Não apenas para ver o mundo, mas para viver nossa vida.

-Gilles Lopovetsky-

Cérebros viciados em likes

Poucas coisas reforçam mais do que o apoio social e nunca foi tão fácil de obter como agora. Atualmente, e em redes sociais como Instagram, Tik-Tok ou Facebook, receber suporte social é tão simples quanto tocar na tela.

Para entender as características de um vício comportamental, podemos olhar para a definição proposta pelo professor Eduardo Fonseca, da Universidade de La Rioja, que afirma que o vício em redes sociais pode ser caracterizado por um uso disfuncional da web, além de:

  • Problemas ao exercer controle sobre o comportamento de consulta de redes sociais.
  • Presença de conflitos emocionais tanto pessoais como interpessoais através da Internet.
  • Preocupação com o fato de usar a web.
  • Utilizar as redes sociais como plataforma de autorregulação das emoções.
  • Sintomas de abstinência.

Os sintomas de abstinência podemos incluir dificuldades em adormecer, sintomas ansiosos ou irritabilidade em relação ao uso de redes sociais. Nesse sentido, cabe perguntar qual é o mecanismo cerebral que está por trás desse poderoso impulso gravitacional em direção ao mundo digital em adolescentes.

O vício em redes sociais é caracterizado pela incapacidade de controlar o desejo de usar o celular, ansiedade, sentimentos de perda, retraimento e diminuição da produtividade.

-Eduardo Fonseca-

A utilização das redes sociais tem sido associada a uma maior prevalência de emoções negativas (como tristeza, frustração ou inveja). Nesse sentido, os adolescentes também podem se tornar mais impulsivos.

A impulsividade é a emissão de comportamentos sem profundas reflexões previamente realizadas e suas conseqüências podem assumir diversas formas como o sexting.

Neurobiologia das redes sociais

As redes sociais têm seus benefícios
Bem utilizadas e geridas emocionalmente, as redes sociais podem ter um efeito positivo.

As redes sociais são um trampolim para acomodar nossas necessidades rapidamente. Nesse sentido, elas nos permitem fazer o seguinte:

  • Comunicar quem somos. Podemos fornecer informações reais e fictícias. As redes sociais podem ser lugares para a fantasia onde a informação tem o potencial de ser distorcida.
  • Saber o que os outros pensam. Saber quais são os julgamentos que outras pessoas fazem sobre nós é um fato que pode nos fazer tocar o céu ou o inferno.
  • Ver como outras pessoas trocam mensagens e fazem julgamentos sobre o que estamos vendo. Opinar, julgar, encorajar, admirar, mas também humilhar e insultar nunca foi tão fácil.
  • Comparar. As comparações são odiosas, mas no mundo adolescente elas são vitais. Isso porque os adolescentes constroem sua identidade comparando-se com seus pares.

Esses presentes oferecidos pelo mundo digital aos adolescentes têm um correlato neurobiológico, como toda interação social.

De fato, no campo das redes sociais, domínios como cognição social, processamento de recompensas ou cognição autorreferencial têm sido extensivamente estudados. Segundo a investigação da psicóloga Raquel Aldea-Mateos podemos encontrar algumas chaves.

Cognição social

Por cognição social podemos entender como o ser humano processa as informações referentes ao mundo interpessoal.

No campo das redes sociais, os adolescentes fazem uso da cognição social quando consideram quantas curtidas receberão se fizerem uma postagem com determinada foto ou que respostas os amigos podem dar a uma história com determinada mensagem.

A cognição social ocorre com o uso das redes sociais, pois elas nos obrigam a pensar sobre os estados mentais e as motivações dos outros.

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As áreas do cérebro que foram implicadas nesse sentido são aquelas relacionadas à troca e processamento de informações sociais.

Quando recebemos informação social e processamos os comportamentos de outras pessoas nas redes sociais, estão envolvidas estruturas como o córtex pré-frontal dorsolateral, os lobos temporais anteriores, o giro frontal inferior ou o córtex cingulado posterior (Raquel Aldea-Mateos, 2017).

A cognição autorreferencial

As redes sociais são uma forma extraordinária de se tornar conhecido por pessoas de todo o mundo. Permite-nos receber e transmitir histórias, situações e experiências tanto do passado como do presente.

Ao mesmo tempo, nos permite projetar nossas expectativas futuras. Cada vez que um adolescente faz um julgamento, expressa uma opinião ou expressa o que sente ou pensa, regiões como o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado posterior são ativadas.

O uso da mídia social envolve muito o pensamento autorreferencial: pensar sobre si mesmo e espalhar opiniões pode desencadear um pensamento autorreferencial adicional.

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Processamento de recompensas

As redes sociais são uma maneira rápida e fácil de obter reforço social na forma de curtidas . Para localizar melhor esse conceito vamos usar uma metáfora delirante.

Imagine que cada vez que você aperta um botão você ganha uma pequena quantia em dinheiro: Uau, conseguimos algo valioso com um investimento baixíssimo: um pequeno movimento! O sistema de recompensa funciona de maneira semelhante. Quando recebemos algo muito reforçador que requer pouco esforço, ele nos pede cada vez mais.

Os likes tornam-se sinais de sucesso nas redes sociais, que implicam uma melhoria da reputação, são capazes de ativar o sistema de recompensas do nosso cérebro e fazer-nos verificar continuamente essas redes sociais.

– Raquel Aldea-Mateos –

Três áreas cerebrais têm sido classicamente associadas ao sistema de recompensa: o córtex pré-frontal ventromedial, o estriado ventral e a área tegmental ventral. Agora vamos ver como essas regiões podem ser ativadas:

  • Quando os adolescentes conversam pelo chat do Instagram ou trocam opiniões em tempo real no mural do Facebook, as seguintes estruturas entram em ação: o estriado ventral e o córtex pré-frontal. Ou seja, são ativados nas interações de troca de informações com outras pessoas. Eles também são ativados quando os adolescentes recebem uma curtida.
  • A curiosidade demonstrou ativar fortemente o estriado ventral. E o que causa mais curiosidade do que saber quem gostou ou comentou a última foto que foi publicada no Instagram?
  • Além disso, descobriu-se que outra região fortemente envolvida no sistema de recompensa do cérebro, o núcleo accumbens, também está relacionada ao recebimento de curtidas nas redes sociais.

Se o núcleo accumbens estiver ativo, há 90% de chance de que a tarefa que está sendo executada seja a tarefa de recompensa.

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É assim que as redes sociais afetam o cérebro dos adolescentes

As redes sociais despertam emoções
O uso das redes sociais pode ser muito intenso e despertar qualquer tipo de emoção, da positiva à negativa.

A adolescência é o período da vida em que a pessoa tenta encontrar seu lugar no mundo. Fruto desta procura, produzem-se reorientações a nível social porque procuram dar resposta a uma multiplicidade de questões: quem sou eu? O que eu quero ser? Como posso conseguir?

Nesse período da vida, as opiniões dos colegas são mais importantes do que as dos familiares.

-Raquel Aldea-Matos-

Na adolescência ocorrem intensas mudanças no nível neuronal. Especificamente, de forma natural e geneticamente pré-programada, ocorre uma “poda neuronal” na qual os neurônios desnecessários são perdidos porque estão em excesso.

Esse processo de mudança fica especialmente evidente quando falamos da distribuição e concentração de receptores para o neurotransmissor dopamina (molécula envolvida no aprendizado e na recompensa). Nesse sentido, a adolescência é um período crítico uma vez que os adolescentes são, em termos biológicos, mais sensíveis à recompensa.

Ativação intensa foi encontrada durante a adolescência em resposta a sinais relevantes de recompensa e na antecipação à recompensa.

-Raquel Aldea-Matos-

O correlato imediato de uma maior sensibilidade à recompensa são, como mencionamos, comportamentos de risco. Estes vão desde o consumo excessivo de substâncias como álcool, tabaco ou outras drogas até práticas sexuais de risco. O objetivo que impulsiona esses comportamentos geralmente é uma maior aceitação pelo grupo de pares.

Além disso, até cerca dos 25 anos carecemos de um sistema cerebral adulto robusto para inibir nossos impulsos. Este é o chamado sistema de controle cognitivo, que se encarrega de avaliar as informações que recebemos de nosso ambiente para, conseqüentemente, adotar uma série de comportamentos o mais adaptados possível ao contexto que nos é apresentado.

Como consequência desse amadurecimento do sistema de controle cognitivo, habilidades executivas como inibição de respostas, planejamento de estratégias, regulação de impulsos e flexibilidade cognitiva são aprimoradas.

-Raquel Aldea-Matos-



  • Pedrero, F. E. (2021c). Manual de tratamientos psicológicos: Infancia y adolescencia (Psicología) (1.a ed.). Ediciones Pirámide.
  • Ripalda Mora, J. T. (2022). Adicción a redes sociales y su relación con la imagen corporal en adolescentes (Bachelor’s thesis, Universidad Técnica de Ambato/Facultad de Ciencias de Salud/Carrera de Psicología Clínica).
  • Goldfarb, G. (2016). Bebés, niños, adolescentes y pantallas. Sociedad Argentina de Pediatría. PRONAP, 3(4), 123-38.
  • Aldea-Mateos, R. (2017). EFECTOS PSICOLÓGICOS DEL USO DE LAS REDES SOCIALES Y SUS CORRELATOS NEUROBIOLÓGICOS.

Este texto se ofrece únicamente con propósitos informativos y no reemplaza la consulta con un profesional. Ante dudas, consulta a tu especialista.