O que é inteligência emocional?
Inteligência emocional é um conceito que vem ganhando força e interesse ao longo dos anos. Afinal, na origem do estudo da inteligência, muita atenção foi dada para a inteligência mais “tradicional”, ou seja, aquela que tem a ver com o quociente intelectual (QI) e com as habilidades verbais e numéricas.
Ou seja, as habilidades relacionadas a um melhor desempenho acadêmico. Felizmente, começaram a chegar autores que consideravam a existência de outros tipos de inteligência, por meio da teoria das inteligências múltiplas de Gardner ou do conceito de inteligência emocional proposto por Daniel Goleman, entre outras teorias.
“É muito importante compreender que a inteligência emocional não é o oposto de inteligência, não é o triunfo do coração sobre a cabeça, é a intersecção de ambas”.
-David Caruso-
Neste artigo, vamos nos aprofundar no conceito de inteligência emocional, um tipo de inteligência que nos permite identificar as nossas próprias emoções e as dos outros (e muito mais!). Além disso, também vamos conhecer quais são os elementos que a compõem.
O que é inteligência emocional? 5 componentes
A inteligência emocional é um tipo de inteligência que se refere à capacidade de identificar, compreender e administrar as próprias emoções, assim como as dos outros. Foi um conceito introduzido pelo psicólogo e escritor americano Daniel Goleman, a partir da publicação do seu livro Inteligência Emocional, em 1995.
De acordo com o próprio Goleman, a inteligência emocional abrange uma série de dimensões ou elementos. Esses elementos se referem à própria pessoa e também à interação com o outro. Em que consistem e quais são os benefícios que nos trazem?
1. Autoconsciência emocional
Também chamado de autoconhecimento emocional, o primeiro elemento se refere ao conhecimento que temos dos nossos próprios sentimentos e emoções. Ou seja, é a capacidade de reconhecer como nos sentimos e também como essas emoções influenciam a nós e ao nosso comportamento.
Como a autoconsciência emocional pode nos ajudar? Por exemplo, para tomarmos decisões quando estivermos em um momento de equilíbrio mental, e não quando estivermos especialmente impactados por algo.
Benefícios da autoconsciência emocional
Tomar decisões com um estado emocional alterado pode fazer com que não possamos decidir livremente ou da forma como realmente gostaríamos se essas emoções não estivessem nos afetando dessa maneira.
Também pode nos ajudar a identificar o momento certo para falar com alguém se estivermos alterados ou com raiva, por exemplo. Ser capaz de identificar esse momento vai nos ajudar a criar um espaço mais saudável para conversar com o outro. Além disso, esta é uma capacidade muito positiva para a paciência.
“Mude sua atenção e mudará suas emoções. Mude sua emoção e sua atenção mudará de lugar.”
-Frederick Dodson-
2. Autocontrole emocional
O autocontrole emocional, também chamado de autorregulação emocional, refere-se à capacidade de controlar as nossas próprias emoções e de não nos deixar levar totalmente por elas.
Implica um controle adequado das emoções (não um controle no sentido estrito, de querer “reprimir”), mas sim um controle que nos leva a uma melhor condução delas.
“Quando eu digo controlar emoções, me refiro às emoções realmente estressantes e incapacitantes. Sentir as emoções é o que torna a nossa vida rica.”
-Daniel Goleman-
Por outro lado, o autocontrole emocional permite nos regularmos em nível emocional, focando a nossa atenção no que precisamos e agindo de acordo. Além disso, essa habilidade está intimamente ligada ao uso da linguagem.
Relação com a inteligência verbal
Saber como administrar o nosso próprio estado emocional muitas vezes envolve saber como administrar a nossa própria linguagem (seja com os outros ou com nós mesmos).
Nesse sentido, vemos como a inteligência emocional está ligada a outros tipos de inteligência, como, por exemplo, a inteligência verbal. Afinal, todas as inteligências estão ligadas entre si, e um bom uso delas envolve uma boa conexão entre elas.
3. Empatia
A inteligência emocional, conforme vimos na sua definição, vai além de controlar as próprias emoções. Assim, também implica reconhecer e compreender as emoções dos outros. O próximo elemento deste conceito tem a ver com isso: a empatia ou o reconhecimento das emoções dos outros.
A empatia recebe múltiplas definições, mas, de uma forma geral, podemos dizer que se trata da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de compreendermos as suas emoções. Identificar as emoções dos outros nos ajuda a entendê-los melhor como um todo.
Como isso nos beneficia?
Ser empático traz diversos benefícios, tais como um melhor conhecimento do outro, uma maior probabilidade de poder ajudá-lo, um vínculo mais forte em nossas relações pessoais, etc.
Assim, através da empatia, construímos relações mais sólidas porque passamos de ser um “eu” para sermos um “nós”, e a interação com o outro passa de uma mera interação para uma troca de afetos e realidades.
4. Automotivação
Outro elemento da inteligência emocional, proposto por Goleman, e que se refere ao próprio indivíduo, é a automotivação. A automotivação se refere à capacidade de ficar entusiasmado consigo mesmo, seja por meio de estímulos externos ou internos.
Ela nos permite identificar as nossas paixões, os nossos objetivos e configurar um plano para desfrutar das primeiras ou para alcançar os segundos. A motivação é um motor que faz com que possamos nos conectar com aquilo que nos gera entusiasmo e prazer.
Ser capaz de motivar a si mesmo oferece uma fonte de bem-estar emocional que faz com que nem sempre seja necessária a presença de outras pessoas para sermos felizes. Desta forma, trata-se de uma capacidade essencial se quisermos ser pessoas independentes que não se vinculam através da dependência emocional.
“A vontade é a intenção favorecida pelas emoções.”
-Raheel Farooq-
5. Habilidades sociais
O quinto e último componente da inteligência emocional tem a ver com as relações interpessoais e são as habilidades sociais.
A situação atual ocasionada pelo COVID-19 tem destacado a grande necessidade de vínculo que as pessoas apresentam, ou seja, a necessidade que temos de nos relacionar e de compartilhar o tempo e as experiências com os outros.
Essa necessidade é veiculada por meio das habilidades sociais, as habilidades relacionadas ao ato de saber como nos relacionarmos de forma saudável, como ouvir o outro, como atender as suas demandas, como fazer as pessoas se sentirem bem, como respeitar a vez de falar…
Em resumo: elas permitem que possamos nos conectar com as outras pessoas e obter um benefício emocional a partir dessas interações.
Como promover a inteligência emocional?
A inteligência emocional, assim como outros tipos de inteligência, pode ser treinada e aprimorada. Como isso pode ser feito? Não existe uma fórmula mágica para isso e, muitas vezes, são as próprias experiências da vida que nos ajudam a melhorá-la.
Tomar consciência da nossa realidade também é uma ação que nos ajuda a nos conectar com a nossa essência e, como consequência, com a nossa capacidade para compreender as emoções. No entanto, também existem algumas práticas que podem nos ajudar a melhorar esse tipo de inteligência:
- Buscar o autoconhecimento: quando nos conhecemos, conseguimos identificar como nos sentimos e por quê.
- Passar um tempo sozinho: o autoconhecimento é obtido ao passar um tempo a sós, consigo mesmo criando a própria motivação e buscando os objetivos pessoais.
- Fazer terapia: a terapia psicológica pode ser um caminho de autoconhecimento que, por sua vez, ajuda a aumentar a inteligência emocional.
- Escutar as próprias emoções: isso passa por não lutar para reprimi-las ou eliminá-las, mas simplesmente deixar que existam e sejam escutadas, que tenham o seu espaço.
- Praticar a escuta ativa: este exercício vai nos ajudar a nos conectar com as pessoas e, acima de tudo, a fomentar a nossa empatia.
A inteligência emocional é uma habilidade que se desenvolve ao longo da vida. Não tem a ver com sermos capazes de controlar tudo o que sentimos e de aproveitarmos todas as nossas emoções; trata-se de algo muito mais leve.
Tem a ver com nos reconhecermos como seres emocionais e com a aquisição das nossas próprias ferramentas para acompanhar as nossas próprias emoções a partir do respeito, do autocuidado e do amor-próprio.
Vamos começar descobrindo a nós mesmos e, através deste autoconhecimento, seremos capazes de compreender e de acompanhar as emoções dos outros.
“A única maneira de mudar a mente de alguém é conectar-se a ela através do coração.”
-Rasheed Ogunlaruuinca-
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