O que é dissonância cognitiva?
Certamente o fato de ter duas crenças opostas ou conflitantes já aconteceu com você e você sentiu um tremendo desconforto ou tensão a nível mental. Esse é o fenômeno da dissonância cognitiva (Festinger, 1957 ), conceito explicado por meio da teoria homônima, do psicólogo americano Leon Festinger.
Um exemplo típico desse fenômeno é sentir vontade de fumar, mas saber que fumar faz muito mal à saúde. Isso gera um estado de incoerência e desconforto que tentamos reduzir ou eliminar. Além disso, tudo isso impacta nossas atitudes e comportamentos.
Como podemos eliminar a dissonância? Enganamo-nos para combater este estado de tensão mental? Vamos revelá-lo através do seguinte artigo. Também falaremos sobre os três paradigmas clássicos de pesquisa para estudar esse fenômeno, já que a dissonância cognitiva gerou muitas pesquisas.
O que é dissonância cognitiva?
Poucas teorias em psicologia geraram tanta pesquisa quanto a teoria da dissonância cognitiva formulada pelo psicólogo social Leon Festinger. A dissonância cognitiva é definida como a tensão ou desarmonia interna do sistema de ideias, crenças, emoções e cognições percebidas por uma pessoa que tem dois pensamentos conflitantes ao mesmo tempo.
Também aparece quando um comportamento entra em conflito com nossas crenças. Em poucas palavras: a dissonância cognitiva é o estado de tensão que surge devido à percepção de incompatibilidade entre duas cognições simultâneas. Isso, por sua vez, afeta nossas atitudes e comportamentos, como veremos.
Características da teoria da dissonância cognitiva
Que pontos centrais tem esta teoria? Vamos lançar alguma luz sobre as contribuições de Festinger para entender melhor esse conceito.
Relações entre elementos cognitivos
Segundo ele, os elementos cognitivos são o que uma pessoa sabe sobre si mesma, seu comportamento e seu ambiente. Esses elementos podem manter três tipos de relação entre si, que são os seguintes:
- Irrelevante: quando um elemento não tem nada a ver com outro.
- Consoantes: quando a afirmação de uma deriva da outra.
- Dissonantes: quando considerados isoladamente, um deles segue a negação do outro.
Caráter motivacional da dissonância
Assim, a hipótese fundamental de Festinger sustenta que a existência de dois elementos dissonantes provoca na pessoa um estado de tensão psicologicamente desconfortável, que a levará a tentar eliminá-la, bem como a evitar situações e informações que possam aumentá-la.
Nesse sentido, para Festinger seu construto de dissonância cognitiva tem, de certa forma, um caráter motivacional.
Um exemplo de dissonância cognitiva
Poderíamos pensar em milhares de exemplos para exemplificar esse fenômeno. Uma delas seria querer muito um calçado específico, mas ao mesmo tempo estar cientes de que foram fabricados por crianças que são exploradas no trabalho. Ou seja, “quero os tênis, mas não gosto de como foram fabricados, pois me parece imoral”. Estamos diante de uma dissonância cognitiva. O que fazemos nesses casos?
As possibilidades são diversas: comprar os tênis e reduzir a dissonância pensando “bom, se eu não comprasse, também não mudaria a situação dessas crianças”. Também podemos remover a dissonância não comprando.
Em ambos os casos nossas crenças interferem na atitude e no comportamento. É disso que se trata a dissonância cognitiva. O objetivo, quando este estado de tensão aparecer, será sempre reduzir ou eliminar a dissonância. Por esta razão usamos métodos diferentes, como veremos mais adiante.
Como reduzir a dissonância cognitiva?
Ninguém gosta de experimentar esse estado dissonante gerado por pensamentos conflitantes. E é que a dissonância cognitiva é desconfortável. Por esse motivo, tentamos reduzi-lo ou eliminá-lo. De que maneira? Festinger fala sobre três maneiras possíveis de reduzi-lo, que são as seguintes:
- Mude o comportamento.
- Altere o ambiente.
- Adicione novas informações e conhecimentos que reduzam a dissonância.
Dissonância e relacionamento interpessoal
A dissonância cognitiva também pode nos afetar em um nível interpessoal. Assim, Festinger faz uma extensão de sua teoria e afirma que o simples fato de outra pessoa ter uma opinião ou pensar diferente de nós é a origem da dissonância. Além disso, podem ocorrer os seguintes casos:
- Se a discordância se referir a uma realidade física verificável, a magnitude da dissonância será pequena ou nenhuma.
- Quanto maior o número de pessoas que pensam como nós, menor será a dissonância de discordar de outra pessoa.
- A magnitude da dissonância, se houver desacordo, aumenta com a importância da pessoa ou grupo com quem o desacordo é mantido.
- A dissonância também aumenta quanto maior o grau de dissonância entre os elementos cognitivos.
Assim, a dissonância gerada pelo desentendimento com outras pessoas também existe e pode ser reduzida. Como? Mudar de opinião, influenciar os outros a mudá-la ou desenvolver uma estratégia para que a outra pessoa não seja comparável a nós.
Dissonância cognitiva e pesquisa
A teoria da dissonância cognitiva gerou muitas pesquisas de laboratório, o que nos permitiu demonstrar o quão importante é a racionalização do conhecimento e a justificação do comportamento, bem como a mudança de atitude para buscar a coerência.
Nesse sentido, existem três paradigmas clássicos de pesquisa que têm sido usados sistematicamente para estudar esse fenômeno cognitivo. Por meio deles, uma série de situações são provocadas no laboratório. Esses paradigmas são os seguintes:
- Paradigma da complacência induzida: quando um comportamento oposto à atitude é realizado. Este tipo de paradigma inclui duas versões de experimentos: o experimento de Festinger e Carlsmith (1959) e o experimento de Aronson e Carlsmith (1963).
- Paradigma da livre escolha: é feita após a escolha entre várias alternativas. Encontramos o experimento de Brehm (1956) e o experimento de Ehrlich, Guttman, Schönbach e Mills (1957).
- Paradigma da justificação do reforço: quando você tem que justificar ter feito um grande esforço, como o experimento de Aronson e Mills (1959).
Tipos de experimentos
No caso do paradigma da complacência induzida, encontramos estudos sobre a obediência forçada, que procuram analisar a dissonância que surge entre dois elementos opostos: as convicções íntimas de uma pessoa e a sua conduta, contrária a essas convicções.
No paradigma da livre escolha encontramos experimentos de escolha entre alternativas atrativas, em que a escolha de uma delas determina a constituição da outra como dissonante em relação à ação realizada.
Finalmente, de acordo com o paradigma da justificação do reforço, sentimos dissonância após realizar ações com grande sacrifício. Isso implica que adicionamos crenças que justifiquem essa ação para reduzir o nível de desconforto que sentimos.
A teoria de Festinger na vida diária
Fizemos um breve passeio pela teoria de Festinger, embora esta não tenha sido a única de suas grandes contribuições à psicologia social. E é que a dissonância cognitiva é um fenômeno do qual ninguém se livra.
As pessoas sempre tendem a buscar sempre um equilíbrio entre o que pensamos, o que fazemos e o que sentimos, embora isso nem sempre seja possível.
E para isso recorremos a um grande número de métodos que nos fazem sentir coerentes com quem somos. Para chegar a esse equilíbrio, convém nos conhecermos bastante, refletirmos sobre o que fazemos e, principalmente, termos consciência de que na vida sempre haverá incoerências e contradições.
“A vida é como andar de bicicleta, para manter o equilíbrio é preciso estar em movimento.”
-Albert Einstein-
- Chen, M. Keith; Risen, Jane L. (2010). How choice affects and reflects preferences: Revisiting the free-choice paradigm. Journal of Personality and Social Psychology. 99 (4): pp. 573 – 594.
- Festinger, L. (1962). Cognitive Dissonance. Scientific American. 207(4): pp. 93 – 106.
- Festinger, L. (1990). Teoría de la disonancia cognitiva. Paidós (Madrid).
- Festinger, L. (1992). Métodos de investigación en ciencias sociales. Paidós (Madrid).
- Morales, J.F. (2007). Psicología social. Editorial: S.A. McGraw-Hill / Interamericana de España.
- Bietti, L. M. (2009) Disonancia cognitiva: procesos cognitivos para justificar acciones inmorales. Ciencia Cognitiva: Revista Electrónica de
Divulgación, 3:1, 15-17.