Ansiedade infantil: sintomas, causas e tratamentos

A ansiedade infantil se manifesta por meio de diferentes sintomas e distúrbios. Quais são alguns dos mais comuns? Por que ela aparece?
Ansiedade infantil: sintomas, causas e tratamentos
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 19 maio, 2023

A ansiedade infantil pode aparecer como um sintoma no cotidiano da criança. Ou pode ser excessiva e interferir no funcionamento para se tornar um transtorno de ansiedade. Existem diferentes tipos, embora neste artigo nos concentremos em três dos mais frequentes.

A ansiedade é um estado generalizado de superativação do organismo no qual aparecem sintomas fisiológicos, mas também cognitivos e emocionais. Em crianças, detectar esta última pode ser um pouco mais complicado, por isso os tratamentos se concentram em treiná-los para aprender a identificar e controlar a ansiedade.

Quais são os sintomas da ansiedade infantil? Quais são algumas das possíveis causas? Como combatê-la? Vamos conhecer todas essas respostas de acordo com os manuais de referência em psicologia infantil.

Ansiedade na infância: o que é?

A ansiedade é definida como um estado de superativação do corpo, acompanhado de outros sintomas físicos, cognitivos e emocionais. É uma reação que ocorre sem ameaça externa óbvia.

No caso da ansiedade infantil, esta pode ser muito semelhante à dos adultos, embora também apresente características diferenciadoras, dependendo do caso.

Ansiedade versus medo

Não devemos confundir ansiedade com medo. A ansiedade infantil é mais difusa e menos específica que o medo. Além disso, aparece sem causa aparente.

A ansiedade geralmente é uma reação antecipatória ao perigo e pode não ser real. Por outro lado, o medo é uma reação normal a um possível perigo (ou seja, é uma reação adaptativa). No entanto, quando é excessivo, falamos de fobia.

“Seu medo acaba quando sua mente percebe que é ela quem cria esse medo.”

-Anônimo-

Ansiedade vs. Preocupação

Também devemos diferenciar a ansiedade infantil da mera preocupação. Assim, a reação de ansiedade é caracterizada por seu componente fisiológico; o componente cognitivo aparece mais tarde, como uma interpretação da reação física.

Por outro lado, no caso da preocupação, o componente central é cognitivo e não fisiológico. Várias reações fisiológicas podem ser expressas depois dela aparecer.

criança com ansiedade
Ansiedade não é o mesmo que medo, nem pode ser equiparada com a preocupação.

transtornos de ansiedade na infância

Assim como nos adultos, a ansiedade infantil se manifesta por meio de diferentes transtornos. Veremos três dos mais frequentes, embora existam mais.

Fobias específicas

As fobias específicas são uma das manifestações mais frequentes da ansiedade infantil. Elas consistem em medos persistentes de objetos ou situações específicas que interferem no funcionamento da criança. Elas carregam um alto desconforto na presença do estímulo fóbico, bem como a evitação da situação.

Segundo um estudo de Güerre & Ogando (2014), publicado em Anales de Pediatría Continuada, as fobias e medos mais comuns na infância são aqueles que têm a ver com os seguintes objetos ou situações:

  • Alturas, estranhos e figuras de apego (a partir dos 6 meses).
  • Separação, monstros e escuridão (2,5-6 anos).
  • Sofrer danos, catástrofes naturais e adoecer (a partir dos 6 anos).

Um estudo de Ollendick et al. (2010) e outro de Brent et al. (1999) sugerem que adultos que mantêm fobias desde a infância apresentarão repercussões em sua vida social, profissional e pessoal, com piora da qualidade destas.

Na verdade, qualquer distúrbio que se torne crônico desde a infância até a idade adulta pode trazer consequências muito prejudiciais para a saúde, por isso o tratamento precoce e oportuno sempre será a opção ideal.

Síndrome do pânico

A ansiedade infantil também pode aparecer através de um transtorno de pânico, que de acordo com o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM-5) envolve ataques de pânico repetidos e inesperados sem um gatilho específico, juntamente com a preocupação e o medo de que possam reaparecer.

Dessa forma, o medo de sofrer uma nova crise limita as atividades diárias da pessoa. No entanto, embora esse distúrbio também possa aparecer em crianças, é mais frequente em adolescentes, pois a pessoa deve ter a  capacidade cognitiva suficiente para interpretar as sensações fisiológicas.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

No TAG infantil, surge a preocupação excessiva com as múltiplas questões que interferem na vida da criança. É uma preocupação muito difícil de controlar que invade todo o espaço mental.

Além disso, não está relacionado a um estímulo específico. Como no caso anterior, também é mais comum em adolescentes do que em crianças, quando sua capacidade cognitiva permite pensar em situações futuras.

Causas da ansiedade infantil

As causas da ansiedade infantil podem ser muito diversas. De forma genérica podemos falar de diferentes tipos:

  • Morte ou doença de um ente querido ou parente: esse fato pode desencadear sentimentos de insegurança, impotência e ansiedade na criança que teme que a situação se repita ou que teme perder os pais.
  • Educação negligente, inconsistente ou superprotetora: os estilos educacionais dos pais também podem influenciar o aparecimento da ansiedade infantil.
  • Experiências traumáticas: esta causa está relacionada com o aparecimento de fobias específicas (por exemplo, quando mordido por um cão). Outras experiências traumáticas também estão ligadas à ansiedade infantil, como um acidente ou roubo.
  • Problemas na escola: sofrer bullying pode desencadear ansiedade e outros sintomas somáticos e fisiológicos na criança.
  • Vulnerabilidade/temperamento: constatou-se que muitos dos transtornos de ansiedade têm base genética, ou seja, haveria pessoas mais vulneráveis a apresentá-los do que outras.

Tratamentos para ansiedade infantil

Segundo o Manual de Psicologia Clínica da Criança e do Adolescente de Caballo et al. (2002), no tratamento da ansiedade infantil há uma série de elementos comuns (técnicas), que são quatro:

  • Psicoeducação da ansiedade.
  • Reestruturação cognitiva.
  • Exposição na imaginação e ao vivo.
  • Relaxamento.

Cada distúrbio exigirá maior peso de um dos elementos do tratamento, além de uma abordagem especializada e personalizada. Estratégias comportamentais são usadas em crianças, enquanto estratégias cognitivas são usadas em adolescentes.

Fobia como uma forma de ansiedade infantil.
As fobias são uma forma de ansiedade infantil e possuem tratamento específico.

Abordagem para cada distúrbio

No TAG, por exemplo, o elemento fundamental do tratamento será a reestruturação cognitiva (RC), através da qual se pretende que a criança modifique seus pensamentos negativos e catastróficos por outros mais funcionais. A a reestruturação cognitiva é muito útil para trabalhar a preocupação excessiva.

Para o TAG também se utiliza o relaxamento, prática reforçada (reforçar o progresso da criança) e resolução de problemas. Outra técnica muito utilizada neste transtorno na infância é o The Coping Cat (‘o gato habilidoso’ segundo seu significado em inglês); um pacote de sessões de técnicas cognitivo-comportamentais.

Por outro lado, nas fobias, utiliza-se a psicoeducação para que pais e filhos entendam como funciona o problema. Também inclui prática de relaxamento e habilidades de enfrentamento, bem como exposição progressiva a estímulos fóbicos.

No tratamento do transtorno do pânico há sempre uma fase educativa. O elemento chave neste tipo de intervenção será a exposição da criança aos sinais internos que ela está tentando evitar. Além disso, é realizado um treinamento de relaxamento através do qual a criança irá gradualmente adquirindo o controle da ativação fisiológica de seu corpo.

O que os manuais não explicam

Na ansiedade infantil, para que a criança aprenda a administrá-la, será essencial que ela primeiro entenda a emoção que a gerou (se não houver emoção, pelo menos que ela entenda a causa). Para isso, é muito útil realizar exercícios nos quais exteriorizem a ansiedade.

Um exemplo disso seria o uso de um desenho: peça para que desenhem uma silhueta na qual apontem onde sentem ansiedade (isso permitirá que entendam as reações fisiológicas como sinais de emoção). Finalmente, ao trabalhar a ansiedade nas crianças, será muito útil ensinar-lhes técnicas de relaxamento através da respiração, atenção plena ou objetos de segurança (uma manta, um bicho de pelúcia, um livro, um amuleto).

Por outro lado, praticar o enfrentamento na imaginação, com brinquedos ou em um desenho, permitirá que eles experimentem sentimentos de habilidade e reforcem sua autoconfiança.



  • American Psychiatric Association (2014). DSM-5. Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales. Madrid: Panamericana.
  • Belloch, A., Sandín, B. y Ramos, F. (2010). Manual de Psicopatología. Volumen I y II. Madrid: McGraw-Hill.
  • Caballo, V. y Simón, M.A. (2002). Manual de Psicología Clínica Infantil y del adolescente. Trastornos generales. Pirámide. Madrid.
  • Colomer-Revuelta, et al. (2004). La salud en la infancia. Gaceta Sanitaria, 18(4).
  • Comeche, M.I. y Vallejo, M.A. (2016). Manual de terapia de conducta en la infancia. Dykinson. Madrid
  • Güerre, M.J. & Ogando, N. (2014). An Pediatr Contin, 12(5): 264-268.

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