O vício em novas tecnologias

O vício em novas tecnologias é um problema frequente, principalmente entre os adolescentes. Quais são as suas causas e sintomas? Como pode ser tratado? Vamos te contar tudo!
O vício em novas tecnologias
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por la psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 06 abril, 2021

Não podemos negar: as novas tecnologias estão nas nossas vidas e provavelmente vieram para ficar. Os seus benefícios são muitos, embora o uso inadequado das novas tecnologias possa levar a consequências negativas, como, por exemplo, comportamentos dependentes. Este é o caso do vício em novas tecnologias.

Assim como em qualquer vício, o seu principal sintoma é uma “necessidade” incontrolável de consumir determinada substância. Nesse caso, as novas tecnologias. A pessoa acaba perdendo o controle em relação a esse comportamento, passando cada vez mais tempo usando os aparelhos eletrônicos.

Vício em novas tecnologias: o que é?

O vício em novas tecnologias geralmente afeta os jovens.
O vício em videogames também se enquadra neste grupo.

O vício em novas tecnologias é definido como uma forte necessidade de continuar interagindo com dispositivos eletrônicos, geralmente dispositivos que permitem o acesso à Internet. Essa interação é realizada por meio de aplicativos para smartphones, computadores, etc.

Dentro dessa condição, encontramos também o vício em videogames, seja por meio de consoles de videogame, internet, jogos de computador, plataformas online, etc.

Além de sentir essa “necessidade” de se conectar à internet, o dependente das novas tecnologias geralmente precisa que os aparelhos utilizados atendam a determinados parâmetros.

Estes parâmetros têm a ver com a diversão ou a possibilidade de uma experiência mais completa em termos de conteúdo, características do dispositivo, etc.

O que mais sabemos?

Um estudo publicado na revista científica BMC Pediatrics, realizado pelo Grupo de Pesquisas Jovens e Tecnologias da Informação e Comunicação (JOITIC), chegou a conclusões interessantes em relação a este problema.

De acordo com o estudo, o tabagismo, o consumo abusivo de álcool, as drogas, o fracasso escolar e os problemas no ambiente familiar estão relacionados ao vício em novas tecnologias. Além disso, o estudo também afirma que o papel da família pode ser fundamental nos esforços para prevenir esse tipo de problema.

Em termos de números, o estudo foi realizado com 5.538 alunos entre 12 e 20 anos, e constatou que 13,6% dos alunos faziam um uso problemático da Internet; 2,4% apresentavam uso problemático de telefones celulares e 6,2% apresentavam alterações no uso de videogames.

Sintomas

Quais são os sintomas apresentados por uma pessoa com vício em novas tecnologias? Além dessa necessidade de estar conectado, os mais frequentes são os seguintes:

Necessidade compulsiva de informação

Um dos sintomas desse vício é uma forte necessidade de estar sempre informado. Os tópicos sobre os quais se deseja manter informado geralmente têm a ver com tudo o que interessa ao círculo mais próximo; em adolescentes, por exemplo, isso pode estar relacionado a novas modas, influencers, youtubers, redes sociais, etc.

Forte dependência

As novas tecnologias, assim como geram vício, também causam dependência (assim como ocorre com as substâncias tóxicas, por exemplo). Dessa forma, surge uma forte dependência desses dispositivos; o que implica que o sujeito “precisa” cada vez mais da “substância” para sentir o mesmo efeito.

Isso significa que, principalmente no início, é preciso passar cada vez mais horas conectado para sentir o mesmo prazer.

Limitação em outras situações

Esse vício implica uma limitação diante de situações fora do contexto das novas tecnologias ou das telas. Dessa forma, a pessoa tem cada vez mais dificuldade para desfrutar de atividades que não sejam relacionadas à tecnologia.

Uma pessoa viciada em novas tecnologias pode ser muito eficiente ao realizar atividades em um dispositivo inteligente, mas muito ineficaz ao realizá-las em outro contexto.

Busca por aparelhos “de última geração”

Outro sintoma do vício em novas tecnologias é a necessidade de que os aparelhos utilizados sejam inovadores, novos ou de última geração. Isso ocorre em pessoas mais dependentes ou que já interagem com esse tipo de aparelho há mais tempo.

São pessoas que estão sempre em busca do “melhor”, do que há de mais moderno em avanços tecnológicos. Isso pode estar relacionado à dependência já explicada, uma vez que a pessoa precisa de produtos cada vez de maior qualidade ou com mais funções para sentir o mesmo que no início do vício.

Isolamento social

O isolamento social é outro dos sintomas característicos desse tipo de vício. Pessoas que estão viciadas neste tipo de dispositivo vão se isolando das outras gradualmente;  elas param de praticar atividades fora deste contexto e passam cada vez mais horas conectados à internet ou aos seus aparelhos. Elas podem perder muitos amigos nesse sentido.

Causas

Por trás do vício em novas tecnologias, o que encontramos na maioria das vezes é alguma carência ou problema emocional que a pessoa tenta “disfarçar” por meio do vício.

Este é um processo quase sempre inconsciente. Quando falamos de problemas emocionais, estamos nos referindo a problemas de todos os tipos: familiares, conjugais, de autoestima, com colegas, etc.

Por outro lado, outra causa desse vício pode ter a ver com uma distorção no sistema de recompensa da pessoa. Isso pode levar a uma alteração no nível orgânico. Além disso, em nível cerebral, esse tipo de comportamento também tem seu impacto.

Quando realizamos uma atividade de forma compulsiva, ou quando adotamos novos hábitos que geram prazer ou satisfação, o nosso cérebro secreta um neurotransmissor conhecido como serotonina. A serotonina, também chamada de “hormônio da felicidade”, é liberada quando estamos eufóricos, felizes ou quando recebemos uma grande dose de prazer.

O vício na experiência/prazer

O que acontece diante do exposto? Essa substância, a serotonina (e muitas outras), também pode “gerar” vício (ou contribuir para o seu aparecimento) no sentido de que, uma vez que sentirmos tanto prazer, procuramos voltar a experimentá-lo repetidas vezes.

Isso também tem muito a ver com a dependência; quanto mais prazer experimentamos ao longo do tempo, mais “precisamos” desse prazer e mais precisamos da substância para experimentá-lo.

Como tratar o vício em novas tecnologias?

O vício em novas tecnologias pode exigir tratamento.
O tratamento psicológico pode ser necessário para lidar com esses problemas.

Do ponto de vista psicológico, um vício desse tipo deve ser abordado trabalhando as causas desse vício. Ou seja, não adianta trabalhar os sintomas do transtorno se a causa que os explica não for tratada.

É por isso que o primeiro passo será saber o que levou a pessoa a desenvolver esse transtorno. Isso não quer dizer que os sintomas não devam ser tratados, pois eles também são importantes.

Assim, em crianças e adolescentes, podem ser utilizadas técnicas de modificação de comportamento, por exemplo, a fim de reduzir o tempo de exposição a esse tipo de dispositivo. Também podem ser usadas estratégias que incluam a negociação, a economia de fichas (sistema de pontos), etc. Porém, sem nunca se esquecer de tratar a parte emocional do transtorno (e seus sintomas).

Técnicas específicas

Algumas das terapias mais eficazes para esse tipo de transtorno são, por um lado, a terapia cognitivo-comportamental e, por outro, a terapia comportamental.

A primeira tem como objetivo trabalhar os pensamentos disfuncionais do paciente. A segunda utiliza, entre outras técnicas, a exposição com prevenção de respostas (EPR). Por meio da EPR, pretende-se que o paciente seja capaz de resistir ao impulso de se conectar, tolerando essa ansiedade até dominá-la.

Também podem ser usadas técnicas de relaxamento e respiração para reduzir os níveis de ansiedade frequentemente experimentados por esse tipo de paciente.

Farmacoterapia

Em nível médico, são usados vários medicamentos para tratar a ansiedade (ou os sintomas depressivos que causam ou resultam do distúrbio). Insistimos que a causa subjacente que explica o transtorno sempre deve ser tratada, mas tratar os seus sintomas também pode ser benéfico para ajudar o paciente a recuperar o controle de sua vida.

Do ponto de vista farmacológico, são usados principalmente ansiolíticos e antidepressivos. Como sempre, buscar ajuda profissional será o primeiro passo para progredir no tratamento desse transtorno.

Um problema comum, porém controlável

Conforme você pôde perceber ao longo do artigo, o vício em tecnologia é complexo e envolve vários aspectos emocionais e comportamentais. Se você ou alguém próximo passar por um problema semelhante, o mais recomendável é consultar um especialista em saúde mental.



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