Insuficiência cardíaca: sintomas, causas e tratamento
O coração é o órgão responsável por bombear oxigênio e nutrientes para todos os tecidos e, por esta razão, as doenças cardiovasculares são uma das principais causas de morte no mundo todo. Dentre essas doenças, destaca-se a insuficiência cardíaca.
A insuficiência cardíaca é uma patologia que ocorre quando o miocárdio ou músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para os tecidos. Isso gera um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio e nutrientes, causando falência em múltiplos órgãos.
Essa condição cardiovascular pode se manifestar em qualquer faixa etária, porém estima-se que a prevalência aumente em idosos. Embora a insuficiência cardíaca não tenha uma cura definitiva, é possível retardar a sua progressão e oferecer uma melhor qualidade de vida às pessoas com esse problema.
Sintomas de insuficiência cardíaca
As manifestações clínicas da insuficiência cardíaca geralmente aparecem gradualmente, como resultado de processos degenerativos do músculo cardíaco. Portanto, a maioria das pessoas costuma notar sintomas limitantes em atividades que não os geravam.
Os sintomas da doença são muito variados e dependem da gravidade da insuficiência. Além disso, eles são um reflexo do dano nas cavidades cardíacas e em nível da árvore brônquica, dentre os quais se destacam os seguintes sintomas:
- Dificuldade respiratória.
- Sensação de cansaço e fraqueza muscular.
- Sintomas de retenção de líquidos.
- Sensação de falta de ar que obriga o paciente a acordar durante a noite.
- Frequência urinária aumentada.
- Ganho de peso repentino.
- Cansaço ao fazer exercícios de intensidade moderada.
- Confusão, náusea e tontura.
Fatores de risco
A apresentação da insuficiência cardíaca está associada a uma variedade de agentes externos e internos que atuam enfraquecendo e lesando os músculos do coração. Do ponto de vista médico, os fatores que aumentam o risco de desenvolver essa condição são divididos em modificáveis e não modificáveis.
Fatores de risco modificáveis
São os fatores associados ao estilo de vida do paciente e às suas patologias subjacentes. Eles podem ser prevenidos, corrigidos e tratados, tudo a fim de reduzir o risco de sofrer dessa condição cardiovascular. Entre esses fatores de risco estão os seguintes:
- Colesterol alto.
- Obesidade e estilo de vida sedentário.
- Diabetes não controlado.
- Hipertensão não controlada.
- Estresse.
- Consumo de tabaco ou cigarros.
- Consumo excessivo de álcool.
Fatores de risco não modificáveis
Esses são um pequeno grupo de fatores associados à genética e à hereditariedade de cada indivíduo. Estes não podem ser corrigidos, mas podem ser considerados para prevenir o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Dentro deste grupo estão os seguintes:
- Ter mais de 55 anos.
- Ser homem ou mulher na pós-menopausa.
- Ter um parente próximo que teve doença coronariana ou acidente vascular cerebral antes dos 55 anos para os homens ou dos 65 anos para as mulheres.
Causas da insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca geralmente é o resultado de patologias subjacentes que enfraquecem os músculos do coração e de fatores de risco não controlados. O produto final é um coração rígido ou dilatado que perde a capacidade de se contrair adequadamente e, por consequência, de bombear sangue suficiente para a corrente sanguínea.
As doenças que podem afetar a função de bombeamento do coração incluem as seguintes:
- Cardiopatia isquêmica: é a causa mais comum de insuficiência cardíaca, com prevalência de 50 a 65%. É causada por uma alteração no fluxo sanguíneo das artérias coronárias responsáveis por alimentar o coração. Isso pode surgir como resultado de uma obstrução parcial ou total do fluxo.
- Pressão alta: essa condição aumenta a força que o coração deve exercer para bombear sangue suficiente para os tecidos e, com o tempo, o coração pode ficar rígido ou muito fraco, causando a insuficiência cardíaca.
- Miocardiopatias: são um grupo variado de alterações próprias da musculatura cardíaca, decorrentes de doenças subjacentes como diabetes e hipertensão arterial.
- Valvulopatia: ocorre quando as válvulas cardíacas não funcionam corretamente. Isso significa que o músculo cardíaco deve aumentar a sua função de bombeamento para compensar essa alteração.
- Arritmias: são condições próprias da condutividade elétrica do coração. Geram distúrbios no ritmo e na frequência das contrações normais do coração.
Por outro lado, existem situações que aumentam as demandas de oxigênio por parte dos tecidos na presença de um coração saudável e que desencadeiam a insuficiência cardíaca. Entre elas, destacam-se a anemia, o hipertireoidismo e as infecções generalizadas.
Diagnóstico
A avaliação clínica e abrangente por um médico especialista é fundamental no diagnóstico da insuficiência cardíaca. Para isso, deve ser obtido um histórico médico completo, detalhando os sintomas suspeitos, os fatores de risco associados e a história cardiovascular e sistêmica do paciente.
O exame físico permite ao médico identificar sinais indicativos de insuficiência cardíaca. Entre eles, destacam-se o inchaço das pernas e pés, as alterações no pulso e na frequência cardíaca, a distensão dos vasos do pescoço e sopros cardíacos anormais.
Da mesma forma, o especialista pode contar com diversos métodos complementares que permitem confirmar o diagnóstico, entre os quais podemos encontrar os seguintes:
- Radiografia de tórax: por meio deste exame, o médico pode reconhecer padrões cardiopulmonares típicos que apontam para uma insuficiência cardíaca. Entre eles está o alargamento da silhueta do coração e a presença de líquido na cavidade pleural.
- Eletrocardiograma: permite registrar e medir a atividade elétrica do coração. A presença de um eletrocardiograma anormal facilita a identificação de patologias cardiovasculares que podem estar causando a insuficiência cardíaca e os seus sintomas.
- Ecocardiografia: é um exame bastante eficaz que oferece imagens ao vivo de toda a estrutura do coração. Isso permite que o médico avalie o funcionamento do coração, confirme o diagnóstico de dano cardíaco e até mesmo determine a gravidade do dano.
- Exames de sangue: em pacientes com insuficiência cardíaca, os peptídeos natriuréticos geralmente ficam aumentados. Portanto, a sua determinação favorece a confirmação da patologia e o descarte de outros eventos cardíacos semelhantes.
Tratamento da insuficiência cardíaca
O tratamento dessa patologia tem como objetivo reduzir os sintomas apresentados, melhorando assim o estado hemodinâmico e a qualidade de vida do paciente. Atualmente, existem várias formas de tratamento que serão indicadas pelo especialista de acordo com o tipo e grau de acometimento.
Mudanças no estilo de vida
O paciente com insuficiência cardíaca precisará fazer grandes mudanças no seu estilo de vida. Para isso, é necessário introduzir hábitos e dietas saudáveis, controlando e descartando qualquer fator que possa ser prejudicial e complicar a doença. As recomendações incluem o seguinte:
- Diminuição do consumo de sal e açúcares.
- Controle do peso.
- Aumento das atividades físicas.
- Não consumir álcool, drogas ou cigarros.
Medicamentos
Os medicamentos buscam gerar um efeito protetor cardíaco, reduzindo a progressão da doença. Desta forma, haverá uma grande melhora nos sintomas e na qualidade de vida do paciente. Alguns medicamentos geralmente indicados são os seguintes:
- Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA): bloqueiam a ação da angiotensina II, um hormônio vasoconstritor, permitindo a dilatação dos vasos sanguíneos e reduzindo a sobrecarga no coração.
- Betabloqueadores: reduzem a pressão arterial e a frequência cardíaca, melhorando a circulação sanguínea.
- Diuréticos: removem o excesso de sódio e fluidos do corpo por meio da urina, reduzindo a sobrecarga no coração.
- Digitálicos: aumentam a força de contração do coração e reduz o acúmulo de líquido nas cavidades. Geralmente são usados em pacientes com condição avançada.
Dispositivos
São pequenos dispositivos eletrônicos que se conectam ao coração e transmitem impulsos elétricos para regular a atividade cardíaca.
- Marca-passo: é um pequeno aparelho de metal implantado sob a pele e conectado ao coração, guiando o ritmo cardíaco.
- Cardioversor desfibrilador implantável (CDI): um dispositivo que identifica alterações no ritmo cardíaco e aplica pequenas descargas elétricas no coração para mantê-lo funcionando.
- Ressincronização cardíaca: é utilizado um dispositivo que gera estímulos elétricos que são transmitidos ao coração e regulam os batimentos cardíacos.
- Modulação da contratilidade cardíaca: é conseguida graças a um equipamento elétrico que envia estímulos elétricos ao músculo cardíaco para melhorar a sua capacidade de contração.
Cirurgias
Procedimentos cirúrgicos que têm como objetivo corrigir anormalidades estruturais e funcionais do coração. Dessa forma, busca-se reduzir a mortalidade dos pacientes com insuficiência cardíaca.
- Revascularização do miocárdio: é considerada o procedimento por excelência para pacientes com doença coronariana. Este método remove qualquer bloqueio no fluxo sanguíneo coronário e melhora a perfusão do músculo cardíaco.
- Substituição de válvula: é utilizada em pacientes com valvulopatias que afetam o funcionamento do bombeamento do coração. Deve ser feita antes que a dilatação e a lesão do músculo cardíaco sejam irreversíveis.
- Transplante de coração: é o tratamento mais utilizado em pacientes menores de 60 anos com insuficiência cardíaca grave que não responde ao tratamento, desde que o paciente não tenha outras patologias subjacentes que coloquem a sua vida em risco.
A prevenção é a chave
Atualmente, a maioria das pessoas subestima os sintomas associados à insuficiência cardíaca, considerando-os como algo passageiro ou temporário. No entanto, a progressão desta doença pode oferecer um prognóstico pior do que o de muitos tipos de câncer.
A detecção e o tratamento precoce dessa patologia são essenciais. Dessa forma, o médico poderá prevenir as complicações que possam estar associadas, oferecer a terapia correta e manter o seu acompanhamento, melhorando assim a qualidade de vida do paciente em grande medida.
- Soler Morejón C, Mesquia de Pedro N. Insuficiencia cardíaca: una causa importante de muerte. Rev cubana med. 2014; 53( 4 ): 359-362.
- Burguez S. Insuficiencia cardíaca aguda. Rev.Urug.Cardiol. 2017; 32( 3 ): 370-389.
- González R, Seguel E, Stockins A, Campos R, Neira L, Alarcón E. Cirugía Coronaria: Revascularización miocárdica sin circulación extracorpórea. Rev Chil Cir. 2009; 61( 6 ): 578-581.
- Rodríguez-Artalejo F, Banegas Banegas J, Guallar-Castillón P. Epidemiología de la insuficiencia cardíaca. Revista Española de Cardiología. 2004;57(2):163-170.
- Sayago-Silva I, García-López F, Segovia-Cubero J. Epidemiología de la insuficiencia cardiaca en España en los últimos 20 años. Revista Española de Cardiología. 2013;66(8):649-656.
- Ponikowski P, Jankowska E. Patogenia y presentación clínica de la insuficiencia cardiaca aguda. Revista Española de Cardiología. 2015;68(4):331-337.