Glaucoma: sintomas, causas e tratamentos
O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo todo e representa um sério problema de saúde pública. A prevalência atual é de cerca de 60 milhões de pacientes, dos quais 8,4 milhões estão cegos. Esse número só aumenta a cada ano, por isso se estima que em 2040 haverá cerca de 11,8 milhões de pessoas com glaucoma.
Esses números são de tirar o fôlego, mas as más notícias não terminam por aqui: apesar de receberem o tratamento correto, 10% dos pacientes com glaucoma apresentam alguma perda de visão. Além disso, não há cura para os danos causados por essa condição, pois uma vez que a visão é perdida, ela não pode ser recuperada.
Felizmente, a progressão da doença pode ser detida por meio de uma série de abordagens clínicas. Por isso, é fundamental detectar a doença precocemente; conforme indicado pelo portal Notícias ONU, 90% dos quadros de cegueira causados pelo glaucoma podem ser prevenidos através da detecção e tratamento precoces.
O funcionamento do olho
Antes de entrar totalmente no mundo clínico do glaucoma, achamos interessante estabelecer algumas bases fisiológicas sobre uma das estruturas mais importantes do nosso corpo: os olhos. Cada um deles é definido como um órgão visual que detecta a luz e a converte em impulsos eletroquímicos, cuja função é viajar através do nervo óptico até o cérebro.
O portal MSD Manuals e outras fontes especializadas em oftalmologia nos mostram as partes essenciais do aparelho ocular. Vamos resumi-las brevemente na lista a seguir:
- Órbita: uma cavidade óssea que abriga o globo ocular. Trata-se de uma cavidade formada por 7 ossos convergentes. Tem a função de proteção e suporte, já que sobre essas estruturas ósseas repousam 6 músculos diferentes (os extraoculares) que permitem os movimentos dos olhos.
- Esclera: uma camada de tecido espesso e resistente (a parte branca do olho) que cobre quase toda a superfície do globo ocular.
- Conjuntiva: membrana fina e transparente que protege a esclera e ajuda a lubrificar o olho.
- Córnea: camada transparente e curva localizada à frente da íris e da pupila, cuja função é atuar como barreira protetora e concentrar a luz na retina.
- Pupila: ponto preto localizado no centro do olho.
- Íris: área circular colorida que circunda a pupila. Controla a quantidade de luz que entra no olho.
- Cristalino: fica atrás da íris e muda a forma como a luz é focada na retina.
- Retina: contém células que percebem a luz (fotorreceptores) e os vasos sanguíneos para nutri-las.
Deixamos muitas estruturas de fora, mas este mapa geral da estrutura ocular é mais do que suficiente para entender a patologia em questão.
Em resumo: a luz passa pela córnea, humor aquoso, pupila, cristalino e humor vítreo antes de chegar à retina. Depois de passar por todas essas estruturas, forma-se uma imagem real e invertida na retina, que será transportada pelo nervo óptico até o córtex cerebral. É nele que o estímulo é interpretado.
O que é o glaucoma?
O humor aquoso é um líquido incolor encontrado entre as câmaras anterior e posterior do olho. Sua principal função é a de nutrir e oxigenar as estruturas oculares que não são irrigadas diretamente pelos capilares sanguíneos, como a córnea e o cristalino.
Em uma pessoa saudável, o humor aquoso sai de dentro do olho através da pupila, sendo então absorvido pela corrente sanguínea por meio de um sistema de drenagem. Conforme indicado pelo portal Glaucoma.org, se a drenagem for adequada, a pressão do olho permanece normal: a regulação desse líquido é um processo ativo, contínuo e necessário para a saúde ocular.
O glaucoma e a pressão intraocular
A pressão intraocular (PIO) é o valor que quantifica a pressão exercida pelo humor aquoso no aparelho ocular. Em geral, são considerados como valores normais entre 10 e 20 milímetros de mercúrio. A partir dessa premissa, é essencial entender que a maioria dos tipos de glaucoma ocorre quando o sistema de drenagem fica obstruído e o humor aquoso fica acumulado.
Uma vez que esse líquido fica armazenado entre as câmaras anterior e posterior do olho, ocorre um aumento na pressão intraocular, que pode danificar o nervo óptico de forma permanente. Se o dano for contínuo e não for tratado, ocorre a temida perda de visão.
Embora a pressão intraocular elevada favoreça o aparecimento do glaucoma, ela não é o suficiente para explicá-lo em todos os casos. Muitas pessoas podem ter uma PIO alta e nunca desenvolver o glaucoma. Por outro lado, nem todos os pacientes com glaucoma têm uma PIO elevada. Essa relação é provável, mas não ocorre em todas as pessoas, muito pelo contrário.
Por que isso acontece?
Depois de explorar a patologia em si, o próximo passo sempre é tentar encontrar as causas. O glaucoma é o resultado do dano ao nervo óptico e a sua consequente deterioração. Conforme essa estrutura é afetada, começam a aparecer pontos cegos na visão do paciente, conforme indicado pela Clínica Mayo.
Com base nas possíveis causas do glaucoma, é possível diferenciar variantes distintas da doença. Vamos falar sobre elas nas linhas a seguir.
Glaucoma de ângulo aberto
É a forma mais frequente da patologia, pois representa mais de 90% dos casos. Esta variante do glaucoma se baseia nos seguintes pilares principais:
- É causada pela lenta obstrução dos canais de drenagem descritos acima. O acúmulo de líquido causa um aumento na pressão intraocular (PIO).
- Há um grande ângulo aberto entre a íris e a córnea, por isso o seu nome. Embora o ângulo de drenagem seja adequado, a malha trabecular (rede de tecidos esponjosos situados ao redor da base da córnea) fica parcialmente bloqueada. Portanto, o humor aquoso fica acumulado.
- Desenvolve-se lentamente e é uma condição que permanece ao longo da vida. Ou seja, os seus sintomas aparecem de forma gradativa e prolongada no tempo.
- Apresenta sintomas e efeitos que não são percebidos à primeira vista.
Glaucoma de ângulo fechado
É uma forma muito menos frequente, mas que também acarreta graves problemas de saúde no mundo todo. Sem ir mais longe, a Revista Mexicana de Oftalmología estimou que 5,3 milhões de pessoas ficariam cegas por causa desta variante patológica no ano de 2020.
Nessa doença, os canais de drenagem do humor aquoso ficam bloqueados e, portanto, há um claro ângulo fechado entre a íris e a córnea. Ao contrário do seu irmão silencioso, o glaucoma de ângulo fechado (GAF) surge muito rapidamente, causa sintomas muito perceptíveis e requer atenção médica imediata.
Glaucoma de pressão normal
Desta vez, o nervo óptico é danificado embora a pressão intraocular seja normal. A causa exata ainda não é conhecida, mas há a suspeita de que isso possa ser estar relacionado a uma fraqueza intrínseca do nervo óptico ou a uma falta de irrigação sanguínea nesse nervo.
Glaucoma congênito
No glaucoma congênito, há um defeito de nascença no desenvolvimento do ângulo descrito anteriormente. Como consequência, ocorre o aumento da pressão intraocular e a lesão do nervo óptico durante as primeiras fases da vida do paciente. É considerado raro, pois afeta apenas 1 em cada 30.000 recém-nascidos.
Glaucoma pigmentar
Nesta caso, os grânulos que pigmentam a íris se acumulam no canal de drenagem, impedindo que o humor aquoso seja filtrado corretamente. É o tipo mais comum em adultos jovens, e até 50% das pessoas que sofrem da síndrome de dispersão pigmentar vão desenvolvê-lo, conforme indicado pela Clínica Baviera.
Sintomas
Na maioria dos casos, o glaucoma progride de forma silenciosa até atingir estágios avançados, já que quase todos os pacientes apresentam a variante de ângulo aberto. Aos poucos, o indivíduo perde a visão lateral e aparecem pontos cegos, que frequentemente ocorrem em ambos os olhos.
Nos estágios mais avançados, ocorre um evento conhecido como “visão em túnel”. Essa manifestação clínica recebe esse nome porque o paciente perde a visão lateral e a extensão do seu campo visual e, dessa forma, passa a perceber as imagens como se estivesse dentro de um túnel.
Nas variantes menos frequentes do glaucoma (de ângulo fechado), podem aparecer outros sintomas, alguns deles muito graves. Dentre todos os possíveis, destacamos os seguintes:
- Visão turva.
- Dor nos olhos e dor de cabeça.
- Náuseas e vômitos.
- Vermelhidão nos olhos.
- Aparecimento de auréolas ao redor das luzes.
Conforme você pode ver, os sintomas variam de acordo com a variante apresentada pelo paciente. O glaucoma de ângulo fechado se apresenta de forma óbvia e agressiva, enquanto o glaucoma de ângulo aberto progride lentamente e não é percebido, em muitos casos, até que seja tarde demais. No entanto, ambas as variantes causam perda de visão.
Tratamento
A Academia Americana de Oftalmologia (AAO) indica que o glaucoma de ângulo aberto só pode ser detectado, nos estágios iniciais, por meio de um exame oftalmológico abrangente. Não vale nem mesmo medir apenas a pressão intraocular, pois, conforme foi visto, há pacientes que desenvolvem o glaucoma mesmo com a pressão normal.
Conforme já dissemos anteriormente, o dano causado pelo glaucoma não pode ser revertido, mas é possível prevenir a sua progressão a curto e longo prazo. Os meios já citados mostram algumas das alternativas que podem ser seguidas para o combate a esta preocupante patologia:
- Medicamentos: o glaucoma pode ser controlado através do uso de alguns colírios. Eles devem ser usados diariamente pelo resto da vida do paciente, pois são necessários para reduzir a pressão intraocular.
- Cirurgia com raio laser: a trabeculoplastia e a iridotomia são os procedimentos incluídos neste bloco. Em ambos os casos, os lasers são usados para modificar as estruturas envolvidas para que o humor aquoso possa voltar a fluir corretamente.
- Procedimento cirúrgico: é possível implantar dispositivos de drenagem no olho ou criar uma dobra na esclera para que o líquido possa ser drenado. Em alguns casos, a remoção da lente ocular pode ajudar a diminuir a pressão.
Infelizmente, até 50% das pessoas afetadas por essa patologia não sabem que a apresentam e os tratamentos chegam tarde demais. Todas essas abordagens podem retardar a condição e reduzir a pressão intraocular, mas não reverter o dano já presente. Além disso, conforme já dissemos, até 15% dos pacientes pioram ainda que recebam o tratamento adequado.
Uma patologia complexa e comum
Estamos diante de uma entidade clínica muito difícil de tratar, já que esta é a principal causa de cegueira no mundo e até metade das pessoas afetadas não sabe disso. O pior do glaucoma de ângulo aberto não é o dano de curto prazo que é gerado no nervo óptico, mas sim o fato de que ele é gradual e, em muitos casos, imperceptível.
Uma vez que esta é uma doença silenciosa e oculta, recomendamos que todos os leitores adultos procurem um oftalmologista rotineiramente para check-ups e exames apropriados. Consultar um médico a cada 2 anos é um esforço mínimo em comparação com o benefício de diagnosticar o glaucoma precocemente.
- Día Mundial del Glaucoma: OMS reporta 4,5 millones de afectados por la enfermedad, Noticias ONU. Recogido a 6 de marzo en https://news.un.org/es/story/2009/03/1158791#:~:text=Regiones-,D%C3%ADa%20Mundial%20del%20Glaucoma%3A%20OMS%20reporta%204%2C5%20millones,de%20afectados%20por%20la%20enfermedad&text=El%20glaucoma%20es%20la%20segunda,de%20la%20Salud%20(OMS).
- Estructura y función de los ojos, MSDmanuals. Recogido a 6 de marzo en https://www.msdmanuals.com/es-es/hogar/trastornos-oft%C3%A1lmicos/biolog%C3%ADa-de-los-ojos/estructura-y-funci%C3%B3n-de-los-ojos
- ¿Qué es el glaucoma? Glaucoma Research Foundation. Recogido a 6 de marzo en https://www.glaucoma.org/es/que-es-el-glaucoma.php
- Glaucoma, MayoClinic. Recogido a 6 de marzo en https://www.mayoclinic.org/es-es/diseases-conditions/glaucoma/symptoms-causes/syc-20372839
- Castañeda-Díez, R., Mayorquín-Ruiz, M., & Jiménez-Román, J. (2007). Glaucoma de ángulo cerrado. Perspectiva actual. Revista Mexicana de Oftalmología, 81(5), 272-282.
- ¿Qué es el glaucoma pigmentario? Clínica Baviera. Recogido a 6 de marzo en https://www.clinicabaviera.com/blog/salud-visual/glaucoma-pigmentario/#:~:text=Este%20tipo%20de%20glaucoma%20es,pueden%20evolucionar%20hacia%20un%20glaucoma.