Fagofobia ou medo de engolir: sintomas, causas e tratamentos

O que é a fagofobia e que implicações pode ter para a saúde de uma pessoa? Não há muita informação de estudos científicos sobre este transtorno, mas aqui compilamos o que é conhecido sobre ele.
Fagofobia ou medo de engolir: sintomas, causas e tratamentos
Leticia Aguilar Iborra

Escrito e verificado por la psicóloga Leticia Aguilar Iborra.

Última atualização: 20 abril, 2023

A fagofobia ou medo de engolir é um medo intenso e irracional de engasgar. Está relacionada a ingestão de alimentos sólidos, bem como de  líquidos. A apresentação de qualquer estímulo relacionado ao ato de deglutir quase invariavelmente provoca uma resposta de alta ansiedade.

O distúrbio pode se apresentar em qualquer idade. Sendo uma fobia específica, os indivíduos estão cientes do medo irracional de certos estímulos geradores de ansiedade. No entanto, em crianças, o tratamento pode ser um pouco mais difícil.

Características da fagofobia

O medo de engasgar ou fagofobia é caracterizado por ser uma fobia de um tipo específico. Dificilmente apresenta literatura científica, mas alguns estudos confirmam a maior presença na população feminina.

O medo de engasgar é tão intenso que as pessoas podem ficar gravemente desnutridas. Isso se deve às tentativas de controle feitas pelo paciente para evitar certos estímulos temidos.

Assim, se procura evitar a ingestão de alimentos sólidos, substituindo-os por refeições em que quase não haja mastigação. As pessoas com fagofobia também temem a ingestão de remédios e pílulas; portanto, em alguns casos, aumenta o risco de abandonar as prescrições.

Como consequência, pode levar mais tempo para preparar as refeições. A mastigação costuma ser excessiva, restringindo ainda mais a variedade de alimentos e favorecendo outras patologias relacionadas ao estado nutricional.

Criança com fagofobia e medo de comida.
Em crianças, a apresentação do distúrbio é diferente e a abordagem muda com a terapia.

A fagofobia é causada por um evento traumático?

As fobias estão relacionadas a certos eventos traumáticos. Embora alguns casos de fagofobia estejam ligados a um episódio anterior de engasgo, a verdade é que não é a única causa nem esse antecedente está sempre presente.

Por exemplo, na revisão de Taracena e Rada (2006) eles explicam que apenas 39% foram associados a um episódio anterior de engasgo com algum tipo de alimento. Às vezes, a ausência de um episódio de engasgo era substituída pela presença de outro evento traumático. Por exemplo, um dos indivíduos no estudo de revisão desenvolveu fagofobia enquanto estava em um restaurante testemunhando um tiroteio.

É um distúrbio alimentar?

A fagofobia pode ser confundida com distúrbios alimentares. No entanto, nestes existem distorções da imagem corporal. Em outras palavras, a topografia da fagofobia e dos transtornos alimentares costuma ter o mesmo padrão. No entanto, considerando a funcionalidade de cada um deles, pode-se observar o seguinte:

  • Nos transtornos alimentares, como a anorexia nervosa, o padrão de restrição se deve a tentativas de perder peso.
  • Na fagofobia, a restrição alimentar é um método de controle para aliviar a ansiedade do indivíduo devido ao medo de um possível engasgo.

Transtornos comórbidos de fagofobia

Não há dúvida de que a fagofobia está ligada a outros transtornos de ansiedade. No entanto, quase não há especificidade em relação a esse problema.

Os distúrbios comórbidos com a fagofobia variam de sintomas depressivos, transtornos do pânico, transtornos obsessivo-compulsivos, ansiedade de separação, insônia e até transtorno desafiador opositivo. Também está presente em outras patologias físicas. Por exemplo, a restrição de certos alimentos deve ser levada em consideração em patologias como o Alzheimer, sendo causa de desnutrição secundária.

A importância do diagnóstico diferencial

É importante que, antes do diagnóstico de fagofobia, seja excluído algum tipo de patologia orgânica que interfira no ato de engolir. Por exemplo, existem duas situações em que o indivíduo pode ter dificuldade para engolir e são as seguintes:

  • Pessoas com reflexo de vômito hipersensível.
  • Globus: sensação de nó na garganta que pode aparecer como resposta a emoções intensas, mas que não estão ligadas ao medo de engolir.

Como já foi dito, descartar a presença de um transtorno alimentar é essencial, pois sem uma análise funcional adequada pode ser confundido com outros problemas relacionados. A diferenciação com as transtornos de pânico é também necessária.

Diferenças em crianças

Em crianças com fagofobia, geralmente há mais histórias de engasgo ou presença de engasgo em um membro da família. Além disso, a comorbidade de outros transtornos como o pânico é menor na infância.

Em crianças e adolescentes, a possibilidade de remissão completa da fagofobia é muito maior do que na população adulta. Assim, é frequente que o início da terapia psicológica seja suficiente, sem que seja necessário recorrer a medicamentos como complemento.

Tratamento da fagofobia

A abordagem da fagofobia geralmente é canalizada por meio de tratamento psicológico. No entanto, e consoante o caso e o grau de incapacidade que possa ocorrer na vida cotidiana, também se recorre a medicamentos. Em suma, o tratamento cognitivo-comportamental costuma ser o mais utilizado.

Em relação ao uso de medicamentos, os benzodiazepínicos costumam ser os de escolha. Eles podem ser alprazolam, bromazepam e lorazepam. Também é comum o uso de antidepressivos com reconhecida eficácia antipânico, tricíclicos como imipramina ou clomipramina e inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS).

Comprimidos para fagobia.
Às vezes é necessário o uso de medicamentos para o tratamento da fagofobia, em combinação com a abordagem terapêutica.

Tratamento da terapia cognitivo-comportamental

A partir da terapia cognitivo-comportamental, favorece-se a exposição a determinados alimentos, através de exercícios de exposição com prevenção de resposta, desde a imaginação guiada até ensaios comportamentais ao vivo.

Assim, o indivíduo amplia gradativamente o leque de possibilidades na hora de se alimentar. Em suma, o que a terapia cognitivo-comportamental trata é a realização do seguinte:

  • Psicoeducação sobre a fisiologia relacionada ao ato de deglutir.
  • Relaxamento muscular progressivo.
  • Psicoeducação à família sobre padrões de conduta na confecção das refeições. Principalmente se o tratamento for voltado para crianças ou adolescentes.
  • Exercícios de exposição.
  • Exercícios de atenção plena durante as refeições.

Evolução da fagofobia

O tratamento da fagofobia pode ser longo e persistente ao longo do tempo. Especialmente se o uso de psicofarmacologia foi necessário no caso. O tempo que os indivíduos podem levar para alcançar melhorias é variável, com uma média de 6 meses a 1 ano.

Em relação à remissão completa da fagofobia, deve-se levar em consideração a presença de outros transtornos, como transtornos de ansiedade. No entanto, apesar da importância clínica desse distúrbio, quase não existem estudos que se dediquem à sua investigação.



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  • Silva, Vera Garcia da, and Marcelo Papelbaum. “Low weight associated with food phobia: a differential diagnosis with anorexia nervosa.” Jornal Brasileiro de Psiquiatria 58.3 (2009): 205-208.

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