Por que continuamos comendo mesmo estando satisfeitos?
Apesar de muitas vezes estarmos satisfeitos, sentimos a necessidade de continuar comendo. Esse é um fenômeno que, quando ocorre regularmente, pode aumentar o risco de desenvolver obesidade e colocar a saúde em risco. Por isso, vamos explicar quais são as suas causas e o que fazer a respeito.
É preciso entender que a saciedade pode ser causada por vários mecanismos. Alguns deles são hormonais, enquanto outros estão relacionados ao esgotamento da capacidade do estômago por causa da presença de alimentos no seu interior.
Às vezes, ainda sentimos vontade de comer, apesar de estarmos satisfeitos
Às vezes, podem ser ativados os mecanorreceptores do estômago que induzem a supressão do apetite.
No entanto, isso não consegue mitigar a nossa vontade de comer, uma vez que os aromas, sabores ou outras características organolépticas dos alimentos à nossa frente nos convidam a consumir uma maior quantidade. Se negligenciarmos o sinal enviado pelo estômago, podemos acabar com uma indigestão.
É importante distinguir que podemos sentir fome por processos fisiológicos ou por razões emocionais. Algumas pessoas experimentam um aumento do apetite quando submetidas a situações estressantes, como resultado de alterações no equilíbrio hormonal.
Essas pessoas são chamadas de comedores emocionais e é possível que, se pertencemos a esse grupo, vamos continuar a comer mesmo estando satisfeitos.
No entanto, esse fenômeno não está relacionado a uma boa saúde, de forma alguma. Comer em excesso gera sobrepeso, que demonstrou aumentar o risco de desenvolver patologias crônicas e complexas a médio prazo.
Por isso, é necessário garantir o equilíbrio energético na dieta alimentar.
Estratégias para não continuar comendo quando não precisamos
É fundamental educar o organismo para evitar o consumo excessivo de alimentos quando não é mais necessário ingerir calorias e nutrientes. Há diversas técnicas que podem aumentar a saciedade, além de uma simples distensão dos mecanorreceptores estomacais. Vamos comentá-las para que você possa colocá-las em prática.
1. Beber um copo d’água antes das refeições
Continuamos comendo quando estamos satisfeitos, mas ainda temos apetite. Se conseguirmos aumentar a sensação de saciedade, acalmando este apetite, é provável que não tenhamos essa necessidade de continuar com a ingestão. Nesse sentido, foi demonstrada a utilidade de consumir um copo d’água antes das refeições.
De qualquer forma, é necessário que seja água mineral. As bebidas com gás ou açucaradas podem gerar desconforto estomacal, além de serem prejudiciais para a saúde. Elas possuem uma grande quantidade de carboidratos simples e aditivos na sua composição, comprometendo o funcionamento do organismo.
As bebidas açucaradas são arriscadas: aumentam a densidade energética da dieta sem nem sequer nos darmos conta disso.
2. Adicionar mais vegetais
Os alimentos de origem vegetal têm alta concentração de fibras. Graças a essa substância, a sensação de saciedade é estimulada, de acordo com um estudo publicado na revista European Journal of Clinical Nutrition.
A fibra é capaz de aumentar o volume do bolo fecal, retardando assim a absorção de açúcares no intestino.
Graças a este efeito, há duas consequências positivas. Primeiramente, o risco de desenvolver diabetes tipo 2 é reduzido, uma vez que o pâncreas sofre menos estresse já que precisa produzir uma quantidade menor de insulina.
Por outro lado, a manutenção de níveis estáveis de glicose no sangue é um dos principais mecanismos para prolongar a sensação de saciedade. Cabe lembrar que a hipoglicemia estimula o apetite, podendo aumentar a preferência por alimentos com alto teor de açúcar.
3. Evitar distrações enquanto come
Muitas vezes continuamos comendo mesmo estando satisfeitos porque não prestamos atenção suficiente ao ato de comer em si. Se, ao sentar à mesa, diferentes dispositivos digitais estiverem ao seu alcance, é possível que as distrações levem ao consumo de uma quantidade maior de alimentos.
Por este motivo, não é aconselhável comer enquanto assistimos televisão ou navegamos na Internet através do celular. O ideal é sempre estar focado na atividade em questão, no caso, a alimentação.
Infelizmente, os alimentos escolhidos durante uma atividade lúdica que permite a ingestão (por exemplo, assistir a um filme ou assistir a um evento esportivo) geralmente não têm um alto valor nutricional. No entanto, eles têm uma alta palatabilidade e, por isso, promovem a sua ingestão excessiva.
4. Limitar o consumo de ultraprocessados
Os ultraprocessados se destacam pela alta palatabilidade, determinada pelo teor de açúcares simples e gorduras trans. Ambas as substâncias demonstraram ser negativas para a saúde a médio e longo prazo e, portanto, a sua presença na dieta deve ser muito limitada.
No entanto, esse tipo de alimento convida o consumidor a continuar com a ingestão, apesar de não ter muito apetite. Desta forma, o equilíbrio energético é desequilibrado, o que tem um impacto negativo na saúde.
É importante que esses produtos apareçam o mínimo possível na dieta alimentar. Todos os alimentos hiper palatáveis podem estimular a ingestão excessiva, algo que deve ser evitado.
5. Não fazer compras com o estômago vazio
Um dos erros que grande parte da população comete é fazer as compras com fome. Isso aumenta o risco de encher o carrinho com produtos hiper palatáveis com alto teor de açúcar, o que favorece o aparecimento das situações acima.
Recomendamos que você vá ao supermercado de estômago cheio enquanto faz a digestão. Além disso, é importante que você faça uma lista de tudo o que precisa antes de sair de casa.
Quanto menos improviso nesse momento, melhor. Desta forma, você poderá evitar a compra de produtos pouco saudáveis e com alto teor de açúcar, que podem prejudicar a sua saúde a médio prazo.
Outras estratégias para evitar continuar comendo mesmo estando satisfeitos
Além de cuidar dos aspectos dietéticos, é preciso lembrar que outros fatores podem influenciar na sensação de apetite. Um deles é a atividade física. O exercício consegue tornar o mecanismo de saciedade mais eficiente, a partir da regulação do sistema hormonal.
Por outro lado, há evidências que indicam que a prática esportiva é um dos melhores métodos para manter um bom estado de composição corporal. É aconselhável que isso seja feito com freqüência.
Ao mesmo tempo, é vital garantir um bom descanso. De acordo com um estudo publicado na revista Nutrients, dormir pouco ou dormir demais pode aumentar o apetite, além de levar a um metabolismo mais lento e menos eficiente.
Isso resulta em um desequilíbrio no balanço energético, o que favorece o ganho de peso. Por esse motivo, é aconselhável dormir entre 6 e 8 horas por dia, procurando diminuir os níveis de estresse para que as interrupções do sono sejam mínimas.
Se continuarmos comendo mesmo estando satisfeitos, podemos experimentar alguns suplementos
Há certos suplementos que comprovadamente aumentam a saciedade e que, por esse motivo, são úteis se continuarmos comendo mesmo estando satisfeitos regularmente e se tivermos dificuldade para parar. Aqueles com cafeína são os que apresentam os melhores efeitos, visto que essa substância é considerada anorexígena.
De qualquer forma, é preciso ter cuidado com eles. Em altas doses, a cafeína pode se tornar tóxica. Além disso, esta também é uma substância que gera tolerância e, por isso, o corpo vai se acostumando gradativamente com a sua ingestão, o que reduz os seus efeitos.
Nesse caso, será necessário reduzir o consumo por uma ou duas semanas, para retomá-lo posteriormente.
Os concentrados de chá verde também podem ser úteis quando o objetivo é criar uma maior sensação de saciedade. Além disso, eles também têm a capacidade de estimular a oxidação das gorduras, o que se traduz em redução do peso corporal. Desta forma, é possível ter um melhor estado de saúde a médio e longo prazo.
Soluções cirúrgicas
Existem casos patológicos de pessoas que não conseguem controlar o apetite por causa de diversos problemas de regulação hormonal. Para estas situações, foram idealizadas soluções cirúrgicas.
A mais frequente de todas é o balão gástrico, comum em pacientes com obesidade mórbida. Com ele, a capacidade do estômago é reduzida, estimulando assim a supressão do apetite e reduzindo significativamente a ingestão de alimentos.
Também pode ser realizada a redução de estômago. No entanto, essa intervenção não têm um efeito tão positivo, já que esse órgão tem uma certa capacidade elástica. Dessa forma, com o tempo, ele pode retornar ao tamanho original.
Se o problema for hormonal ou de hábitos de vida pouco saudáveis, existe a possibilidade de recaída. Por esse motivo, sempre se recomenda um processo de reeducação complementar.
Se continuarmos comendo mesmo estando satisfeitos, podemos prejudicar a nossa saúde
Conforme você pode ver, não é nada aconselhável continuar comendo mesmo quando estamos satisfeitos. Não há nada de errado quando isso acontece de forma pontual, em uma reunião de família ou em uma festa.
No entanto, se isso acontecer com frequência, o risco de desenvolver obesidade pode aumentar. É preciso lembrar que os bons hábitos alimentares são decisivos para modular o estado de saúde.
Com as dicas que descrevemos, queremos te ajudar a amenizar este problema, especialmente se você for um comedor emocional. Sempre tente se concentrar no próprio ato de comer. Evitar distrações será essencial para consumir a quantidade ideal de alimentos.
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