O que é o hipocampo e quais são as suas funções?
O cérebro continua sendo um grande mistério em muitos aspectos, e é por isso que o desenvolvimento da neurociência ocorre tão rapidamente. O hipocampo, por exemplo, é uma das estruturas cujo estudo revelou muitas funções vitais para o corpo humano.
Ele está localizado no lobo temporal medial e faz parte do sistema límbico (relacionado às emoções, ao armazenamento de informações e à motivação). O hipocampo é uma estrutura muito antiga do ponto de vista evolutivo, que faz parte do arquicórtex.
Além disso, está relacionado ao armazenamento da memória de longo prazo; porém, de que maneira? Quais são as suas outras funções? Existe relação entre o hipocampo, a memória declarativa e a não declarativa? O que acontece se houver uma lesão no hipocampo? Descubra todas as respostas a seguir.
“A memória parece grandiosa pelo que mostra nas lembranças; é muito mais grandiosa pelo que certamente esconde.”
-Niceto Alcalá Zamora-
O sistema límbico: hipocampo e amígdala
Antes de explicar o que é o hipocampo e qual é a sua função, vamos situá-lo em cerebral. O hipocampo é uma estrutura que faz parte do sistema límbico, responsável por regular as respostas fisiológicas diante de determinados estímulos.
Também participa do armazenamento de informações, além de coordenar as respostas autonômicas e endócrinas com os estados emocionais. Do ponto de vista anatômico, inclui a formação hipocampal e a amígdala.
Formação hipocampal e amígdala
Ambas estão localizadas no lobo temporal medial. A amígdala é responsável por avaliar o significado emocional das experiências, bem como coordenar a expressão somática da emoção e do sentimento consciente.
Por sua vez, a formação hipocampal é composta pelo hipocampo, pelo trígono ou fórnice, pelo giro denteado, pelo complexo subicular e pelo córtex entorrinal. Sua principal função é o aprimoramento a longo prazo em processos de memória e aprendizagem.
O que é o hipocampo e quais são as suas funções?
A palavra hipocampo vem do latim hippocampus, que por sua vez vem do grego hippos = cavalo e kampos = o monstro marinho Campe (típico da mitologia grega).
É uma das estruturas mais importantes do cérebro, tanto em humanos quanto em outros mamíferos. Seu nome foi dado por Giulio Cesare Aranzio, um anatomista do século XVI, que o batizou dessa maneira por causa da sua semelhança com o formato de um cavalo-marinho.
Ativação de memórias
O hipocampo é uma área do cérebro relacionada ao armazenamento das memórias de longo prazo; entretanto, a sua relação com elas não é tão simples.
Na verdade, o hipocampo atua como um mediador (ou diretório) para as memórias. A ativação de memórias está associada ao bom funcionamento das redes neurais distribuídas por todo o cérebro.
Assim, não é que o hipocampo “armazene” ou “contenha” memórias, mas sim que essa estrutura atua como um ponto de ativação que permite que as diferentes memórias armazenadas sejam ativadas.
Ou seja, as memórias ficam “distribuídas” por todo o cérebro, mas, quando são ativadas certas estruturas e redes neurais, como o hipocampo, elas são ativadas (ou seja, temos acesso a elas).
“O hipocampo é uma estrutura necessária para a consolidação de memórias declarativas, ou seja, com aquelas memórias com conteúdo episódico sobre nossas experiências ou com conteúdo semântico”.
-Nadel e O’Keefe-
Memória declarativa
Por outro lado, sabemos que o hipocampo está mais relacionado a certos tipos de memória do que a outros. É o caso da memória declarativa ou explícita, aquela encarregada de armazenar memórias e informações que podem ser evocadas de forma consciente (como as memórias da infância e as experiências que vivemos no dia do nosso casamento).
Em contraste, no caso da memória não declarativa (que “contém” memórias de padrões de movimento e habilidades motoras, tais como caminhar ou andar de bicicleta), ela é mais regulada por outras estruturas, como o cerebelo e os gânglios da base.
Percepção de espaço
O hipocampo também intervém na forma como percebemos o espaço (navegação espacial). Isso se refere à maneira como temos em mente um espaço tridimensional através do qual nos movemos. Isso também inclui levar em consideração as referências e volumes do espaço.
Nesse sentido, o estudo do hipocampo em experimentos com camundongos mostrou a existência de neurônios denominados “células de lugar”, que desempenham um papel fundamental na navegação espacial.
Uma lesão no hipocampo
Se houver uma batida forte na cabeça, por exemplo, ou se sofrermos danos cerebrais de qualquer tipo e o hipocampo for danificado, podemos sofrer amnésia anterógrada e retrógrada. Esses tipos de amnésia aparecem na produção e evocação de lembranças relacionadas à memória declarativa; enquanto isso, a memória não declarativa geralmente é preservada.
Assim, uma pessoa com uma lesão grave no hipocampo pode não se lembrar de muitos eventos da sua vida (memória declarativa), mas, por outro lado, pode continuar a aprender habilidades manuais (como dançar, por exemplo), embora depois não se lembre de ter aprendido o processo.
Em resumo, as pessoas com danos no hipocampo podem sofrer diferentes tipos de distúrbios de memória e chegar a perder a capacidade de formar e reter novas memórias.
Doença de Alzheimer e outras condições
Por outro lado, foi demonstrado que a doença de Alzheimer e outras formas de demência afetam e danificam o hipocampo. Isso explicaria, em grande parte, o comprometimento da memória nessas pessoas.
Assim, sabemos que entre os sintomas iniciais do Alzheimer, por exemplo, há a perda de memória de curto prazo e a desorientação. Tudo isso está relacionado ao comprometimento ou ao dano no hipocampo.
Além disso, a lesão nessa estrutura também está relacionada a doenças como epilepsia, esquizofrenia, o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e amnésia global transitória (TGA).
Hipocampo: o “coração” do cérebro?
Uma pesquisa liderada por Lam Woo, professor de Engenharia Biomédica no Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica da Universidade de Hong Kong, chegou à seguinte conclusão: a conectividade do hipocampo integra regiões do cérebro amplamente separadas, que desempenham um papel fundamental no funcionamento cerebral.
Mas o que as descobertas deste estudo indicam? Que o hipocampo poderia ser considerado o “coração” do cérebro, uma vez que integra funções muito diversas e está localizado no “epicentro” cerebral.
A pesquisa demonstrou ainda que as atividades de baixa frequência no hipocampo levam ao aumento da conectividade funcional do cérebro no córtex cerebral.
Uma via terapêutica para melhorar a memória?
Os resultados encontrados por esses pesquisadores sugerem que as atividades de baixa frequência nessa estrutura (típicas do sono profundo) poderiam melhorar a aprendizagem e a memória.
Esses dois processos se instalam no cérebro quando estamos imersos em um sono profundo. Isso pode ser útil em pacientes com Alzheimer ou em pessoas com diferentes patologias relacionadas à memória.
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