O que é o Transtorno Alimentar Não Especificado?
O Transtorno Alimentar Não Especificado (Unspecified Feeding or Eating Disorder, UFED) é uma nova categoria do DSM-V para se referir a transtornos alimentares que não atendem a todos os critérios dos especificados. Seu nome oficial é Transtorno Alimentar Não Especificado e substituiu o Transtorno Alimentar Sem Outra Especificação (Eating Disorders Not Otherwise Specified, EDNOS) no DSM-IV, a edição anterior do manual atual.
Esse termo pretende reunir todos os comportamentos, padrões e distúrbios que não podem ser agrupados nas categorias especificadas. Ou porque os sinais e as consequências são incompletos, ou porque apresentam particularidades que os diferenciam parcialmente. Neste artigo, ensinaremos tudo o que você deve saber sobre esse transtorno alimentar.
Características do Transtorno Alimentar Não Especificado
No DSM-IV havia a categoria de Transtorno Alimentar Sem Outra Especificação (EDNOS). Este foi substituído na nova edição de 2013 por duas novas categorias: Outros Transtornos Alimentares/Da Alimentação (Other Specified Feeding and Eating Disorder, OSFED) e Transtorno Alimentar Não Especificado (UFED).
O primeiro grupo, OSFED, agrupa os transtornos alimentares que não atendem aos critérios diagnósticos típicos para anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno da compulsão alimentar periódica e outros. As seguintes categorias são usadas para descrevê-los:
- Anorexia nervosa atípica.
- Bulimia nervosa atípica (de duração limitada ou baixa frequência).
- Transtorno de purga.
- Síndrome de alimentação noturna.
- Transtorno da compulsão alimentar periódica (de duração limitada ou de baixa frequência).
Os pacientes com esse tipo de transtorno desenvolvem sintomas semelhantes à condição especificada (anorexia, bulimia etc.), mas não respondem totalmente à delimitação clínica que foi feita dessas condições.
Por outro lado, no UFED ou Transtorno Alimentar Não Especificado, coexistem sintomas e paradigmas do transtorno especificado e do OSFED, mas merece uma categoria separada devido às suas características.
Como nos lembra a Associação Nacional de Distúrbios Alimentares (NEDA), o desconforto clínico é acompanhado por deterioração no trabalho, no âmbito social e em outras áreas; sem serem estruturados de tal forma que possam ser agrupados em qualquer um dos casos anteriores. Especialistas usam essa categorização para condições diagnósticas atípicas ou quando não há informações suficientes para delimitar uma entidade mais específica.
Sintomas do Transtorno Alimentar Não Especificado
Como os quadros de Transtorno Alimentar Não Especificado são diferentes entre si e se afastam dos padrões normativos, não há sinais específicos que permitam sua categorização. Determinado caso é agrupado nessa categoria quando não puder ser classificado nos outros transtornos alimentares especificados. Contudo, destacamos alguns sinais que servem de orientação:
- Perda de peso leve ou moderada (não muito longe da faixa normal).
- Padrões de ingestão de alimentos quando não está com fome ou em segredo.
- Comer grandes quantidades de alimentos sem que isso se torne um hábito recorrente.
- Mastigar e expelir alimentos sem engoli-los.
- Sentimentos de culpa após os episódios.
- Baixa autoestima.
- Preocupação com o peso (sem atingir níveis patológicos).
- Padrões de comer alimentos muito rapidamente.
- Menstruação regular (no caso de mulheres).
- Sensação de perda de controle e obsessão.
Especialistas descobriram que alguns casos são indistinguíveis de outros transtornos alimentares em termos de gravidade dos episódios.
Não é uma categoria perfeitamente delimitada, mas pode ser útil como opção diagnóstica quando faltam as informações necessárias para um diagnóstico mais específico. Evidências indicam que, como acontece com outros transtornos alimentares, é mais comum em mulheres.
Causas do Transtorno Alimentar Não Especificado
Causas específicas não são conhecidas. Geralmente considera-se que responde a critérios multifatoriais. Por exemplo, alterações hormonais, presença de distúrbios de saúde mental (ansiedade, depressão, obsessões e outros), fatores sociais, educação e outros mediam o desenvolvimento dessa e de outras alterações no comportamento alimentar.
Pressão social, promoção de estereótipos de beleza e euforia pelo fitness também podem desempenhar um papel na manifestação desses padrões não especificados. Pacientes com baixa autoestima, que se caracterizam por comportamentos impulsivos ou que sofreram traumas no passado também se enquadram no perfil de muitos casos.
Alternativas de tratamento
Por se tratar de uma condição muito irregular e que não foi completamente delimitada, geralmente opta-se por seguir um tratamento para transtornos alimentares específicos. O plano será elaborado levando em consideração as características do episódio, a natureza do paciente e os recursos disponíveis. A terapia é realizada por diferentes profissionais, por isso não é abordada apenas por um especialista.
Por exemplo, o apoio de um nutricionista é fundamental para orientar padrões de consumo saudáveis de acordo com idade, peso, altura e necessidades calóricas.
Um psicólogo pode contribuir para o controle de comportamentos compulsivos, bem como trabalhar a autoestima e na busca de possíveis gatilhos. A terapia cognitivo-comportamental geralmente mostra resultados promissores.
É provável que exames médicos adicionais também sejam necessários para avaliar o impacto potencial dos padrões alimentares na saúde geral. Nesse ponto, outros especialistas podem mediar para determinar a extensão do distúrbio. O roteiro é sempre escolhido de forma personalizada e levando em consideração todas as variáveis que afetam o processo.
Não há dados oficiais ou aproximados, mas acredita-se que cerca de 3% da população mundial apresente sintomas que podem ser agrupados em Transtorno Alimentar Não Especificado.
É mais comum em mulheres jovens e pode começar no início da adolescência. Como as complicações a médio e longo prazo são as mesmas dos transtornos especificados, é aconselhável estar atento aos sintomas para procurar assistência médica ou psicológica.
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