O que é dissociação?

Há momentos em que podemos enfrentar situações horríveis e emoções angustiantes. Quando a intensidade do que experimentamos é extraordinária, podem ocorrer distúrbios dissociativos. Explicamos o que eles são.
O que é dissociação?
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por el psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 01 abril, 2023

O que é dissociação? É tanto um processo quanto um mecanismo de enfrentamento diante de eventos altamente estressantes. Todos nós temos a capacidade e o potencial de dissociar. Quando eventos altamente aversivos, dolorosos, tristes e traumáticos nos afetam, podemos responder a eles desconectando-nos tanto do evento quanto de nós mesmos.

Dissociar implica romper. A dissociação resulta em separação e, às vezes, perda das funções integrativas de identidade, memória, percepção, personalidade, comportamento, funções motoras, pensamento e consciência.

A dissociação dissolve a cola que une as diferentes partes que compõem o nosso “eu”.

A dissociação é normal ou patológica?

Para o professor de psicopatologia Amparo Belloch, os transtornos dissociativos “não são necessariamente fenômenos patológicos”.

A dissociação normativa refere-se a experiências dissociativas que são vivenciadas de forma integrada e que atuam amortecendo o impacto de eventos estressantes da vida, exercendo um papel protetor na psique da pessoa e facilitando a sobrevivência.

Em contraste, a dissociação torna-se um problema de saúde mental quando os episódios duram muito ou interferem seriamente na saúde da pessoa, afetando suas áreas importantes: social, profissional, acadêmica ou interpessoal.

As pessoas com dissociação experimentam uma sensação de desconexão experiencial de si mesmas ou do ambiente.

– Sardenha –

Quando devemos suspeitar de sintomas dissociativos?

A dissociação é rara
Manter uma atitude de observação diante de comportamentos estranhos é importante para determinar casos de dissociação.

Para autores relevantes na área, como Temple, devemos nos atentar para alguns sinais e sintomas que podem estar nos alertando para um problema de saúde mental mais grave. Em particular, é necessário explorar se a pessoa:

  • Apresenta amnésia total ou parcial sobre suas memórias biográficas na infância ou adolescência.
  • Ele apresenta vários diagnósticos psiquiátricos diferentes ao longo do tempo e o perfil de sintomas é diferente.
  • Episódios de amnésia ocorrem antes de conversas recentes e eventos da vida diária.
  • Automutilação, como cortes, contusões ou contusões, aparecem.
  • A pessoa apresenta comportamentos de risco como sair de casa sem justa causa.
  • Os transtornos de personalidade aparecem na vida adulta após um funcionamento normal anterior.

Além disso, as pessoas com transtornos dissociativos são propensas a experimentar mais entidades clínicas, como depressão, transtornos de personalidade, uso patológico de substâncias ou comportamento autodestrutivo.

A dissociação implica a incapacidade de acessar informações autobiográficas relevantes, bem como de controlar atos mentais.

– Sardenha –

Quais distúrbios se enquadram no rótulo de distúrbios dissociativos?

A clínica dissociativa pode ser observada em 3 de cada 10 pacientes psiquiátricos. Dada a alta prevalência de sintomas dissociativos nos centros de saúde mental, é conveniente diferenciar as várias entidades que estão incluídas no amplo guarda-chuva dos transtornos dissociativos. Para tal procederemos à sua descrição.

amnésia dissociativa

Para a Associação Americana de Psiquiatria (APA), a amnésia dissociativa é caracterizada pela incapacidade do indivíduo de recordar informações autobiográficas significativas, geralmente de natureza traumática ou estressante.

Na maioria das vezes, a amnésia dissociativa ocorre seletivamente e antes de um determinado evento. Em contraste, a amnésia generalizada cobre toda a identidade e história de vida da pessoa. Entre os sintomas podemos encontrar os seguintes:

  • Problemas emocionais, como sintomas depressivos ou ansiedade.
  • Aspectos comportamentais como incapacidade de verbalizar experiências pessoais, problemas no trabalho, tentativas de suicídio ou comportamento agressivo.
  • Alterações fisiológicas como ausência de dor (analgesia) ou disfunção sexual.

Além disso, pessoas com amnésia seletiva podem apresentar comportamentos de regressão cronológica. Ou seja, podem agir como se fossem de uma idade mais jovem, assim como um número maior de estados de transe.

Transtorno dissociativo de identidade ou personalidade múltipla

Para o APA, esse transtorno implica uma alteração de identidade caracterizada pela existência de dois ou mais estados de personalidade bem definidos. Essa perturbação implica uma descontinuidade significativa do senso de identidade, bem como do senso de identidade.

É comum a alternância de alterações afetivas, comportamentais, da consciência, da memória, da percepção, do conhecimento ou do funcionamento sensório-motor. Além disso, essas alterações podem ser facilmente observadas por outras pessoas ou mesmo expressas pelo próprio indivíduo.

Pode ser detectada pela existência de lacunas abundantes e recorrentes na memória de acontecimentos cotidianos e informações pessoais relevantes. Por trás dessa entidade clínica é comum encontrar eventos traumáticos como o abuso sexual na infância. Entre os sintomas podemos encontrar os seguintes:

  • Aspectos emocionais como uma personalidade deprimida com sentimentos de culpa e outra personalidade hostil e dominante.
  • Dentre os aspectos comportamentais, destaca-se o controle que uma personalidade (com vocabulário e gênero próprios) exerce sobre as demais, muitas vezes de forma agressiva e impulsiva.
  • Os aspectos fisiológicos incluem sintomas de conversão e variações na tolerância à dor.

O transtorno de personalidade múltipla pode ser descrito em algumas culturas como uma experiência de possessão.

-APA-

Transtorno de despersonalização – desrealização

dissociação em mulheres
Lidar com episódios de dissociação é especialmente difícil, pois pode acontecer que muitas pessoas do ambiente não tenham ferramentas para oferecer suporte.

Neste distúrbio, a pessoa sofre experiências constantes de vários tipos:

  • Despersonalização, ou seja, vivências de irrealidade e distanciamento em relação ao corpo. Isso implica a percepção de se tornar um observador externo em relação aos próprios sentimentos, sensações, corpo ou ações.
  • Desrealização, ou seja, experiências de irrealidade e distância relacionadas ao tempo. Por exemplo, pessoas ou alvos podem ser experimentados como irreais, como um sonho, nebulosos, sem vida ou visualmente distorcidos.

Além disso, existe uma forma extrema de despersonalização chamada “experiência fora do corpo”, na qual o sentido do eu aparece dividido e dissociado, com uma parte observando e a outra participando. Relativamente aos sintomas desta entidade clínica, destacam-se os seguintes:

  • Aspectos emocionais como o medo de que suas experiências sejam levadas à loucura. Ansiedade, ruminação e preocupações somáticas também podem ocorrer.
  • Aspectos comportamentais como a intensa deterioração do funcionamento ou a dificuldade de descrever verbalmente seus sintomas que levam a um comportamento mecânico, como um robô.
  • Os aspectos fisiológicos mais notáveis são as macropsias (alucinações nas quais são vistos objetos maiores) e as micropsias (alucinações nas quais os objetos são vistos menores do que seu tamanho real).

Foi levantada a hipótese de que existem vários substratos neuronais envolvidos nesse distúrbio, como o lobo parietal inferior e o circuito pré-frontal-límbico.

Em conclusão, os transtornos dissociativos são entidades clínicas complexas e frequentemente associadas a traumas. Quando, como indivíduos, somos incapazes de processar o horror de certas experiências, o cérebro lida com elas através de compartimentos que estão trancados nas profundezas da mente.

Aqui aguarda o momento em que as molas falham, os compartimentos estanques se abrem e a enxurrada de memórias leva a problemas de saúde mental extraordinariamente graves e profundos.



  • American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition, Text Revision (Dsm-5-Tr(tm)) (5.a ed.). American Psychiatric Association Publishing.
  • Belloch, A. (2022). Manual de psicopatología, vol II.
  • Rodríguez Vega, B., Fernández Liria, A., & Bayón Pérez, C. (2005). Trauma, disociación y somatización. Anuario de Psicologia Clinica y de la Salud/Annuary of Clinical and Health Psychology, 1, 27-38.
  • Aguilar, D. P. M. (2018). Desafíos en psicoterapia: trauma complejo, apego y disociación. Avances en Psicología, 26(2), 135-144.

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